As mães dos implantados

Dias das mães chegando, resolvi fazer um releitura de um texto meu, publicado em 18 de janeiro  de 2014, no Facebook.

Mãe é uma palavra que, por si só, já é praticamente um Ode inteiro.

Mas mãe de implantado parece uma categoria destacada. Não sei se porque convivo com muitas delas virtualmente e, graças a esse contato, mudei muito a minha visão de muitas coisas, como maternidade, como amizade e  até o próprio implante coclear.

Não vou fingir que sei como é a sensação de se descobrir que um filho é surdo. Eu sei como é acordar surda numa manhã qualquer da vida, sem nenhuma explicação. Mas, longe disso achar que conhecer a surdez em mim é minimamente parecido com a sensação de receber a notícia da surdez do filho. Não é a mesma coisa!

Não numa sociedade que coloca na deficiência um estigma que é praticamente tido como atestado de fracasso. Até hoje há pessoas que recebem a notícia de deficiência de equipes despreparadas que dizem “Seu filho tem a deficiência X e provavelmente nunca será nada na vida. Lide com isso.”

E, no caso do implante, as “más notícias” não se limitam ao diagnóstico. As mães até podem receber um prognóstico favorável em relação ao IC, mas recebem junto olhares de reprovação e palavras ásperas de pessoas que são contra o IC “Você está negando a natureza do seu filho.”, dizem as vozes de pessoas contrárias ao implante coclear. Como se houvesse mãe no mundo capaz de escolher algo que ela não acreditasse ser o melhor possível, naquele momento.  Mãe não erra de propósito!

Tanto que muitas mães sentem medo, sentem receio, ficam cheias de dúvidas. Porque o implante coclear não é assim, um sapato que se calça na hora que dá vontade. Requer exame, requer avaliações, requer muita coragem! Coragem de enfrentar a anestesia, uma cirurgia, o tempo de recuperação e um aparelho dentro do ouvido para o resto da vida! Haja coragem! Tudo isso apoiando-se em possibilidades e não certezas!

O implante pode dar muito certo, mas também pode não dar nada certo, inclusive sem nenhuma explicação.  Pode custar uma fortuna, mas nada garante que a criança vai estar falando dali uma semana, dali um mês, dali um ano.  Pode ser que a criança leve o tempo dela. Pode inclusive nem acontecer, quem há de saber?

Mas mesmo diante dessas (im)possibilidades, as mães dos implantados encaram passar por tudo isso! Colocam a fé na tecnologia lado à lado com a fé em Deus, acreditando que pode dar certo. E confiam no cirurgião, confiam no anestesista, confiam na fonoaudióloga, este seu coração que bate fora do corpo (não é assim que as mães chamam seus filhos?), tudo em troca de uma possibilidade. Simplesmente porque sem encarar tudo isso, a única coisa que resta é a certeza da surdez!

E assistem vídeos bonitinhos de crianças que sorriem e procuram a voz da mãe desde o momento da ativação, enquanto esforçam-se de maneira sobre-humana para não criar expectativas, porque são avisadas que a maioria das crianças chora no dia da ativação. E até tentam disfarçar a frustração  – mães são humanas e criam expectativas como todos nós – quando o bebê rejeita o IC nos primeiros dias. E quase desmaiam de alívio quando isso para de acontecer.

Elas tentam permanecer fortes, quando os outros (e elas próprias) comparam seus filhos com outras crianças implantadas, já que sabem que cada crianças tem seu tempo. E mesmo assim, tem que lidar com o filho da amiga que começou a falar um mês após a ativação, enquanto o próprio filho tem sete meses de ativado e nada.

Enfrentam com garra os olhares de compaixão “Coitadinho, é deficiente?”, os comentários mal educados “Que coisa horrorosa é essa na orelha do seu filho?”. Os desajeitados que se recusam a falar com a criança. Os sem-noção que apontam e dizem para as outras crianças não chegarem perto.

As mães dos implantados se tornam especialistas em tecnologias auditivas da noite para o dia, sabem como se chama cada peça, sabem como se troca a pilha no escuro, sabem ligar para a assistência técnica no primeiro horário da segunda-feira de manhã.  E mesmo quando não sabem, se desdobram no impossível para descobrir para ontem!

E  elas se emocionam com os retornos mais singelos: a primeira palavra falada, o primeiro olhar para um chamado de costas, com cada frase que a criança esboça, com cada música que a criança dança ou cantarola.

Elas aprendem a viver cada momento com intensidade, com esperança, com paciência, com fé.

Aprendem, sobretudo, a apoiar umas às outras!

Tudo isso, pela certeza de que deram o seu melhor, mesmo sem nenhuma certeza que o filho vai aceitar bem  o IC quando crescer. Quem há de saber?

Se as mulheres que são mães merecem o título de guerreiras, as mães dos implantados merecem o título de generais!

Às mães dos implantados, meu carinho e admiração eternos!

A começar pela minha!!

Feliz dia das mães

beijinhos sonoros

Lak Lobato

 

 

3 Resultados

  1. Patricia disse:

    Muito emocionada aqui. Este teste me descreve perfeitamente. Descreve o meu ano de 2017. Como fui julgada quando optei pelo IC para o meu pequeno. Descreve minha luta dia após dia para que o meu implantado ganhe seu espaço nesse mundo.

  2. Jeane disse:

    É isso tudo mesmo.

  3. Jessica Martins disse:

    Ameeeeeei Lak
    Amei
    Chorei
    e vou compartilhar la Pagina no facebbok
    Alice no mundo dos sons
    beijos sonoros

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