Ahhh, é carnaval…
Semana que vem, mais precisamente na terça-feira de carnaval, faz 2 meses que eu me tornei oficialmente ciborgue. Dois meses de ativação, de redescobertas sonoras, muitas risadas de surpresa e lágrimas de emoção. O universo sonoro é rico demais para ser resumido em 2 meses de audição, mesmo que muita gente fique indignadinha (sim, começa a me irritar alguém vir com papinho “ah, então esse troço não funcionou pra nada” quando explico que não, ainda dependo 100% da leitura labial, como se um bebê de 60 dias tivesse um vocabulário de compreensão riquissimo, sendo que ele tem milhões de células nervosas contra os meus míseros 18 eletrodos) de eu ainda não estar compreendendo até dialeto élfico só de ouvido.
Mas, na terça-feira de carnaval, também seria o dia que completaria 23 anos que acordei completamente sem audição, em fevereiro de 1987. Tempo demais para alguém viver em silêncio…
A minha memória vem sendo reativada, para reconhecimento sonoro – tem sons que já reconheço de imediato, sem nenhum apelo visual, como o som da chuva, latido de cachorro ou o timmer do forninho elétrico lá de casa – mas também vem resgatando lembranças que haviam ficado adormecidas com o tempo.
Nos primeiros meses de sons silenciados, o que me assustava era a ausência de coisas que eu nem sabia que gostava. Por exemplo, a primeira vez que vi uma escola de samba na avenida (a gente acompanha pela tv, né?) sem o som do samba enredo enchendo o ambiente. Aquilo parecia insano, um bando de gente fantasiada dançando em coreografia marcada por… silêncio. A sensação de perda que me invadiu acabou virando uma pneumonia de tristeza…
Com o passar do tempo, fui deixando essa sensação de lado. A gente aprende a viver sem o que não tem mais. Aprende a ler o movimento das coisas e criar um som mental. Aprende a colocar, por imaginação, som em tudo – que nem sempre corresponde à realidade, mas ao que a gente gostaria que fosse.
Aprende a superar a dor, porque é simplesmente dolorido demais ficar alimentando-a.
Eu deixei de gostar de carnaval com o passar do tempo, mas acho que tem mais a ver com a idade – já que criança sempre adora uma farra – e, raramente, me dou ao trabalho de assistir uma escola de samba passar pela avenida. Perdi o hábito, simplesmente.
Mas agora, com o implante, fico entre o medo e o desejo, de assistir um desfile pela televisão, ouvindo o samba enredo encher o ambiente que eu estiver…
Sou medrosa, admito, tenho medo de decepções, de frustrações e fico pensando “de repente, ano que vem é melhor”….
Hehehe seja como for, desejo a todos um maravilhoso carnaval, cheio de luz, cheio de festa, cheio de sons, cheio de graça e que as lembranças sejam sempre as melhores!
Beijinhos sonoros,
Lak
Lak muito obrigada por dividir aqui no blog mais uma parte da sua história.
“A gente aprende a superar a dor, porque é simplesmente dolorido demais ficar alimentando-a.”
Eu não gosto muito de carnaval, porque minha mãe colocou isso na minha cabeça, mas gosto de um samba partido alto e gostaria muito de saber sambar de verdade 😳 . Bjs estalados ! !
Hehehehe eu tenho birra de carnaval, mas quem sabe, logo eu curo isso? hahahaha
Beijos
Lakinha, tenha paciência com os desavisados, eles não sabem o que dizem ahahahha… de resto, que vc possa sentir a vibração das marchinhas ou mesmo da batucada nas escolas de samba!!! Beijocas
Não é a mesma coisa que ouvir a melodia bater no mesmo ritmo do coração! Mas a gente tenta, né? O que importa é não desanimar de vez…
Bom carnaval ai…
Beijos
É muito óbvio que você esteja reconhecendo o som da chuva morando em São Paulo. Todo dia é uma experiência diferente, até que horas vai chover, quanto vai alagar e que horas vamos conseguir chegar em casa… Brincadeiras à parte, pois também estou tomando chuva todos os dias, não se preocupe, coragem não lhe falta, do contrário você não chegaria onde chegou.
Hahahahaha é, já me falaram isso, que morando em SP tô escolada em barulho de toró… hahahaha
Beijos
Puxa vida Lak, estava eu aqui pensando como o deficiente auditivo interpreta o carnaval, ja que eu não gosto de carnaval. E você além de ciborg virou leitora de mente. Obrigada pelos esclarecimentos, bom carnaval.
beijos
Deficiente auditivo é um termo muito amplo. O que eu disse serve pra mim, não como regra. Não sei como os outros fazem, porque é muito pessoal…
Sei que tem muitos que gostam sim!!
Beijos
carnaval modelito carioca eu dispenso mas o carnaval de Recife e Olinda é uma maravilha e explico porque, porque a base é musical, frevo com metais tocando na rua e maracatú os tambores que vibram o chão e o coração da gente (sou paulistana mas me arrepio com a lembrança do maracatu e frevo)
e também não dispenso as marchinhas de antes, as de agora são poucas.
Porque essas músicas são antes de tudo música, não somente batucada que para mim resulta tudo igual.
E adoro carnaval de interior onde homem se veste de mulher, marmanjo coloca fralda e chupeta, alguns fazem tranças com réstia de cebola…
Em Buenos Aires a ditadura militar dos anos 70 acabou com o carnaval que agora revive como desfile de “murgas” que junta a turma do bairro, velhos jovens e crianças e até cachorro acompanha o desfile.
Carnaval de massa apara exibir na TV é uma chatice, conseguiram estragar até o carnaval da Bahia que também era uma delícia.
Para manter minha memória sonora vou colocar um disco de marchinhas e cantar junto.
hahahaha bom esse teu relato, Sô!
Beijos e bom carnaval!
Lak, carnaval pra mim só o de Pernambuco mesmo (nem sou bairrista né? rsrs)
Você iria adorar conhecer e se encantar com a diversidade de ritmos, imagina só você no desfile do Galo da madrugada?? kkkkkk
Beijão pra tu!
Um dia, irei… hehhe beijos
Lak, eu também gostava muito mais de carnaval antes do que hoje, mas por uma razão simples, antes eu ia pra rua dançar ou pro clube, eu era parte integrante da folia.
Assistir pela televisão é como ver alguém almoçar, completamente sem sabor! 😀
Beijos!
Mas sabe que ver a folia no Sambódromo (já fiz isso, não sei se antes ou depois de perder a audição, o mais engraçado) é mais contagiante, mas perde um pouco a graça, pq a gente vê tudo de um ângulo só.
Enfim, quando a Mocidade Independente desfilar na Sapucaí (nossa, será que já foi?) capaz de eu assistir sim.
Beijinhos
Lakita minha flor…como sou fanática por música e faço o possível para manter minha memória auditiva andei pesquisando vídeos que mostam os instrumentos e seus sons…estou colocando no blog SULP porque pode ser útil para outros surdinhos. Dá uma olhadinha.
OBAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
Este é um dos vídeos que falei
pode servir para treinar a identificação dos sons. Bjs
Alalaô, ô, ô, ô, ô!!!!
Mas que calor, ô. ô, ô, ô….
É isso ao querida, todo carnaval é bom ou ruim, acho que dependendo do estado de espírito. Com certeza, necessita de motivação pessoal pra coisa acontecer. Acho que se vc encarar um bloco de sujo esse ano, vai adorrrarrrrrrrrrrrr!
Pra vc: ”Eu vou tomar um porre de felicidade, vou sacudir, vou sacudir toda cidade…”
Vc nos sacode menina!
Beijão
Eu tô de pé quebrado, fica pro próximo hehe
Mas assisti UM desfile e realmente, ouvir o batuque é tudo de bom!!
Beiijo
Lac , ai tá certo porquê: “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é!
É ruim da cabeça ou doente do pé…” he he he…
Hahahaha pois é, esse ano, eu tô doente do pé hihihi
É muito bacana acompanhar suas descobertas aqui pelo blog, Lak. Espero que sua vida e suas descobertas continuem sendo incríveis nesta nova fase, e que no ano que vem vc assista ao desfile das escolas de samba – quem sabe in loco? – e tenha uma experiência incrível em todos os sentidos, afinal de contas a bateria traz uma emoção incrível. Beijo grande
Que sabe, né? Ano que vem, já estarei bastante afinada (hehehe literalmente) e, possivelmente, aproveitarei ainda mais que agora….
Beijão e obrigada pela visita, sempre!
Lak, eu fico um tempão sem vir aqui (não por falta de vontade) e quando volto invariavelmente me emociono. Delicia seu texto. Linda você. Emocionante sua história. Beijos.
Hehehehe que bom! Achei esse post meio forçado, vai? hihi
Você não está perdendo nada 😉 rsrsrs
Muito legal a forma como compartilhas tuas experiências aqui =)
Curtindo muito
=*
♥
hehehehe obrigada, Joyce.
Beijocas
Eu passei a gostar de carnaval qdo fui morar na frente da Vai Vai. Apesar de imaginar que seria uma tortura aquele batuque todo, fui contagiada. Os tambores batem no coracao. Ja nao moro la, agora ando meio que pelo mundo, mas ficou isso. beijao
hehehehe ainda bem que você gostou, né?
Lak, tudo bem?
Eu adoro carnaval do Rio. Sempre saí nas Escolas de Samba Portela, Mangeira, Grande Rio e Unidos da Tijuca ( a que eu mais saía). Perdi a audição no final de abril e esse foi meu primeiro carnaval surdo. Só consegua sentir as vibrações dos blocos (Bola Preta e aqui perto e casa) mais nada. Fiquei muito triste nesse carnaval, quase não saí de casa. Ficava lembrando do carnaval do ano passado, como me diverti com meus amigos.
Estou fazendo exames para o Implante Coclear mas sei que o som não vai ser Igual aquele carnaval que passou.
Fique com Deus e um grande abraço
Talvez seja sim, Jorge. Lembre-se que vc ficou surdo muito pouco tempo!! Tenha fé, querido.
E sei o que vc tá falando. O carnaval fica muito diferente sim!
beijos