A sutileza que beira à mediocridade

Hoje, o texto é de Renato Amaral, um amigo, a respeito do pensamento de algumas pessoas de compararem as dificuldades que OS OUTROS passam.

Gostei da argumentação dele, porque concordo que há coisas que não podem ser comparadas, porque cada uma delas tem suas mazelas que outras coisas não teriam. Portanto, é falta de sensibilidade ficar fazendo hierarquia de quem pode reclamar mais ou menos, diante de uma dificuldade pessoal. Bem aquela frase do Caetano “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

A sutileza que beira à mediocridade

Absurda é a afirmação de que é mais sutil ser surdo do que cego ou que, há entre uma deficiência e outra maior ou menor incapacidade.

Tão absurdas quanto essas afirmações é pensar, que o surdo teria uma vida melhor se ao invés de surdo fosse cego, ou que o cego, ao invés de ser cego fosse surdo teria ele uma vida menos sofrida. Toda a deficiência, seja ela de que natureza for, traz em seu bojo a sua perda, o seu sofrimento e a sua superação. De modo que, é imprudente ao deficiente imaginar que sua vida seria melhor se pudesse escolher entre uma desgraça a outra, isto porque, não tem ele, o deficiente, mecanismo para conhecer a perda de outra deficiência mas, a sua própria. De tal sorte, se imprudente seria aos deficientes assim pensar, aos não deficientes então, que não carregam em seus ombros algum tipo preconceito ou limitação, é de se supor que seria arrogância e prepotência de sua parte, imaginar a possibilidade de tal absurdo.

Ninguém escolhe ser deficiente. Ninguém escolhe o tipo de deficiência que possui. Mas aprender a lidar com a sua limitação, superar os reveses e não raras vezes, surpreender a si mesmo, fazendo da deficiência um estímulo para vencer os obstáculos que a vida impõem, é sem dúvida o caminho para a busca de uma vida feliz.

Que os homens e mulheres esbravejam as suas sutilezas mas não essas, que beiram a mediocridade humana com afirmações desprovida de conhecimento e irrelevância social pois dessas, o mundo já esta fadado. Precisamos todavia, das sutilezas que vêem além de si mesmo, que visam o bem comum, a coletividade, o bem estar e a inclusão social de aproximadamente vinte e quatro milhões de deficientes Brasil afora. A sutileza de guerrear por melhorias ao cadeirante no transporte público, nas calçadas, na ampliação de leis aos cegos, menor restrições aos cães guias, melhoria na adaptação dos profissionais com alguma limitação nos locais de trabalho, melhor qualificação de profissionais para lidarem com os mais diversos tipos de deficiências no ensino da rede pública e tantos outros projetos engavetados no Congresso Nacional. Mas mais do que isso, respeito e consciência humana, bem como solidariedade para com aqueles que necessitam de maior atenção é fator essencial quando não, elementar a inclusão social em prol da exclusão dos mesmos.

É dessas sutilezas que o Brasil precisa e que milhões de deficientes necessitam. Sutilezas feitas por corajosos e que agigantam-se diante da hipocrisia social pois, conhecem a necessidade e a importância da inclusão social. Quando então, a mediocridade for deixada de lado e essas sutilezas surgirem, haverá a efetiva inclusão de milhões de brasileiros hoje excluídos da sociedade, abrindo assim, espaço para que a esperança, o respeito e o amor ultrapasse todas as barreiras da desigualdade social e o sonho de muitos se tornem realidade.

Renato Cézar Ananias do Amaral – 25 anos, natural da cidade de Itápolis – Estado de São Paulo. Bacharel em Letras pela Faculdade Claretiano de Batatais. Bacharel em Direito pela Faculdade da UNAERP – Ribeirão Preto. Deficiente auditivo portador de AASI e Implante Coclear. e-mail: renatocamaral@ig.com.br

Beijinhos sonoros,

Lak

 

11 Resultados

  1. SôRamires disse:

    Argumentação inteligente e criteriosa contra essa tendência de comparar o incomparável. Parabéns Renato e Lak. 🙂

  2. Simone disse:

    Texto muito inspirador! Aaaah! Gostei! 🙂

  3. Deni disse:

    Apropriando o título do post, um texto escrito com sutileza… Parabéns!

  4. Andrey Eduardo disse:

    Adorei o texto! Concordo em número, gênero e grau! Parabéns pelo texto! 😀 😈

  5. Greize disse:

    Ótimo texto, parabéns! 😉

  6. Daniel Amaral disse:

    esse é meu irmão!!! te amo!!!

  7. karitha disse:

    😐 Olha muito bem tratado no texto a questão da mediocridade velada na polidez das pessoas…Acho um tédio o ponto de vista que muitos têm sobre ineficiências,carregados do giz do ”politicamente correto” como tambm discordo veementemente de idéias distorcidas de inferioridade,comparações e ppalmente de protecionismo para com os ineficientes…Como educadora que vive a era da inclusão,afirmo com propriedade que a família e o estado que deveriam olhar o ineficiente com olhos de alteridade e direitos iguais,são os que mais pioram a situação dos ineficientes…a família por muita das vezes tolher o amadurecimento emocional e autossuficiente do indivíduo e o Estado que visa tampar anossssss de exclusão social,com medidas nada equitativas,uma pseudo proteção legal que confere aos ineficientes,não direitos iguais,mas uma carta de ”café com leite”,de passe livre,de cotas,de facilitação,ao meu ver uma esmola perto do que são capazes de realizar por si só,se apenas fossem vistos como iguais,nem menos,nem mais…Isso vale para todas as minorias…

  8. karitha disse:

    😈 Feliz Dia do saci a todos!!!

  9. Rogério disse:

    Deficiência é uma coisa, ineficiência é outra. Meu chefe, por exemplo, é um atleta que corre sei lá quantos quilômetros por semana, pratica artes marciais e nos fins de semana brinca de jet ski. Super homem? Não, um ser ineficiente na arte da liderança e das relações interpessoais.
    Perfeito o texto do Renato, e é interessante quando ele fala das ‘sutilezas’ como sinônimos de atitude. Sintetizou de maneira brilhante aquilo tudo que diariamente discutimos por aqui.

  10. Bruna disse:

    Adorei o texto Renato! 😉

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