Auditivamente capaz
Ontem, não vim ao blog, porque foi o dia do primeiro mapeamento do Implante Coclear.
É relativamente difícil explicar bem o que é esse mapeamento porque, infelizmente (e reconheço que também faço isso com o que desconheço) é complicado aos ouvintes com pouco ou nenhum contato com deficientes auditivos, compreender como a audição funciona, que o IC não é e jamais será um ouvido natural e que, especialmente alguém que permaneceu 23 anos sem ouvir determinadas frequencias, o retorno ao som é um processo lento e gradual. Não simplesmente liga-se o aparelho e ponto, ouve-se perfeitamente como um ouvinte. É algo artificial implantado no meu corpo, que requer tempo, paciência, aprendizado, curiosidade, esforço, força de vontade para funcionar o mais próximo possível da audição natural.
Mais do que simplesmente o som chegar no cérebro, ouvir requer memória do som (saber que tal som significa tal coisa), algo que fui perdendo ao longo do tempo e preciso refazer todas as sinapses de identificação auditiva praticamente como se recomeçasse do zero.
E, como se trata de um impulso elétrico, o cérebro vai se acostumando com o volume aos poucos, uma das razões pela qual fazemos mapeamentos.
O mapeamento serve, além de aumentar o volume dos sinais enviados ao cérebro (para ver como funciona exatamente o IC, basta assistir o video do post Visualizando a Audição), ele funciona como uma espécie de afinamento do som, tal como cordas de violão sendo afinadas e equalizadas até que seja possível produzir notas musicais perfeitas.
E assim como é difícil compreender algo que não se passa em você, é ainda mais difícil explicar algo que se passa em você, mas que os outros precisam de uma referência completamente aleatória para compreender.
Bom, voltando à consulta de ontem…
Em primeiro lugar, eu precisei desabafar no ombro da Dra. Valéria (um anjo de candura e paciência com meus questionamentos) que me sentia um pouco frustrada, porque pra tudo, eu preciso de confirmação visual para saber o que é. Sempre que dá, pergunto a outra pessoa para explicar/confirmar o que se trata o som. E que isso me desanimava, porque me sentia preguiçosa, já que auditivamente, não sou lá muito capaz de reconhecer quase nada. Ela explicou que isso não é ruim, mas excelente. Que ela sempre pede aos pacientes para serem curiosos assim na primeira etapa do IC. Que nenhum som deve passar sem confirmação do que ele é, porque é pela visão (ou satisfazendo a curiosidade através de perguntas) que o cérebro começa a fazer conexão de que tal som é de determinada coisa. Que no começo é assim, já que o tempo de silêncio fez o cérebro esquecer o som de cada coisa, mas que com o tempo, passarei a reconhecer com cada vez mais autonomia auditiva cada som, até que se tornará automático. Manter a criança curiosa que existe dentro da minha cabeça é uma aliada nessas horas hehehe
Contei de todas as coisas que eu já relatei aqui no blog… Do barulho da garrafa de refrigerante, do barulho da chuva, do alicate da manicure. As músicas que eu tento ouvir (ela disse que música é importante, embora não seja prioridade, porque também ajuda o cérebro a habituar-se em apenas ouvir, sem usar a visão junto).
Depois, veio o que é o mapeamento. Basicamente, a parte externa fica conectada a um computador, que aumenta a sensibilidade enviada a cada eletrodo. Dos sons mais baixos até os mais altos, sem deixar de ser “confortável” ouvir. Quando terminamos de mapear (dura aproximadamente uns 20 minutos) ela fez um teste de fala e percebi sons ajudos que eu não estava mais habituada a ouvir: “shhh” “ssss” “ttttch” até mesmo melhor do que os sons graves.
Falei também da minha capacidade de reconhecer os sons pelo padrão que produzem. Dra. Valéria disse que isso é uma percepção excelente, porque trata-se do cérebro trabalhando com presença e ausência de som. Seria mais ou menos como enxergar tudo num tom de cinza borrado, para depois enxergar preto-e-branco com pouca nitidez, depois com mais nitidez, para finalmente enxergar nuances de cores até que elas se tornem cada vez mais saturadas.
Pediu para deixar a sensibilidade do microfone mais baixa do que eu estava deixando, porque eu vou com sede ao pote e quero ouvir todos os barulhos e ruídos do mundo, mas a gente deve se concentrar nos sons da fala, que podem passar despercebidos com o excesso de ruídos ambientes e são a nossa prioridade. Afinal, eu sempre disse que queria de volta, mais que tudo, a voz de todas as pessoas que amo e gosto!
Logo mais, começarei uma fonoterapia intensiva para me ajudar nesse processo de transição de retorno ao barulhento mundo em que vivemos…
Quem sabe, uma hora dessas o telefone de vocês toca e serei eu para dar um alô? Sonhemos alto hehehehe
Beijinhos sonoros,
Lak
Depois que eu vi no NatGeo um senhor cego pintar figuras perfeitas usando cores (com matizes!) e perspectiva… meus amigos céticos não me leiam mas eu até me persiguinei!!! 😀
A explicação dos cientistas (tb perplexos pq tentaram “desmascarar” o cara com experiências!) foi essa: o TATO tem uma participação maior na constituição da visão do que se podia imaginar até então… a ideia das pesquisas (feitas tb em pessoas com outras habilidades sinestésicas) era conseguir mapear os genes específicos que se ativavam durante as experiências e daí entender esses mecanismos silenciados/alternativos da percepção pra no futuro conseguir estabelecer tratamentos.
Lak… se o tato tem um papel importante na visão, pq a habilidade de escrita (clareza e – mais ainda – rapidez!) não pode acabar potencializando a audição, ein?… se for o caso, vc logo vai acabar escutando tanto quanto uma baleia!… 😛 (tenha paciência e abaixa o volume!!!!! rsrs )
beijos beijos!!!
O tato tb é muitissimo usado como substituito da audição. Afinal, sons vibram, embora nem sempre tenham forma visual. É comum, por exemplo, eu tocar num aparelho eletronico pra saber se ele está ligado, quando estou com a audição em off.
Beijos
E o sonho vai ganhando contornos…
😳
É isso aí Lak, cada dia um novo passo!
Como as patricinhas dizem: “Beijo, me liga!” 😛
Logo logo hahaha Beijos
Lakinha você e a Alessia estão caminhando juntas. Ela também fez o mapeamento, né? Entendo sua ansiedade e não tenha pressa. Crianças custam a aprender. Elas repetem a mesma coisa várias vezes (andar, falar, cantar) até conseguirem. Já que você é uma criança um pouco mais crescidinha, o tempo se encarregará de te ajudar. Beijos 😉 😛
Todos fazemos varios e varios mapeamentos… É parte do Implante Coclear…
E sim, sou uma criança crescida mesmo. Com a paciencia de um adulto hehehehe Mas tudo bem, nada que uma bronca não tenha feito rever a perspectiva!!
Beijo
Hei! Que coisa boa ler isto tudo!
Criança aprende exatamente por ser curiosa, teimosa, insistente e cara-de-pau! Pergunte sempre e muito, e por favor…ligue quando quiser!
Beijos!
Zuleid
Hahahaha olha que vc ainda vai olhar pro celular, ver meu numero na bina e pensar “oh não! A Lakita de novo?” hihi
Beijos
Parabéns…pelas conquistas e pelo «puxão de orelhas da dra.»!!
Lembras-te que te disse que quando coloquei a minha 2º prótese voltei a ouvir sons que já não ouvia há 1 ano? E tenho surdez moderada e já tinha 1 prótese!! E levei dias a té conseguir reconhecer esses primeíros sons!! E coisas muito simples! Como nós dizemos por cá «calmex»!! Pelo menos tenta lembrar-te do que te disse a médica! …mas não deixes de sonhar não!!
Hoje deixo-te este poema de um poeta português do sec.XX, António Gedeão (que era também professor de Física e Química) e que fala precisamente do poder do sonho! Ah…e também está musicado!!!
PEDRA FILOSOFAL
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
In Movimento Perpétuo, 1956
http://www.youtube.com/watch?v=DuGbpW-pGYg
Coragem!! força!
bjs,
Inês
Queeeeeeeeeee poema lindo!! Obrigada!! Pelo poema e pela torcida valiosíssima!!
Beijinhos
Parabéns Lak!!!!! é muito bom vc escrever cada mapeamento, cada descoberta para depois re-ler um ano depois. Vc ainda está dando os primeiros passos, tem uma longa estrada para percorrer com momentos de muita felicidade e outros de cansanço mas de seguro que vale a pena. Eu tenho outro mapeamento em março e ja fiz um ano de implantada. No inicio tudo era uma massa informe, feito o bing-bang sonoro. Agora acho ouvir natural mas eu sei que nao é assim, mas nao importa é muito legal. O mais legal entender as vozes sem ter que olhar pros labios o tpo todo. Beijoca e pacienciiiiiiiiia 🙂
Adoro a perspectiva que você me dá, tipo “eu sou você amanhã” hahahahahha
Beijão
Lak linda estou com um mini computador conectado via telefone…morrendo de calor em Buenos Aires e com saudades.
Lembrei que para música instrumental é de muita ajuda ver filmagens de grandes orquestras, onde se mostra a execuçao (falta o til) dos instrumentos…assim fica fàcil identificar que som estamos ouvindo.
A Tv cultura tem programas assim. Ou mesmo dvd instrumental de jazz ou mpb tocada como zimbo trio, etc. Porque musica cantada e rock misturam vàrios sons e fica difìcil identificar de uma só vez. Uso esse recurso paa nao perder meu precioso senso musical.
Estou derretendo com 36 graus de temperatura. bjs 😎 😎 😎 😎 😎 só dentro da banheira mesmo
Boas dicas, heim? Musica instrumental deve ser ótimo pra quem tem pouca percepção auditiva, dada a pureza de sons. Vou dar uma procurada!!
Sobre Buenos Aires, já já tô serei eu a ir praí. Tá esse calor todo mesmo? Aff, espero que esfrie nas próximas semanas!!
Beijos
Oi, linda, tô voltando aos poucos. Saudade de você.
Tenha em mente que a curiosidade é um dos componentes mais importantes de todas as descobertas e invenções. Não se cobre tanto, o cérebro é um troço ainda não totalmente conhecido sequer pelos neurologistas. Curta cada (re)descoberta, deixe fluir seu lado criança e pergunte, mexa, chacoalhe tudo o que encontrar pela frente (pensando bem, seja seletiva nesse quesito). Estava estudando ontem, e uma peça de um compositor norueguês me fez lembrar de você. Pra ser sincero não sei por que, mas lembrei. Como você disse que já está mais “amiguinha” dos sons agudos, e o instrumento principal da peça é o violino, pensei em mandar por e-mail para você. Que tal?
MANDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!
Vou amar!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Barulhinho que reparei hoje, notinha especial pra você (vamos ver se vc repara nele), sabe quando vc come pistache ainda com casca e quebra a casquinha com a mão antes de comer? Esse barulhinho é uma deliiiiiiiiiiiicia! Não tinha reparado nele ainda!
Beijinhos
Não tenho muita experiência com pistache, mas no fim de semana passado estava em Pirenópolis e fui apresentado a uma frutinha (será que é fruta?) que não conhecia. O nome é indígena ou de origem africana(dudu, futu, nunu, um troço assim), e aparentemente é parente do amendoim e da castanha. Come-se cru mas a casca se solta como amendoim torrado, e comentei com a galera que o barulhinho era mais gostoso que o tal frufru.
Esqueci de contar: a música se chama Hymn to Hope (emblemático, né?), e a versão que tenho é para piano, violino em primeira voz, gaita de foles e, ao final, um trio de violinos de arrepiar. Espero que goste. Tem duas doideiras novas no cafofo, que acho que você ainda não leu. Beijão.
Hahahahaha descobre o nome, pra eu poder procurar e ouvir o barulhinho hahahaha
Vou lá ouvir a música e te falo… mas sei que vou gostar…
Depois passo no cafofo!
Beijo
Lak,
Você viu no Faustão a matéria sobre I.C. ? Gostei do realce que deram à necessidade de se tentar SEMPRE recobrar a audição!
Bjs.
Eu não vi, mas soube, porque o pessoal comentou nas comunidades do Orkut ( na Implante Coclear & na Surdos Oralizados)… Acho legal essa ampla divulgação que a Globo vem fazendo!!
Beijos
Oi linda!
Mando meu telefone por onde ….
beijos
Hehehe pode mandar por email (te mando um email com o endereço ja ja), mas ainda vou demorar um pouco pra poder te ligar…
Mas, quem está com pressa?
Beijos