Debate sobre Surdos Oralizados & Implante Coclear na Reatech (SP)

Pessoas, eu falei que não ia, mas no fim, acabei indo, porque participei de uma mesa de debates sobre políticas voltadas para surdos oralizados, usuários de próteses e implantes auditivos e que tem português como primeiro (ou único) idioma.

O fórum todo, “Junte-se à Acústica” começou cedo, mas só estive na Reatech na parte da tarde, porque minha participação foi marcada bem em cima da hora e eu já tinha compromissos de manhã…

Confesso que foi a primeira vez que me animei de ir na Reatech, porque também era a primeira vez que tinha algo voltado exclusivamente para falar sobre oralizados. Sobre surdez sempre teve, mas no foco da Libras como assunto principal e, como vocês sabem, esse tema não é a minha praia.

Eu estava apreensiva com essa temática ser abordada na Reatech justamente porque é um ambiente bem dominado pela Cultura Surda e, infelizmente, existe muitos radicais contrários ao nosso tema. Tem gente que acha que se a humanidade souber que um surdo pode ser oralizado, que o Implante Coclear pode trazer sons compreensíveis a um ouvido totalmente surdo, ninguém mais vai querer debater Libras. Mas a gente sabe que não é assim, porque o implante coclear não é pra todo mundo, porque muito deficiente auditivo se sente mais confortável com a língua sinais. A questão é que a deficiência auditiva possui uma diversidade e todos os grupos precisam de divulgação, de inclusão, de acessibilidade, de respeito e de direito de existir.

Enfim, houve um encontrinho de implantados no stand do INIS, que era junto com o stand da TELEX, muito bacana. Conversei com algumas mamães, todas maravilhosas e super receptivas ao implante coclear (sabiam que eu fico receosa com a minha voz, quando encontro mães, porque acho que elas vão criticá-las com tom de “aff, não quero meu filho falando com essa voz”) e bem animadas com os meus resultados (porque sabem que os filhos provavelmente vão me superar hahaha) e alguns implantados adultos, cada um com seu resultado, mas todos apaixonados pelo IC. Esses encontros fazem bem pra quem gosta de se sentir integrado e não se sente assim entre ouvintes…

Logo depois, fomos para o auditório 7 para darmos início ao debate. Soube que os debates matutinos foram super tranquilos, ninguém apareceu pra causar polêmica ou atrapalhar. Isso me deixou um pouco mais confiante. Mas, claro, como a polêmica me persegue, uma intérprete veio me interrogar, antes da palestra, para saber sobre a “proibição da Libras para crianças implantadas, que ela considerava um absurdo”. Respondi que cada caso é um caso e tem muita criança implantada que precisa de Libras sim, mas que outras não tem essa necessidade e assim como não se deve PROIBIR a Libras, ela também não precisa ser obrigatória, senão o radicalismo é o mesmo.

Não deu pra estender o debate, porque nessa hora levei uma bronca da Carminda, que disse que eu estava atrasando o debate hehehehe

Começou com uma apresentação dos participantes. Diana Sampaio, surda oralizada e usuária do Baha bilateral. Marcos Bandeira, surdo oralizado e usuários de próteses auditivas. Carminda Marçal, surda oralizada e usuária de implante coclear unilateral. Cidinha Garcia, mãe de uma surda oralizada de 9 anos recém implantada (Beatriz ativa essa semana!!) e eu. Cada um se apresentou, falou sobre o próprio caso e o que fazia para a divulgação do nosso grupo e o Marcos explicou sobre as diferenças entre as politicas atuais de inclusão e como era antigamente, quando as pessoas tinham que disfarçar a surdez, para não serem desrespeitadas….

Eu falei sobre o blog, sobre os lugares que já estive para divulgar a nossa existência. Falei como o DNO nasceu e porque… Que comentei no blog do Jairo Marques falando que era surda e ele me respondeu pedindo dicas “para falar com quem não fala”  e tive que explicar que era surda oralizada, porque ninguém sabia que a gente existia. Que o DNO nasceu como resultado dessa conversa. E que é um dos blogs pioneiros sobre o assunto, assim como o Crônicas da Surdez e o SULP. Que a gente precisa divulgar, porque a sociedade sempre associa surdez com lingua de sinais e, no entanto, muitos deficientes auditivos usam a lingua portuguesa.

Logo depois, a platéia começou a fazer perguntas. Queriam saber como se oraliza um surdo (porque a pessoa não sabia que surdos podiam falar), queriam saber como é ouvir pelo implante, como alguém que nunca ouviu reage aos sons. Como divulgar a nossa existência nos ajuda.

Sabem o que respondi? Que se um ouvinte perde a audição, automaticamente se torna um surdo oralizado. Ele pode aprender Libras e até se identificar com ela. Mas, a voz dele já estará ali formada. E ele já terá o português fixado como primeiro idioma. E que, muito mais fácil que aprender outro idioma inteiro (que demora um bom tempo) é ter acessibilidade no idioma que ele já usa. Que ele não vai precisar esconder que tem uma deficiência adquirida, porque poderá ser respeitado de acordo com essa condição.

Passamos contatos para esclarecimento de duvidas, passamos o endereço do blog, do FIC e das comunidades do Facebook. E esperamos que essa primeira participação na Reatech, embora pequena, seja marco de início de uma participação cada vez mais expressiva, para que a existência dos surdos oralizados e usuários da língua portuguesa, das próteses e implantes auditivos, seja cada vez mais divulgado. Até o dia que seja tão comum, que a reação da platéia não seja mais “ohhh, vocês existem?”…

No fundo, a gente sabe que informação faz toda a diferença!

Beijinhos sonoros,

Lak

8 Resultados

  1. Soramires disse:

    ÓTIMO QUE VOCÊ TENHA PARTICIPADO E com OS DEMAIS amigos surdos oralizados puderam expressar em português quem somos e o que necessitamos: respeito e acessibilidade!
    Uma pena que eu estava dodói! 😀

  2. Magda Vagli Zobra disse:

    Uma pena não ter visto vc Lak, fui na parte da manhã sai de lá umas 14:00 hrs, na palestra tive um pouco de dificuldade pra entender algumas pessoas falando até porque não são muito boa em leitura labial, mas uma das interpretes em libras ia repetindo pra eu poder entender, o engraçado foi que quando falei pra ela que não sabia libras ela deu uma risadinha mas como vc é deficiente auditiva e não sabe libras..mas enfim foi bastante valido porque consegui tirar algumas duvidas. Mas aqui no seu Blog sempre comento com a fono me ajuda bastante nisso tb.bjs

  3. CARMINDA disse:

    ÔOO Lak!! Desculpa!! Mas sem culpa!! (rsrs)
    Nem sabia q vc tava falando com a intérpetre!! Aff !!

    E não dei bronca não! Só te mandei entrar p/ a sala, já!! rsrsrs
    Valeu menina!!! Muito legal sua participação e agradecemos! e belo texto, este, que vc escreveu! Parabéns!!! bjssss

  4. Greize disse:

    Ano que vem, quero participar de deste Fórum.Ontem fui em um, que foi bom mas não falou de diversidade.Eu me encaixo perfeitamente nos últimos parágrafos.Conheci até um implantado, coisa rara de se ver em BH.
    Ele não precisou de “seguranças”.hehehe. 😉
    Bjim

  5. Karen disse:

    Lak,

    É isso mesmo que devemos estar divulgando a beça que existimos.
    Eu estou pensando em conversar com meu medico otorrino para eles começarem a classificar os surdos desta forma: deficiência auditiva oralizada e deficiência auditiva sinalizada. As diferenças são gritantes em termos de vocábulo, daí as dificuldades de comunicação.
    Não é para discriminar as pessoas e sim esclarecer que a deficiência auditiva tem várias particularidades.
    Tenho surdez severa e profunda, mas eu ouço bem com aparelho. O que me incomoda são os sons fortes, por exemplo, barulho dos motores de carros, moto, caminhão etc, além das sirenes de ambulância e polícia. É um stress e devido a isso a noite, eu prefiro n]ao escutar nada só para relaxar o corpo.
    Parabéns pela ousadia e coragem, não deve temer nada e deixe tudo nas mãos de Deus.
    Nós já nos conhecemos no Senac Consolação no ano passado, quando você fez a palestra, pois eu tive a curiosidade para ver o que os outros deficientes auditivos pensam e sentem. 😀
    Bjs

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