Ode às mães de usuários de implante coclear
As mães dos implantados
Mãe é uma palavra, que por si só, já é praticamente um ode inteiro.
Mas, mãe de implantado, sei lá, parece formar um grupo destacado.
Não sei se porque, pelo menos virtualmente, convivo muito com elas e acabei mudando, e muito, a minha perspectiva em relação ao próprio implante.
Não vou fingir que imagino como é a sensação de descobrir que seu filho é surdo.
Eu sei a sensação de acordar completamente surda, de um dia para o outro, sem qualquer explicação. Mas não faço a menor idéia do que seria receber essa notícia. Não numa sociedade que coloca a deficiência como um estigma que carrega consigo o atestado de fracasso: “Seu filho tem a deficiência X, ele nunca vai ser nada na vida, conforme-se.”.
Nem vou fingir dourar a pílula, até hoje é assim que muitas mães recebem a notícia.
E, no caso do implante, as más notícias não param aí. Elas podem até receber o prognóstico favorável ao implante coclear, mas junto com ele, recebem também olhares tortos e palavras ásperas de gente que é contra o implante. “Você está desrespeitando a natureza do seu filho.” Dizem outras vozes preocupadas em discriminar os implantados.
Tanto que muitas ficam com medo, ficam na dúvida, ficam com receio. Porque o implante, não é assim, um sapato que se calça no pé na hora que dá vontade. Requer exames, requer avaliação, requer tempo, requer anestesia, requer cirurgia, requer um aparelho dentro da cabeça o resto da vida.
Tudo isso, feito para possibilidades e não certezas.
O implante pode dar certíssimo, mas também pode não dar. Inclusive sem explicação nenhuma. Pode custar uma fortuna, mas nada garante que a criança vai estar falando dali uma semana, um mês ou um ano. Pode levar o tempo dela. E pode simplesmente não dar certo. Quem há de saber?
Mas, mesmo diante dessas possibilidades, as mães dos implantados encaram passar por tudo isso. Colocam a fé na tecnologia par a par com a fé em Deus, de há de dar certo. E confiam no cirurgião, no anestesista, na fonoaudióloga e entregam seu coração que bate fora do corpo (não é assim que as mães chamam seus filhos?) em troca de uma possibilidade. Porque sem passar por isso, só resta a certeza da surdez.
E assistem vídeos bonitinhos de crianças que riem e procuram a voz da mãe quando ativam e se esforçam de maneira sobre-humana, para não criar expectativas, porque sabem que a maioria das crianças chora diante da ativação. E tentam disfarçar a frustração – porque todos nós criamos expectativas para o melhor sempre, somos movidos a esperança – quando bebê rejeita o IC nos primeiros dias. E suspira de alívio quando isso para de acontecer.
E tentam permanecer fortes, quando comparam os filhos com outras crianças implantadas, já que sabem que cada criança tem o seu tempo, e o filho da amiga começou a falar com 1 mês de ativação e o dela, há 7 meses ativado e nada.
E enfrentam com garra os olhares de compaixão “Ai, coitadinho? É deficiente?”, os comentários mal educados “Que coisa horrorosa é essa na cabeça do seu filho?”, os desajeitados que não sabem falar com a criança. Os sem noção que apontam e falam pras outras crianças não chegarem perto.
As mães dos implantados se tornam especialistas nessa tecnologia da noite pro dia, sabem como se chama cada peça do implante, sabem trocar pilha, sabem como correr para a assistência técnica. E se não sabem, dão um jeito “pra ontem” de descobrir.
Mas, elas também se emocionam com cada palavra, com cada olhar ao chamado, com cada frase dita, com cada música que a criança canta e cantarola.
Elas aprendem a viver cada momento com intensidade, com esperança, com paciência, com fé. Aprendem a ajudar umas às outras….
Tudo isso acreditando que fizeram o melhor, mesmo sem a certeza de que o filho vai aceitar bem o IC no futuro. Quem sabe?
Se as mães merecem o título de guerreiras, essas mães merecem o título de generais.
Às mães dos implantados, meu respeito e admiração eternos!
beijinhos sonoros,
Lak
Obrigada Lak, é exatamente isso que nós mães passamos, além de toda a dificuldade, medo e insegurança de ser apenas mãe!
As coisas mais banais do mundo, nem sempre são tão fáceis assim. Mas, certamente são muitissimo preciosas.
Beijinhos
Oi Lak, sou mãe e fiquei muito emocionada com as suas descrições dos desafios e conquistas do implantado e sua família. Miguel, meu filho, meu anjo, está com 3 anos de idade e implantado bilateral, conquistando a cada dia o mundo dos sons e da fala!
Que bom, Carol! Ouvir é uma delicia. Mas compartilhar os sons com quem amamos, é um dádiva, né? Beijinhos
Olá, fiquei sabendo de seu livro através de um site e acabei chegando a esta pagina, muito boa e sensível, além de informativa. Sou psicóloga e a um ano estou acompanhando e auxiliando um cliente de 4 anos (atualmente) q perdeu a audição e hj esta com implante coclear, vou indicar seu livro, pois sempre orientei aos pais buscarem informações e trocar experiencias com quem passou pela mesma situação q eles. Parabéns pelo seu trabalho.
Obrigada, Luciana.
Beijos