Alô? Liga pra mim…

telefoneSou uma pessoa otimista, como tento demonstrar aqui no blog. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, ser otimista não significa não ter problemas ou fingir que eles não existem. Significa seguir a filosofia proposta  por Fernando Pessoa, no poema Mar Português, nestes seguintes versos:
“Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”

Enfim, a maior dificuldade que eu tenho, por ser deficiente auditiva, é não poder falar ao telefone. Hoje em dia, não chega a ser realmente um problemão, porque muita coisa pode ser resolvida por email e MSN. E, o que não dá, pode ser resolvida por SMS. Sempre sobra dúzia e meia de coisas que requer intérprete para uma ligação, mas nada que realmente me estresse. Até porque geralmente são coisas burocráticas que eu peço de muito bom grado, pro Edu (o marido) resolver pra mim.

Acontece que essa facilidade toda é algo recente, já que perdi a audição em 1987 e, naquela época, boa parte de nós nem sonhava com internet e muito menos, com essa tal de conversação em tempo real.

Nos meus tempos idos de adolescência, essa parte era um pouco complicada sim, admito. Imagine conhecer um cara bonitinho na escola, ele me dar o telefone e… Eu ter que pedir pra outra pessoa ligar por mim?
Isso realmente me aconteceu. Na primeira vez que eu me apaixonei, aos 13 anos, o menino que eu gostava morava muito longe da minha casa. Mas eu era muito tímida e não tinha coragem de avançar o sinal (que, nesse caso, significa simplesmente dizer que queria namorá-lo sim) então, pedi pra minha irmã ligar pra ele. Ela, por sua vez, ficou 2  horas  falando com ele, sobre todos os assuntos do mundo, menos sobre mim e desligou me contando que ele disse que não gostava de mim (porque ele era uma besta quadrada e não quis falar dos seus sentimentos para minha irmã). Fiquei mal pra caramba e, por conta desse tipo de coisa, raramente pedia pra ela ligar por mim pra quem quer que fosse. Até porque não foi a única vez que ela me aprontou uma dessas. Quando, ano e meio  depois, eu namorei de fato, pela primeira vez, sempre que meu namoradinho ligava pra casa, ela inventava de dar sermão nele, por conta de coisas que sequer me incomodavam.

A solução era pedir pra minha mãe fazer as vezes de intérprete pra mim. Normalmente, funcionava, porque minha mãe realmente fazia essa função e traduzia as coisas que a pessoa dizia/que eu queria dizer. Mas, se tratando de namoro, sempre achei muito chato depender de mãe. Tem coisas que a gente não quer a mãe participando, sabe?

pagerMeu primeiro namoro sério, já foi na época da internet. Falava com meu namorado por pager. Ele tinha o dele, eu tinha o meu. A gente acessava o site da operadora e mandava os próprios recados. Isso foi uma mão na roda, pra quem não podia simplesmente pegar o telefone e ligar. Além disso, as conversas mais longas eram por ICQ. Só complicava quando um de nós viajava e não havia computadores por perto.

Quando, mais tarde, instalaram o SMS nos celulares, aí sim, eu senti paz de espírito pra namorar em paz e finalmente não precisava depender de mais ninguém pra nada.

Tá vendo porque eu sou otimista?

Beijinhos,

Lak

p.s. ainda tem coisas que precisam ser resolvidas por telefone. Especialmente as burocráticas, tipo com banco. Resolvi isso tendo todas as minhas contas conjuntas com o Edu, mas tenho amigos surdos que reclamam dessa complicação. Principalmente quando o banco exige falar com o próprio correntista. Neste caso, a gente costuma recorrer a 2 soluções:
1. a mais prática e óbvia: pedir pra alguém  do mesmo sexo se passar por nós. Requer ter todos os documentos e informações que o banco costuma pedir à mão.
2. a solução que eu costumava usar, antes das contas conjuntas: dois aparelhos de telefone, um deles sem fio; eu em um, a outra pessoa no outro, ambos  de frente um pro outro. Aviso o banco que a voz é minha e que tem outra pessoa na linha traduzindo o que o atendente diz. Essa é mais complicada, porque nem sempre se tem 2 aparelhos disponíveis. Mas nunca rolou do atendente se recusar por conta disso. Hehehe

20 Resultados

  1. Bia disse:

    Que bom que existem tantas coisas que facilitam né?

    Beijo!

  2. Leila disse:

    Ai que nostalgia! O velho pager e o ICQ… Foram uma salvação pra mim hehe…
    Eu recebia letras de música apaixonates de um carinha e acabei ficando apaixonada hahaha…
    Pô, esse negócio dos carinhas: “me dá seu telefone?” era bem complicado mesmo… Eu pedia pra irem no meu portão hihihi…
    Realmente, com algumas coisas burrocráticas eu peço pra alguém ligar ou eu mesma compareço no local.

    Ah, ótimo texto. Quando vc conta sua história, conta um pouco da minha tb.

    Beijão.

  3. Juca disse:

    ahhhhhhhh… meu pc deu pau!!! (tô numa lan 😐 )… mil coisas pra fazer e justo agora que inventa de bichar, fala sério!!!… (eu SEMPRE me pergunto pq não nasci índio pra viver no meio do mato e nem precisar querer mandar a Matrix à merda!!! 😥 )

    dizem que ter irmão é meio complicado às vezes… eu queria saber o que é isso, Lak… sou filho único! (eu sei, eu sei… isso explica muita coisa! 😐 )… sempre falo pra todos: “ou bem não tenham filhos ou tenham pelo menos dois!” 😐

    outros beijos! (big post! 😉 )

    • Avatar photo laklobato disse:

      Nada, minha irmã foi importante pra me ensinar duas coisas: 1. que não sou uma coitada, portanto, não devo me comportar como tal, afinal, nem todo mundo tem pena de você (até porque o coitadista começa a se aproveitar dos outros alguma hora). 2. a saber como o mundo real é: tem gente que se faz de legal, quando na verdade, apronta pelas costas.
      Sou muitissimo grata a ela por ter me ensinado isso. Porque afinal de contas, ela só tinha 14 anos e não me causou nenhum problema grave e ainda me deu aquele pontapé necessário pra eu ir a à luta.
      Amo muito minha irmã, viu? Como diz minha mãe: Amar significa ensinar o que o outro não quer aprender, mas fazê-lo com carinho.
      Eu, pelo menos, sou muito grata por ter minha irmã.
      Beijos e melhoras pro computador.

  4. Nossa Lakinha eu que ficava hooooooooooooras no telefone sinto uma falta danada!!! Mas fazer o que né? kkkk aqui nos EUA uma vez tiveram o disparate de falar que pra eu ter alguem interpretando por mim eu precisava de um papel de um advogado enviado pra eles. Acha? kkkkkkkkkkk desliguei, chamei uma amiga minha e mandei ela ligar fingindo q era eu hahahahaha ai funcionou rs.
    Cada uma q dá até desgosto rs.

  5. Juca disse:

    pc baleado ainda! 😐

    pois é… acho que é bem pra isso mesmo que serve irmão! 😀

    ah.. curti as soluções com o telefone!!! 🙂

  6. Maíra disse:

    tb fui da epoca que peguei o page… era a grande evoluçao!!!!

    e ate hj: banco, ajeitar certas coisas da passagem… já chamo minha mãe!!

  7. Jairo Marques disse:

    Eu não conseguia entender muito bem a razão de as pessoas gostarem de ler sobre aspectos simples da minha vida como ir a uma padaria, por exemplo. Hoje, lendo este texto, eu fui capaz de sentir melhor isso. É legal pra caramba! ahahahaahahahahahaha… Ler vc explicando o que poucos sabem com exemplos reais é bem gostoso… show, gatona… e namora bastante porque tá friiiio!!! Beijos

    • Avatar photo laklobato disse:

      Jairo, vai ver foi uma cantada… Tipo: “vamos ali na padaria comer um pão na chapa com suco de laranja?”
      Ah vai, mó sexy! hahahhaa
      Falando sério, eu tb acho esses textos meio estranhos, porque tô muito acostumada com isso. Mas depois lembro que nem todo mundo vive que nem a gente, então explicar faz bem.
      Beijinhos….

  8. Alex Martins disse:

    saudades do tempo dos pagers…rs

  9. Alex Martins disse:

    ~Mas falando sério, Lak, bancos não possuem serviço especializado para deficientes auditivos? se não me engano o bradesco tem um serviço assim.

  10. Maysa disse:

    haha irmã bandida!! Adorei o texto, ainda bem que o mundo ta evluindo ne? Me fez voltar no tempo do ICQ e pager rsss Beijinhos Lak 😀

  11. Mariana disse:

    Olá Lak!!!
    Adorei o texto… realmente vc conta um pouco da minha história também…
    Apelo para a minha super mãe… teve até um dia que eu estava no trabalho e pedi para ela ligar e marcar uma consulta médica… ela ligou para a secretária e ia marcando a consulta, falando com a secretária e comigo, via MSN, ao mesmo tempo…. tem coisas que só mãe pra fazer isso né!?
    Banco, idem… ou vou lá na agência ou ela se passa por mim… hihihi…
    Ainda bem que quando comecei a namorar sério eu já tinha meu celular!!!! Bendita hora que ganhei meu celular!! Gastei meu dedão só nos SMS!!! Hahahaha… o pessoal ficava indignado com a minha super velocidade em enviar um SMS…. é prática, né? Agora estou casada com este namoradinho… 8 anos se passaram… e aqui estou feliz ao lado dele!! =D
    Esse TDD que vc falou antes é aqueles telefonezinhos que parece um computadorzinho que vc conecta o telefone e digita né? Eu tinha um destes só que nem sei onde foi parar!!! A tecnologia evoluiu e só uso SMS, MSN, e-mails… e tadinho dele, ficou esquecido num cantinho… Vou ver se consigo resgatá-lo e usar com outras coisas né? Esse “atendimento a portadores de deficiência auditiva 0800 …..” é pra isso né?

    Beijos!
    Mary

    • Avatar photo laklobato disse:

      Hehehe comigo tb rola muito da minha mãe marcar algo pra mim, falando comigo no MSN. A gente se adapta, é o jeito…
      Quanto ao serviço 0800 para deficientes auditivos, eu tenho quase certeza que é por TDD sim.
      Beijinhos

  12. Re Resende disse:

    Eu amaaaaavaaaaa falar no tel.. eu era secretaria.. e aproveitava ligava pros amigos.. a metade da conta era só minhaa.. patrao brigavaaa dimais comigo.. acho q ele deve ter fico muitoooo feliz qdo eu perdi a audiçao..
    Ainda bem que tem outros meios de conversar.. e é onde eu mais gosto agora.. pois eu entedo o que fala no escritoo… rs.
    é complicado qdo quero ligar pro meu amore.. ele fica repetindo diversas vz a mesma coisa no tel.. percebo como fica bravoo, mas ele me entede e me ama.. o q importa!

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