15 minutos de fama lá vou euuuuu
Enfim, os meses foram passando e a minha carta parecia não ter causado o efeito esperado, já que nenhuma matéria era feita sobre PcD’s. Nem liguei, sempre fui consciente da minha condição de Zé Ninguém =P
Uns meses depois, chegando em casa junto com minha mãe e irmã, elas ouvem a secretária eletrônica com tom de espanto e me olham com uma cara mais espantada ainda.
Era a reportagem do Folhateen, perguntando se eu podia agendar uma entrevista, porque tinham ficado interessados na minha carta e queriam fazer uma matéria sobre o tema proposto e que eu fizesse parte dela.
Marcamos pra uns dias depois e a reporter foi em casa, junto com um fotógrafo (na verdade, ele chegou depois da entrevista).
Sentamos, conversamos por 1h, ela fez milhares de perguntas, dando o tempo necessário para resposta. Nada saiu apressado ou forçado – fiquei impressionada com isso, não era a imagem mental que eu tinha de jornalistas, sempre correndo contra o tempo – e acabou sendo uma conversa adorável. Ela até fez questão de contar que a carta tinha causado o maior rebuliço na Redação e eles ficaram um tempão tentando encontrar um tema adequado para encaixar a solicitação.
Na segunda-feira da semana seguinte, não deu nem tempo de eu acordar. Já tinha trocentos recados no meu pager, ligações pra minha casa e emails lotando a minha caixa de correio eletrônico (é que eu acordava tarde haha). Tinha até o recado de um cara que tinha conversado comigo na internet e ele não tinha acreditado quando falei que tinha deficiência auditiva e ficou chocado de se deparar comigo na capa do Folhateen.
Segue a montagem abaixo (eu juntei o título, porque ficaria enorme scanear a folha toda)
Mais uma vez, transcrevo o que foi escrito – esse tenho certeza que não tá com qualidade de leitura, porque eu cortei demais no photoshop pra não ficar pesado:
Por que estes estudantes são barrados na escola?
Surda tranca matrícula por causa de professores
da Reportagem Local
No final do ano passado, a faculdade Anhembi Morumbi realizou um exame semelhante ao provão para avaliar seus alunos de publicidade. A nota mais alta da prova foi da aluna Lakshmi Lobato, 22, surda desde os 9 anos.
O resultado foi uma vitória pra a estudante, que havia tracado a faculdade no primeiro ano depois de enfrentar preconceito por parte de alguns professores.Entre outras coisas, Lakshmi teve uma professora que perguntou se ela sabia ler e escrever. “A pessoa tinha tanto preconceito que não lembrou que eu tinha passado no vestibular.”, diz ela.
Depois, Lakshmi, que não tem dificuldade de fala, foi desaconselhada por outro professor a tentar uma vaga no grupo de teatro. “Ele disse na minha cara que seria melhor pra mim ficar nos bastidores. Eu já tinha feito um ano de teatro no colégio. Quem é ele pra me dizer o que fazer?”
Ela se chateou e ficou fora da faculdade por um ano. Ao voltar, passou a lutar por seus direitos. Uniu-se a outros quatro portadores de deficiências e fez uma série de pedidos. Entre eles, medidas simples, como uma indicação na lista de presença que ela era deficiente auditiva para não levar falta na hora da chamada.
Alérm disso, o grupo conseguiu um telefone adaptado para quem usa cadeira de rodas e un terminal plugado na Internet com acesso permanente, já que ela se comunica com a família e os amigos via e-mail.
Lakshmi, que pretente ser fotógrafa, diz que seria muito mais fácil estudar se houvesse mais colaboração dos professres e estabelecimentos de ensino. “Há professores que ficam irritados se peço para eles falarem voltados pra mim.” Isso porque ela faz leitura labial. Mas muitos surdos não dominam essa técnica e precisam de intérprete de linguagem de sinais para poder acompanhar as aulas.
Lakshmi diz que a Internet se tornou uma fonte importante para os surdos que querem se informar e se comunicar. “Encontro tudo o que preciso, além de me comunicar como se estivesse no telefone.”, diz ela. Sempre que manda uma mensagem pra alguém, Lakshmi termina com uma frase de Caetano Veloso que ela adotou como conceito de vida, “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.”
Lindo, né?!
Possivelmente o Jairo vai me matar, mas tem uns furos nessa reportagem aí, aproveito pra corrigir: (hahaha)
- O provão foi pra toda a universidade, não só pros alunos de publicidade.
- A professora que me perguntou (anos depois, fui entender que realmente existem surdos sinalizados que só falam líbras e não lêem/escrevem português com muita fluência, mas de qualquer forma, também não falam português e eu falei em português com ela, ou seja, ela pode até ter um fundo de razão, mas foi um fundo fundo pra caramba) se eu sabia “ler e escrever” me perguntou isso DEPOIS que eu voltei, não ANTES de trancar a matrícula. Ou seja, trancar a matrícula não resolveu o preconceito, só aumentou a minha paciência.
- O orelhão não era adaptado meramente a cadeirantes. Uma das meninas do grupo era portadora de nanismo por osteogenesis impercfecta. Logo, o orelhão era adaptado pra ela também. Alias, hoje em dia, ela é famosa no meio dos militantes pró-inclusão.
- Nenhum professor jamais ficou irritado por eu pedir pra ele falar voltado pra mim. O que complicava pra assistir aula eram os fanáticos por retroprojetor, porque a luz ficava apagada e eu não enxergava necas de pitibiriba, quanto mais lábio de professor que ficava a 1km de distância. Eles ficavam irritados quando eu reclamava disso. Mas, a maioria era bacana e me indicava textos ou fazia resumos com o conteúdo dessas aulas.
- É LINGUA e não linguagem de Sinais, a Libras.
- O Departamento de Marketing da minha faculdade não ficou nem um pouco feliz com essa reportagem e mandou uma email enorme pra Folha falando que não era bem assim. A jornalista me encaminhou e eu respondi que eu só relatei o que tinha passado, não tinha a intenção de prejudicar a faculdade. Mas soube que, pessoas que passaram pela universidade depois dessa reportagem e que tinham qualquer tipo deficiência, tiveram suas necessidades prontamente atendidas. Ou seja, apesar da bronca que eu levei da coordenação (onde eu tive que pedir desculpas e repetir que em momento algum quis prejudicar a imagem da faculdade), o saldo foi positivíssimo, tanto pra mim quanto pra outras pessoas.
Enfim, quem não chora não mama, pessoas. Tem horas que fazer barulho traz a mudança necessária. E é claro que, exibida do jeito que eu sou, não fiquei nem um pouco infeliz de aparecer na primeira página do meu caderno favorito da Folha de São Paulo, na época.
A única coisa chata é que esse passado com cabelo Elba Ramalho ninguém merece hahahaha
Beijinhos
Lak
p.s. Por favor, comentem. Esse tipo de mico merece os comentários que passarem pela cabeça de vocês!! =D
Que ótimo que o saldo foi positivo! =)
E, poxa, eu gostei do seu cabelo, só tá diferente, apesar de eu preferir ele hoje em dia, hahaha
:***
Po, Latika, sabia que o fotografo ia e nem fez chapinha? 😀
HAHAHAHA, Rex, eu era completamente hipie nessa época. Que chapinha o quê… haha
Não vejo isso como mico, mas sim como uma chance de falar.
Em geral a gente só encontra na mídia a minoria da moda (ora negros, ora cadeirantes, ora gays, ora cegos), rola uma comoção nacional pq um dos grupos aparece numa novela da globo e ai o grupo some e vem outra minoria no lugar.
vc teve a chance de falar seriamente sobre algo que vc viveu, e isso é legal, com certeza muita gente ganhou com isso.
O mico era o cabelo, Alex… mas é bem isso mesmo, do jeito que falou, o lance é causar comoção e dar ipobe à novelas…
Amei te ter por aqui. Beijinhos
hahaha… Legal conhecer a outra face da Lak! Bem estilo Elba!
Primeiro, eu adorei demais o estilão Elba!!! Segundo, as correções que vc faz são muito pertinentes. Tenho certeza que não foi má-fé da repórter. É muito difícil entrar em um “mundo” que não se conhece nada e conseguir relatá-lo de uma forma totalmente correta, apesar de nós jornalistas, podem acreditar, tentarmos arduamente que isso aconteça. Por mim, digo que muita gente reclama da omissão dos meios de comunicação, mas poucos agem com vc, cobra, manda carta, reclama de fato. A midia tenta ser o reflexo de uma sociedade e só consegue cumprir esse papel uma vez que essa sociedade se imponha, se mostre e exija ser retratada!!! Beijocas e, mais uma vez, parabéns pelo blog… um caminho novo e importante para a Matrix!!! 😉 Beijocas
Jairo, tenho certeza ABSOLUTA que a Jornalista não agiu de má-fé. Uma pessoa realmente maravilhosa, só sou grata. Mas, infelizmente, me senti no dever de corrigir os errinhos, pelo menos aqui. Cada um fazendo a sua parte, né?
Lembro de uma coisa que ela me disse e ficou marcada: “As pessoas tem medo de falar desse assunto, porque têm medo que isso também aconteça com elas. Aquilo que a gente não pára pra pensar assusta menos.”
O problema é que não dá pra evitar esse assunto pra sempre. Não deixa de ser real, pra outras pessoas, só porque não se fala disso. Você é prova disso!
Beijo enorme.
Oi Lak,
Adorei essa matéria! Estou na faculdade e de vez em quando passo por situações de preconceito por parte dos professores. Infelizmente desisti da matéria (fui reprovada por falta, não ouvia a chamada, conversei com o professor e os coordenadores mas nem chegamos a um acordo) e irei fazer DP Por isso quando li aqui, nem hesitei, mandei o link, o texto e a imagem em anexo pro meu professor e os coordenadores do curso. Tenho muito orgulho de você, menina!
Beijão!
O lance da chamada, eu resolvia pedindo pra algum amigo responder pra mim ou pro professor me procurar pela sala… Inadmissível ser reprovada por falta, estando em sala de aula…