Web para todos na Campus Party
Bom, como eu queria aproveitar que teria acesso ao evento na condição de palestrante, quis chegar cedo para poder conhecer o local antes do debate.
A impressão que tive é que, apesar de (segundo me contaram) ter cerca de 5 a 7 mil pessoas, achei o local super tranquilo e sossegado. Os stands dos expositores tinham espaço suficiente pra gente se aproximar do local sem grandes grilos. E as palestras sempre tinham espaço de sobra pra gente sentar ali e acompanhar a palestra ou o debate tranquilamente.
Achei muito show o trechinho da palestra do Bob Spence, que é eyeborg. Ele perdeu um olho em 2007 e colocou uma câmera no lugar dela. Ele falou sobre cyborgs (organismos com partes cibernéticas, só pra facilitar a compreensão). Que antigamente, principalmente por causa de guerras onde as pessoas perdiam membros, quando alguém colocava uma prótese, sempre tentava escondê-la. Hoje em dia, não é mais assim, as pessoas que tem próteses deixaram de ter vergonha da sua condição. Achei isso sensacional, porque sou a favor da gente se sentir à vontade com uma prótese que substitui algo que naturalmente deixamos de ter, como caso dos AASIs e ICs, que substituem a audição inexistente. Alias, só fiquei triste com a palestra do Eyeborg pelo fato dele não citar os implantados como cyborgs, mas tamos aí…
Bom, finalmente falando do debate…
Começo admitindo que falei bem pouco, porque o tema ‘acessibilidade na web’ não me dava margem pra muita elucubração. A internet é a mídia mais acessível para pessoas com deficiência auditiva (que tem fluência em português), com as únicas exceções de vídeos e arquivos de áudio (tipo podcasts). Então, o que falei foi, basicamente sobre isso. Sobre a importância dos vídeos terem legenda, sobre as mídias oficiais tipo jornais sempre colocarem as notícias também em forma de texto. E falei um pouco sobre a legenda especial para deficientes auditivos, porque ela descreve também o som ambiente e isso é importante pra nós.
Os outros debatedores são deficientes visuais e falaram muito mais que eu, porque óbvio, há muito mais necessidade de deixar a internet acessível para quem não enxerga, visto que ela é majoritariamente visual.
Um deles, Everaldo Carniel, falou sobre leis que exijam acessibilidade nos sites, já que trabalha num projeto Acessibilidade Virtual da Rede Nacional de Pesquisa e Inovação de Tecnologias Digitais (RENAPI). Alias, ele explicou bastante sobre esse projeto que fala também sobre acessibilidade para outros tipos de deficiência, não apenas visual. Citou a importância de legendar os vídeos.
O outro, Lucas Radaelli, que é estudante de ciências da computação e consultor de acessibilidade e usabilidade, falou mais da parte de softwares e equipamentos que possam facilitar a acessibilidade aos deficientes visuais na web (e em outros tipos de midia, como cinema, etc).
Foi meio difícil acompanhar o que eles diziam, porque a posição não estava muito favorável pra leitura labial e a acustica não permitia que eu conseguísse ouvir ninguém direito. Edu fez algumas traduções pra mim, mas muita coisa era técnica e não havia muito o que opinar. Mas, ambos entendiam muitíssimo do assunto e são bastante engajados no quesito tornar a web acessível.
Um comentário fofo e nada a ver com o debate, Lucas estava acompanhado do cão guia dele, um labrador lindo, que se ficou quietinho durante todo o debate. É apaixonante ver a dedicação do cão guia ao dono e o carinho dele pelo bichinho. Sabe aquela coisa de dar vontade de falar ‘oin’ quando eles interagem? Bem isso….
Em dado momento, falaram sobre a importância de se criar leis sobre acessibilidade. É necessário, claro. Mas, aqui entre nós, eu acho que criar 750 leis que obriguem acessibilidade não resolve, porque nosso povo tem mania de dar jeitinho e ficar tentando ver como fugir das regras. Acho que o governo deveria era promover campanhas de conscientização da importância da acessibilidade. Enfiar na cabeça das pessoas que ELAS também podem precisar de acessibilidade um dia. Que tornar o mundo acessível não é fazer caridade pro outro, mas fazer com que tudo esteja a disposição de nós mesmos, em qualquer circunstância. As pessoas precisam parar de achar que deficiência só acontece com o vizinho e que ele deve ter nascido assim. Pode acontecer com qualquer pessoa, temporária ou irreversivelmente.
De qualquer forma, agradeço à produção da Campus Paty pela oportunidade de falar um pouquinho sobre acessibilidade e por ter feito parte do debate. Agradeço, especialmente, ao mediador Reinaldo Ferraz, da W3C. (O Consórcio World Wide Web (W3C) é uma comunidade internacional que desenvolve padrões com o objetivo de garantir o crescimento da web.)
No mais, adorei ter encontrado alguns amigos por lá, principalmente ter conhecido a Giseli Ramos, autora do blog CyberGi.
Beijinhos sonoros,
Lak
p.s. pela primeira vez, lamentei não ter ainda o Sistema FM. A acustica do evento não era muito favorável e foi bem difícil entender o que qualquer pessoa dizia, a menos que ela estivesse perto o suficiente pra leitura labial.
Maravilhosa essa matéria, maravilhoso o fato de você estar presente nesse grande evento e poder compartilhar aqui com a gente.
É o mais interessante é a gente se sentir a vontade na nossa condição, demais mesmo, pena que eu não estava lá na palestra…
Beijos!
Pois é, Marcelo… Como falei no twitter: Cyborg Pride Rules! Tenhamos orgulho de ter uma parte cibernetica, que nos permite ser seres humanos verdadeiramente completos!
Beijos
Também adorei te conhecer! 😀 E obrigada pela menção, quem sabe eu volte a escrever hehe. Bjo!
Hehehe se não for sobre o IC, que seja sobre outro assunto! Vc é uma ótima blogueira!!
Foi um prazer papear com vc lá na Campus. Beijos
Parabéns Lak pelos seu engajamento.
Beijos,
Déa
Hehehehe valeu.
Beijos
Oi Lak!
Que bom que o evento foi interessante e útil para outras pessoas verem a nossa perspectiva. Foi uma experiência muito positiva que você teve!
Pôxa! Eu tenho o Sistema FM e o meu está guardado na gaveta por falta de oportunidade de uso. No próximo evento, caso não tenha adquirido o seu FM, querendo, me avise, que te empresto para você testar. A única necessidade seria da Dra. Valéria fazer o parelhamento no seu aparelho AASI (no implante precisa de uma adaptação que custa uns R$ 4 mil e eu não quis pagar 😯 ).
Abraço!
Draj, eu larguei o AASI há uns meses. o molde rachou e eu nunca tive a decência de fazer outro. Queria o FM pro IC mesmo…
Beijos
Olá, Lak!!!! Bem legal o post!!!!!! 😀
E olha o que o “Sopa de Números na Educação Inclusiva” publicou também: além de falar sobre algumas palestras acerca de aplicações da Robótica na Reabilitação e na Educação Inclusiva, abordou também o debate do qual você participou, sobre Acessibilidade Web – e, claro, aproveitou para divulgar seu post em seu blog, hahaha! 🙂
Veja lá: http://sopadenumerosecalculos.blogspot.com/2012/02/obaaa-tecnologias-assistivas-abordadas.html
Que tal? 😉
Abração!!!!
Passando lá pra ver… Beijão
Lak,
Sou deficiente auditivo oralizado e possuo o aparelho FM da phonak.
Conheci hoje seu blog e tenho lido vários artigos desde então.
O aparelho FM não ajudaria muito no evento, somente se você o usasse como um microfone, de ficar passando de pessoa para pessoa, além do fato de que o alcance do aparelho é muito restrito e ficaria chiando no seu ouvido.
Gostei muito do seu blog, vou continuar acompanhando. Parabéns e obrigado. Serve bastante como uma fonte de conselhos, já que ninguém, além do próprio deficiente auditivo, entende as reais dificuldades e complicações da vida com audição parcial.
Mas era o que eu queria, Pedro. Colocar no pescoço dos outros debatedores e dos palestrantes hehehehe
A acústica estava impossível e olha que fechei o microfone do IC. Não teve jeito…
O pessoal comentou que até os ouvintes normais estavam com dificuldade de entender muita coisa. Enfim…
Bem vindo ao DNO e se tiver sugestões de textos do seu interesse, avise.
Beijocas
Ótimo texto, será que pessoas adultas conseguem s sistema FM de graça pelo governo??Estou sofrendo qdo vou em palestras, eventos ou em igreja mesmo.Acústica sempre ruim. 😐
Boa pergunta… Vou pesquisar pra descobrir, viu?
beijos