Tenha a santa paciência…
Outro dia, estava conversando com a Anna, amiga virtual (por enquanto, por causa da distância), amiga da Rê, uma amiga de Portugal que eu amo. Ela veio me perguntar no MSN sobre o Implante, porque ela brincou comigo no twitter em relação a música e eu expliquei que sempre vou ter uma certa dificuldade com algumas coisas, visto que 18 eletrodos jamais substituem com perfeição milhões de células nervosas (mas claro que substituem muito bem, embora com diferenças consideráveis) e ela comentou que não sabia disso, que achava que era uma audição normal…
Dai, eu expliquei o que sempre explico aqui no blog, que a tecnologia (ainda) não consegue substituir 100% das funções da natureza (embora, nalguns casos, a supere, caso das próteses de pernas cangurus), mas que o Implante Coclear faz muito bem o trabalho dele e eu sou feliz de usá-lo.
Depois de uma boa conversa sobre as particularidades do IC e da vida de cyborg, Anna disse: “Você sempre tem uma santa paciência de explicar nossas dúvidas.”
Dando a real (adoro essa expressão, o contrário seria “mentindo na cara dura”?) eu não sou a pessoa mais paciente do mundo não. Sou daquelas pessoas que xinga todos os antepassados alheios quando precisa encarar uma fila.
Mas, quando se trata de uma forma peculiar de vida que eu vivo, não acho que o mundo tenha obrigação de se informar e saber nada. Acho que me cabe explicar timtim por timtim de como funciona a prótese auditiva e o implante coclear ou porquê a voz de surdo oralizado pode ter sotaque ou porquê leva anos pra gente conseguir compreender bem a fala sem a leitura labial. Simplesmente porque ninguém aprende isso sem ler a respeito ou que outro deficiente auditivo explique. Pergunte-me o que eu sei sobre cegueira ou epilepsia, pra ver se eu sou tão expert assim no assunto.
A única coisa que me faz perder a paciência, confesso, é falarem comigo em Libras, em resposta da minha verbalização oral, por conta do estereótipo de que ela é uma forma de comunicação apenas e não um idioma a ser aprendido como qualquer outro. Se eu estivesse falando em sinais, acharia lindo responderem em Libras, confesso. Mas fala oral, se responde com fala oral. Fica a dica!
Beijinhos sonoros,
Lak
Uma vez fui numa loja e perguntei sobre o preço de uma máquina digital, marca, etc. e o vendedor me respondia direitinho, conversamos direitinho. Acho que ele deve ter falado alguma coisa comigo e eu não percebi (não ouvi – distraída olhando a máquina), e ele me perguntou se eu ouvia e disse que não. Ele disse que a mãe é surda e começou a conversar comigo em Libras. Ele parou de falar de repente. Só Libras. Saí da loja sem comprar a máquina. Fez merda, perdeu a comissão. Não tenho paci~encia não. hihihi
Duas!
Lak,
vou falar por mim mas vou “generalizar”.. acho que quem te segue no twitter e que não conhece (ao vivo) ngm com deficiencia auditiva, talvez caia nessa besteira que eu caí de achar que o IC resolve da mesma forma que um óculos pra quem tem miopia (ou astigmatismo, hipermetropia etc..).
Não é um assunto que a gente tem contato com frequência, não se vê matérias na veja, na istoé sobre os beneficios do IC (ok, nao que eu tnha visto) ou sobre o que vc pode fazer pra deixar seu IC radical na Capricho, etc etc (essa parte foi obviamente uma brincadeira).
Teu twitter e teu blog são canais pra nos… “designorantizar”
hahaha pois é, como disse, eu não sei muita coisa tb.
Beijos
Oi Lak!
Esta semana eu fiquei muito preocupada pois descobri que a Alessia (nossa amiguinha Italiana) vai ter na sala de aula uma interprete de Libras! Quem me contou foi a avó dela que foi ao meu consultório com a priminha. Eu não consegui falar com a mãe dela pra confirmar esta história que prá mim é totalmente sem sentido! A Alessia está implantada bilateralmente e tem 2 anos e 5 meses!!!
Vocês que entendem muito melhor do assunto, o que acham??
Beijos!
Ela foi alfabetizada em Lingua Italiana de Sinais junto com italiano, se bem entendi, tanto que acho ela fala em sinais e em italiano. Mas não tenho certeza.
Hoje em dia, empurram interprete pra tudo que é surdo aqui no Brasil tb. Ajoelho e agradeço aos deuses de não ter pegado essa época, porque eu ficaria PUTA de em enfiarem um idioma que não é meu, não é similar ao português e dá um trabalhão traduzir os sinais pra portugues, pra fazer sentido pra mim.
Mas, no caso da Alessia, acho que ela deve ter afinidade com os dois idiomas e aí, não teria problema.
Não sei, porque não tô muito a par. Se a pessoa é bilingue, perfeito. O problema é quando ela não é, meu caso.
Beijos
Lak,
Não sei se é porque ouço razoavelmente bem com os aparelhos auditivos, mas nunca ninguém respondeu para mim em libras, mesmo eu mencionando minha deficiência e o uso dos aparelhos, acho que se um dia acontecer vou cair na risada, juro! Vou levar um susto, como se no meio da conversa alguém começasse a falar chinês. Acho que é uma boa idéia, quando isso acontecer responda em francês kkkkkkkk
bjs. 😀
Provavelmente é por isso sim ou vc tem muita sorte (e, nesse caso, jogue na mega sena!! haha)…
Sobre responder em francês, o Edu sugeriu isso tb hihihi um dia, eu faço isso, com certeza!! 👿
Beijinhos
OI Lak! Concordo plenamente… fala oral se responde com fala oral… Também fico muito 👿 qdo começam a falar comigo em Libras mesmo quando sabem q sou oralizada. Alias, fiz umas aulas de Libras e o professor teimou comigo q, por ser surda, eu tinha obrigação de saber a linguagem de sinais e nao falava oralmente comigo de jeito nenhum, mesmo eu explicando q nao entendia nada e q , por ser oralizada, preferia falar do q sinalizar. Não tem q nos impor a Libras. A oralidade é nossa opção e deve ser respeitada.
Verdade seja dita, existe espaço pra sinalizados, oralizados, bilingues e implantados.
Beijinhos
Estou adorando ler teu Blog. Sou do RS. Sou mãe de um menino de 5 anos com perda Auditiva Bilateral Severa-Profunda. Ele usa apar. Auditivo desde 1 ano e meio. Fez grandes progressos. Mas a linguagem dele, é claro, não é perfeita. Um médico de Porto Alegre sugeriu o IC e me alertou que era importante fazer ate os 5 anos. As últimas audios sugeriram um aumento da perda. Estou com muitas dúvidas. O que você acha? Pode me dar uma luz?…
Luciane, é comprovado que, quanto mais cedo o IC for feito, melhores são os resultados, porque o cerebro ainda está formando a memória auditiva e consegue assimilar melhor os estímulos sonoros. O médico tem razão.
Você tem orkut? Se tiver, procura a comunidade “Implante Coclear”, lá tem relatos de várias mães de crianças implantadas e, com elas, você conseguirá esclarecer algumas dúvidas que estão além da minha alçada.
No mais, se quiser conversar por MSN, é só avisar, que te mando meu endereço. No que puder te ajudar, estou às ordens.
Beijos
Lak, essa da Libras…rsss
Poxa, todo lugar é assim, vc sabe né já tentaram me impor o uso de libras na facul, mas eu deixava claro sempre que não é comigo! Deviam usar libras com quem usa e não tentar nos obrigar a tal coisa. Nossa impaciência não é assim à toa!
Até minha família e meu namorado detestam isso, acham pura ignorância da parte deles, temos de respeitar cada espaço. Como vc citou, tem espaço pra oralizados, sinalizados, implantados.
bjos!
Eles que gostam de nos irritar…rss
Pois é… vc entende melhor do que ninguém esse assunto…
Beijos
oi “lak” legal seu nome he he,
procurando no google sobre “iseçao de ipi para surdos” encontrei esta jóia preciosa que é o seu site, impossível nao adciona-lo nos meus favoritos, sou deficiente auditivo desde os 12 anos de idade, fiz uso de aparelho auditivo durante 20 com praticamente 100% de ganho, so que com o tempo fui perdendo audiçao e nao consigo mais ouvir como antes, ta péssimo, parece que fiquei surdo de vez, ja faz 5 anos que nem o aparelho eu uso mais, e gostaria de saber mais sobre sua experiência com o implante coclear, tenho muito medo de fazer o implante, por ser irreversivel. Queria saber sua opiniao e dos leitores a respeito do meu caso.
Obs; eu converso normalmente, e tenho uma exelente leitura labial, mas gostaria muito de ouvir novamente, inclusive o canto do bem-te-vi.
abços, junior.
Junior,
entendo perfeitamente seus anseios de voltar a ouvir e seus medos quanto ao Implante Coclear.
Sou a maior entusiasta do IC, porque ele me permite ouvir coisas que nenhum aparelho permitiu ou permitiria, já que minha perda é muito grande. O IC não apenas amplia o som, ele cria uma audição artificial próxima da natural, conduzindo o som até a cóclea e reproduzindo o trabalho das células nervosas. Claro que são 12 ou 22 eletrodos (depende do modelo) substituindo milhões de células ciliadas, mas eu diria que reproduzem com fidelidade inigualável e que já pude ouvir sons que nem lembrava mais que existiam. Miado de gato? Nossa.. Bem-ti-vi? Caramba… eram sons que já tinham, inclusive, sumido da minha memória, porque não achava que poderia ouví-los novamente.
Que o IC é irreversível – na verdade, é possível tirar o IC com a remota chance dele não ter afetado a audição residual – é verdade. Eu pensei muito nisso também. A minha decisão foi colocar o IC num ouvido e deixar o outro preservado pra, quem sabe um dia, tentar outra tecnica mais moderna de recuperação auditiva. Por outro lado, decidi fazer logo, porque é importante viver o hoje e ficar preocupado de não “estragar o ouvido” por algo que pode levar 1 década ou mais, me faria perder (ainda mais) momentos preciosos do presente. O IC bilateral é excelente, mas unilateral também tem um ganho fantástico! Finalmente, pude voltar a relaxar ouvindo musica, descobrir o prazer de ouvir musica dirigindo, ouvir um monte de bobagenzinhas do dia a dia e, mais importante que tudo: ouvir novamente a voz dos meus pais, conhecer a voz do meu marido e de vários amigos.
Não deixe de buscar informações sobre o IC no seu caso, de repente, é uma possibilidade.
Grande beijo