2013 bem sonoro

Confesso que andei meio apreensiva nesses últimos dias de 2012. É que este ano foi de uma importância inestimável na minha vida. Em diversos sentidos… profissional, pessoal, auditivo. Foi o ano que o segundo IC foi feito e que ele deu certo, ano que levou embora 25 anos sem discriminar a fala, 25 anos dependendo exclusivamente da leitura labial.

Mas, 2013 terá uma vantagem sobre ele: será o ano que já vai começar abençoado. Então… não há o que temer.

Por isso, uma compilação dos principais textos escritos no Facebook, sobre as descobertas e encantamentos sonoros pós 2ºIC:

“Fragmentos Sonoros”

(03/11/12)
“Quando você sai de um encontro com pessoas realmente maravilhosas e consegue entender, estando distraída, uma explicação complexa sem olhar pra pessoa ao seu lado, você automaticamente pensa: Como é bom estar vivo?
Pois é, 25 anos sem ouvir e 9 dias de ativada me permitiram esse prazer!”

(04/11/12)
“Pronto, a primeira crise de choro do segundo IC  levou apenas 10 dias.
Cresci ao som de Bossa Nova, minha mãe adora. Quando fiz o primeiro IC, tentei ouvir varias vezes, mas não ficava muito bom e nunca conseguia acompanhar a letra sem ler os lábios do interprete.
Agora, com o segundo pude ouvir (e entender bem a letra, acompanhar de fato o desenrolar da música) algumas dessas canções que fazem a trilha sonora das minhas lembranças de infância.
Invejo que consegue tudo isso com apenas um IC, mas admiti que meu milagre só foi possível com os dois!
25 anos de espera e a alma transbordou!”

(06/11/12)
“Aff preciso dormir! Se eu for ouvir todas as musicas que não pude escutar nos últimos 25 anos, não haverá pilhas suficientes no mundo!!!”

(06/11/12)
“Porque uma vida não pode ser definida em anos, mas pela intensidade em que ela é vivida, 25 anos de ausência auditiva não foram capazes de apagar a minha paixão por ouvir. Eu amo essa percepção do mundo. Ainda mais quando ela pode ser plenamente sentida através dos dois ouvidos.”

(09/11/12)
“25 anos sem ouvir e, exatas 2 semanas depois de voltar a fazê-lo, esse é o som que a vida me trouxe de presente. Se faz diferença ouvir com apenas um ou os dois? Já dizia Marina Colasanti “A gente se acostuma. Mas não deveria!”” (o texto foi publicado com uma foto do mar)

(14/11/12)
“Conversa minha com uma fono amiga, especializada em IC  “as pessoas tomam você como exemplo de implantado porque você é um caso de sucesso…” Respondi  “como alguém que ainda depende da leitura labial é caso de sucesso?” (com meu habitual desdém comigo mesma)…
E ela “o sucesso pode ser definido também pelo entusiasmo que o paciente sente em relação ao usar o IC”
Epic Win!
Lá se foram meus argumentos! Amo os ICs mais que tudo nessa vida!”

(15/11/12)
“Uma das coisas que mais amo no IC é o que ele me devolve e dá acesso ao mundo. Cada vez que, por exemplo, algum amigo posta um vídeo de uma música que gosta, olho aquilo e penso: “oba, deixa ver se fulano tem bom gosto”. Ao invés da dor no coração que eu sentia, quando música me era simplesmente inacessível.
O IC não cura a surdez, mas cura o isolamento da alma!
Quem acha que ouvir não é importante simplesmente não fala em meu nome, só isso.”

(17/11/12)
“Fico pensando no dia que eu parar de cair no choro por ouvir uma música antiga, a vida vai perder um pouquinho da graça… Ou não…
Quem lembra do tema de abertura dessa novela? Eu adorava essa música. Sabia cantá-lá muito bem (é, minha voz era bem afinada quando criança!)
http://www.youtube.com/watch?v=ADkUbGi6vbA&feature=youtube_gdata_player”

(21/11/12)
“É uma música, o barulho do rio, uma palavra dita de surpresa e minha alma que explode em milhões de deslumbramentos sonoros graças ao implante bilateral.”

(25/11/12)
“Voilà, minha primeira tentativa de falar no telefone. Entendi o Edu dizer “liga o telecoil”  HAHA mas ainda é difícil, cérebro destreinado demais!
Mesmo assim, entender uma frase que nunca ia imaginar que ele diria (nem lembrei da bobina antes dele falar) já é diumtudo! Fazia 25 anos (quase 26) que eu não conseguia algo do tipo! I’m so Happy!”

“Depois do primeiro teste, a primeira ousadia. Liguei pra minha irmã de alma, minha melhor amiga dessa vida e conversamos perfeitamente (dentro das minhas condições), né Kali Alves? Que emoção!!!”

“E agora, como faz pra dormir com essa felicidade toda correndo nas veias?”

(27/11/12)
“Escutar música, falar no telefone e ouvir juras de amor ao pé do ouvido!
Amo o IC mais que tudo nessa vida. Obrigada, deuses!”

“O Ministério da Saúde adverte: Ouvir música no trabalho faz mal a maquiagem, se vc é dessas pessoas que cai no choro por ouvir uma música antiga.
Voilà, 26 anos depois, acompanhar a letra sem legenda me arrancou boas lágrimas! E dane-se a maquiagem.
http://www.youtube.com/watch?v=6ktq7rKRji4”

(29/11/12)
“Como é possivel que tudo fique melhor, ouvindo? Ainda fico besta quando percebo como sou auditiva.
Até jogar hockey de mesa é mais gostoso, por causa do barulho do disco batendo na mesa!”

(02/12/12)
“Sobretudo, é preciso compreender como é difícil mudar quem somos, mesmo quando não é mais necessário um determinado comportamento.
Domingo a tarde, deito na cama e fecho os olhos. Fico imaginando algumas musicas e cantarolando sem voz.
Aí percebo que é um velho habito difícil de desapegar. Durante 26 anos, essa foi a minha “maneira” de ouvir música. Mas agora, não é mais necessário, posso pegar meu iPod e conecta-lo ao IC escolhendo qualquer música que nele esteja, inclusive a que eu cantarolava. Ainda assim, percebo uma resistência inicial, só porque antes isso me era inacessível. Bizarro, né?”

(08/12/12)
“Que tal descobrir que você pode ouvir música de 3 maneiras diferentes? Pois é… Pela diferença dos 2 IC, tenho a opção de ouvir só com o direito (que dá ênfase à letra) com os dois ouvidos (que é a melhor maneira, porque ouço a letra E os instrumentos) e tenho a terceira opção de ouvir só com o esquerdo, que fica uma versão distorcida, mas sem voz, só instrumental. Huahuahua minha audição é uma coisa hilária!”

(09/12/12)
“Adoro conseguir assistir programas nacionais sem legenda mesmo com narrador em off! Agradeço a todos os seres humanos do planeta que direta e indiretamente trabalham em prol do Implante Coclear! Minha felicidade seria impossível sem vocês!”

(10/12/12)
“Venho tomar café da manhã na empresa e Roberto (um amigo daqui) me abraça e fala durante o abraço “Tudo bem?” respondo “Tudo e vc?” ele me solta e me olha quase incrédulo “Você me ouviu?” e eu digo que sim. Ele dá uma risada de contentamento que só pessoas que realmente gostam da gente são capazes de dar, diante da uma conquista nossa…  Felicidade em pacote completo!”

(11/12/12)
“Coisas que não tem preço: ouvir a conversa alheia (e compreendê-la, né?)… Claro que os alheios discordam hohoho”

(12/12/12)
“Amo mais que tudo: pegar o tel, ligar pra minha melhor amiga de infância, que terá bebê nos próximos dias e dizer “Você me liga quando ela nascer?” e entender perfeitamente quando ela responde “claro que ligo, pode deixar!”… 450km de distancia e 26 anos de silencio interrompidos com uma voz linda e uma risada gostosa!
Ai, que maravilha ter essa liberdade de ouvir!
IC, te amo! KK, você e a Helena também!”

“Ah, que maravilha esses fogos! Vou desligar o IC! Boa sorte pra vocês ouvintes!”

(13/12/12)
“O que foi mais importante pra mim, em 2012? “Eu ouvi dizer que….”

(15/12/12)
“Aí minha mãe me liga pra saber se quero que ela marque salão pra mim.
Tranquilo (Edu ajudou porque a ligação estava com chiado) e tal…
Mas, perai, foi a primeira vez que minha mãe me ligou! Ai, Meldels, minha vida está mudando a olhos vistos… As vezes acho que é emoção demais pra um pobre coração!”

(17/12/12)
“Primeira ligação recebida em horario de trabalho hahaha *VERGONHA*” (meu pai me ligou para me chamar para almoçar)

“Quem lembra desse desenho? Gargalhei de ouvir o “Eu te disse”… Uma daquelas coisas que doíííía não poder ouvir! Well, agora posso! Obrigada, IC!” (o desenho era Carango e as Motocas)

(19/12/12)
“Uma das coisas que descobri é que o toque de telefone tem alguma coisa que ativa seu sentimento de inquietação, que te deixa com desespero de atender, só pro maledeto barulho parar! Juro, vou começar a atender todos os telefones do escritório!!”

“Uma coisa que nunca vou saber: se o resultado favorável do IC foi mais importante pra mim ou pros meus pais…
Verdade que a expressão de paz no rosto deles é.. inexplicável!”

(21/12/12)
“Ontem, fui num orfanato entregar presentes de natal a crianças carentes. Era um trabalho voluntário lá da empresa que trabalho. O pessoal se reúne para comprar um kit de roupa/sapato/brinquedo/comida pra criançada. Crianças de todas as idades, até 17 anos.
Lógico que as crianças estranharam a minha voz (se adulto estranha, imagine crianças) e o aparelho colado na minha cabeça (por conta do calor, meu cabelo estava preso). Minha chefe explicou pra eles o que era – sou péssima com didática – e acabei sendo uma das atrações da tarde.
Eram perguntas sobre como o IC funciona, o que acontece se eu tirar – teve um que realmente me fez tirar pra mostrar que saia hahaha – se eu realmente conseguia ler lábios, etc… Coisa de criança curiosa…
Mas, teve um menino que realmente queria conversar comigo. Queria saber se eu tirava para dormir. Respondi que também tirava para tomar banho. Aí ele enfatizou “poxa, mas aí você não ouve o som do chuveiro!”. Eu ri e disse “não, isso não consigo ouvir.”
Expliquei que fiquei 25 anos sem ouvir a voz das pessoas e agora estou aprendendo a ouvir de novo. Aí ele quis saber com quantos anos perdi a audição. Falei que com 9 anos (a idade dele) e ele me olhou com a maior candura do universo e disse, sem qualquer tom de piedade ou compaixão, era um olhar de compreensão, de empatia: “Poxa, 25 anos sem ouvir, deve ter sido muito difícil…”
Respondi “Foi” e ele: “Que bom que agora você ouve…”
É, tem coisas que é preciso ser criança, para entender a simplicidade de algo tão complexo…”

“Pensando no lado bom, se o mundo acabar hoje, vou ouvir todas as explosões, gritos, lamentos e mimimis. Viram que pessoa otimista sou eu?”

(23/12/12)
“To eu na loja experimentando um vestido que precisava reformar, dai ouço minha mãe e a vendedora discutindo sobre o comprimento do vestido (se era pra diminuir o tamanho da saia também)… As duas no maior blábláblá, ate que enfiei a cabeça pra fora da cabine e disse “precisa não, gosto da saia desse tamanho”… Hohoho poder meter em quando falam de mim fora da minha vista é diumtudo!”

(24/12/12)
“E aí, você descobre que uma musiquinha que sempre tocou na sua cabeça (e você não sabia de onde era) era: …. Tcham Tcham Tcham… A musiquinha dos Smurfs!
Isso que dá perder a audição aos 9/10 anos!!!”

(25/12/12)
“Meus presentes de Natal este ano não vieram em caixas, mas tem um valor que riqueza nenhuma no mundo paga. Cada ligação que faço e consigo ter uma conversa, mesmo que básica (minha tia Fernanda não se inclui, porque a conversa foi hiper complexa) são meus tesouros!!! Amo muito o IC! Feliz Natal”

(26/12/12)
“Quanto mais eu ouço, mais descubro que a maior parte das coisas ditas verbalmente são fúteis pra caramba. Tô começando a achar que devo minha inteligência à surdez, porque graças a isso, fui obrigada a aprender a ler…
E li o suficiente. Grata, surdez, agora vou descobrir meu lado fútil! Bem vindos, sons!”

(27/12/12)
“Sabe o que é engraçado redescobrir a vida aos 35 anos? É que a gente percebe o quanto do banal do cotidiano nos escapa, se você é privado de um sentido. Descobri, por exemplo, que todo mundo fala durante o abraço “Feliz natal pra você e pra toda a sua família!” “Que você tenha um ano novo maravilhoso” (sim, foram coisas que eu ouvi). Aposto que perdi um número infindável de frases dessas ao longo da vida. Tudo bem, porque não faz diferença entender, mas realmente eram coisas que me escapavam.
Também descobri que os vendedores SEMPRE desejam feliz natal, boas festas e outras coisas do tipo, quando você já está de costas pra eles (não sei pq fazem isso, mas fazem)…
E, como é meu primeiro natal de real cyberouvinte desde os 10 anos, muitas vezes fico tão encantada, que acabo totalmente sem reação. Se antes passava por mal educada por não responder (o que não ouvi), agora passo por mal educada por puro encantamento hehehehe”

(28/12/12)
“Primeira vez no cinema como biimplantada. Nossa, que diferença faz! Fiquei abestada (tá, mais que o normal) com a qualidade dos barulhos, de descobrir a importância das musicas nas cenas… Ameeeiiii”

Que 2013 seja a mais bela melodia do mundo!

Beijinhos sonoros e feliz 2013

Lak