A história de Marcus Felipe, usuário do Implante Coclear há uma década

A gente fala do Implante Coclear como se fosse uma tecnologia recente. Bom, se for comparado com… sei lá, carro… realmente é novidade. Mas, os primeiros estudos foram feitos na década de 70. Ficou em fase experimental na década de 80. Nos anos 90, começo a ser feito e larga escala nos países desenvolvidos. E chegou aos SUS em 1999 aqui no Brasil. Por isso, tem gente usando o IC há mais de uma década, sabia?

Dado o fato que pouca gente sabe disso, resolvi trazer ao DNO uma entrevista com um amigo, Marcus Felipe, que usa o IC há 11 anos! Espero que gostem!

Foto de um homem jovem com um crachá no pescoço, sentado em frente a um computador em ambiente de trabalho, olhando para frente e sorrindo.
1. Você é surdo de nascença ou adquirido? Sabe a causa? Qual o grau da sua perda?

Sou surdo de nascença, tenho genes recessivos da surdez. Tenho perda de 106 dB no ouvido esquerdo, no ouvido direito não sei quanto é minha perda. Minha surdez foi aumentando com o passar dos anos, pois ela é progressiva.

 

2. Você usou AASI antes do IC? Qual modelo? Dos dois ouvidos? Gostava deles? Ouvia bem com eles?

Sim, uso o AASI desde os 4 anos de idade. Eu usava somente no lado esquerdo. No lado direito eu não ouvia nada. Naquela época minha perda auditiva no ouvido esquerdo era moderada, aos 14 anos ela passou a ser profunda.

 

3. Fez fonoterapia?

Sim, quando criança.

 

4. Como soube do Implante Coclear?

O meu otorrino me indicou.

 

5. Você foi operado em 2000, né? Onde? Como era o IC naquela época? Tinha muita diferença a cirurgia daquela época com a cirurgia atual?

Sim, fui operado em Agosto de 2000 no HC-USP por um aluno do Ricardo Bento, creio que o nome dele era Fernando. Fui a 19° pessoa a colocar o IC no HC-USP. O IC naquela época tinha somente 22 eletrodos e era de caixinha. A cirurgia era mais “grosseira”, tinha que fazer um corte grande na cabeça. Estou com uma cicatriz grande na forma de “C” que fica visível quando eu raspo a cabeça. Fiquei cerca de 3 dias no hospital.

 

6. Quanto tempo depois de operado você foi ativado? Com qual aparelho?

Fui ativado cerca de 40 dias depois. Meu implante era o Nucleus Spectra 22.

 

7. Como foi a ativação? Você gostou ou achou ruim?

Não gostei da ativação, fiquei muito decepcionado. O som era muito irritante, muito metálico, incomodava muito.

 

8. Quantos mapeamentos precisou fazer para realmente ficar satisfeito com a cirurgia?

Cerca de 1 ano depois eu já estava ouvindo melhor.

 

9. Como foram os primeiros meses de ativado? Quais foram as mudanças na sua vida?

Nos primeiros meses de ativado eu tinha muita vergonha de usar o IC. Eu não usava muito. Me sentia um ET, me sentia a única pessoa a usar o aparelho. Só ia com o IC para a rua se eu usasse um boné para tapar a anteninha e o microfone. Mas, eu fui notando uma melhora na audição.

 

10. Você acha que o IC fez diferença? Precisou abrir mão de alguma coisa ou faz tudo que tem vontade?

O IC faz uma enorme diferença! É muito melhor que o AASI! Hoje eu consigo falar ao telefone e ouvir música. Faço as coisas que eu gosto, faço trilhas, vou à praia, vou à sauna, luto Jiu-Jitsu (o IC fica guardado, é lógico). Fiz cursos de Inglês, Espanhol e Francês. A única coisa com que tenho que me preocupar é com os campos magnéticos fortes.

 

Foto do Marcus visto de perfil, com a parte externa do implante coclear aparecendo. Uma parte do aparelho fica atrás da orelha, ligada por um fio (chamado de antena) até outra parte que fica colada no crânio, por meio de imã.

Marcus, já com o Freedom.

11. Você mudou de aparelho recentemente, né? Gostou do Freedom? Notou muita diferença?

Sim, troquei o Nucleus Spectra 22 pelo Freedom 22 em outubro de 2010. O Freedom realmente é muito melhor que o Spectra 22! Sem contar que me livrei daquele fio incômodo que ia do microfone até a caixinha!

 

12. Na época, havia pouco debate a respeito. O FIC também completa 10 anos, não? Você foi um dos fundadores do Forum?

Realmente o IC era muito desconhecido. Ter que lidar com o IC sem conhecer alguém que também usasse era muito complicado. Não fui um dos fundadores do FIC, eu fiquei sabendo do FIC por meio de alguma divulgação. Hoje eu tenho muitos amigos que também usam o IC e a gente se ajuda bastante. Estou sempre trazendo outros usuários para as comunidades de implante coclear, organizando encontros de implantados com a ajuda de meus amigos.

 

13. Fique a vontade para falar das suas próprias considerações e conquistas como cyberouvinte…

O IC realmente mudou minha vida para melhor!!! Ele me deu muita segurança para lidar com os meus desafios do dia-a-dia de forma independente! Sem contar que cada som que eu ouço é como uma música!

 

Beijinhos sonoros,

Lak

 

16 Resultados

  1. Marcelo disse:

    Curti a entrevista.
    Marcus pelo jeito foi um dos primeiros implantados do Brasil, e como já conversei pessoalmente com ele, vi que o resultado do IC é maravilhoso, (cada caso é um caso…)
    Parabéns Lak!
    Beijos!

  2. Deni disse:

    Show esse menino! Agora lembrei porque não queria nem saber do IC quando ele apareceu por aqui na época, a tal da caixinha… hehehe…
    Mas parabéns ao Marcus Felipe por ter tido a coragem de ter sido uma das “cobaias” aqui no Brasil (no bom sentido).

    Bjos e um bom dia!

    • Avatar photo laklobato disse:

      Pois é, né? Temos que ser gratos a ele e às outras ‘cobaias’ hahahaha
      Verdade que a caixinha era desanimadora. Mas só não fiz nessa época, pq falaram que não era pro meu caso…Snif snif

  3. Valéria Lima disse:

    Oi Lak!! Sou surda e candidata ao IC….mas gostaria saber se podemos mergulhar, nadar e etc..??
    Aguardo ansiosa a sua resposta.
    bjos sonoros… 😯

    • Avatar photo laklobato disse:

      Sim, Valéria. O IC é formado por duas partes. Uma interna, totalmente interna sem qualquer abertura. E uma externa, removivel. A parte externa não é à prova d’água, mas ela sai sempre que você quiser tirar (inclusive, a gente tira pra dormir). Tomar banho, lavar cabelo, nadar na piscina, no mar, tomar banho de cachoeira. Água quente, água fria, tudo é permitido.
      A única restrição é que mergulho autônomo (com cilindro) só é permitido até 25m de profundidade, para a pressão não prejudicar a parte interna.
      De resto, o IC é feito para abrir possibilidades na sua vida, não fechá-las.
      Boa sorte com o IC.
      Beijos

  4. Mariana disse:

    O que acho fantástico é que ele assiste aos filmes brasileiros sem precisar de legenda! Eita menino danado… 🙂

  5. Maíra disse:

    Para mudar a tecnologia, ele teve que fazer outra cirurgia?
    beijinhos

  6. Marcus disse:

    Ah pessoal, só um palpite: respondendo à pergunta de uma amiga minha, eu tiro o IC para entrar na sauna, ok? rsrsrss 😎

  7. Luciane disse:

    Puxa! Muito bom ver o Marcus!
    A minha dúvida é: (talvez ele possa me responder) -quando fazer o IC numa criança, quando a perda é progressiva? Meu filho usa AASI. Começou com perda severa, é oralizado, faz fono, está em escola regular e ja aprendeu a ler com 6 anos. Mas a perda já é profunda agora. Não consegue participar de uma conversa entre mais de uma pessoa e não escutar a TV.

  8. Rodrigo Nunes disse:

    Show de bola a entrevista, Lak, e parabéns ao Marcus.
    Cada dia que passa, cada dia que leio a respeito do assunto, vou amadurecendo a idéia de lutar por um IC.

    Grande abraço!
    Rodrigo

Participe da conversa! Comente abaixo:

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.