Bendito botão de off!

Eu adoro o implante coclear.

Não, sério, estou para conhecer alguém mais fã do implante coclear que eu.

Falta de modéstia – na real, eu não tenho nenhuma, porque modéstia significa se achar o máximo, mas ficar fingindo que não, o que está a anos luz do que eu sou – à parte, sou fã do IC, porque a revelia dele não me dar total autonomia auditiva, ele me faz feliz, me torna uma pessoa completa e me dá forças suficiente para ser capaz de ajudar os outros. O IC pode não ter restaurado totalmente a minha audição, mas restaurou totalmente a minha pessoa! Como não amar algo assim com todas as suas forças?

Amo que o IC me dê acesso aos sons. Que ele me de oportunidade de conhecer tantas vozes de pessoas amadas. Que ele me faça rir às gargalhadas de sonzinhos infinitamente bestas do cotidiano. Que me arranque lágrimas diante de um som que sempre me foi inacessível, como por exemplo, poder ouvir pela primeira vez a abertura das olimpíadas, chorei feito uma bobona.

Mas, se tem algo que eu realmente idolatro nesse pequeno-gigante aparelho que me transformou em quem sou hoje é o bendito botão de off.

Sim, porque superando a audição comum – pelo menos nessa hora – ele pode ser desligado e eu posso voltar ao meu silêncio biológico quando bem entender. Deixando pra longe dos meus ouvidos sons absolutamente chatos de se ouvir.

Ou vai dizer que é uma maravilha ouvir britadeira, buzina, gente gritando, música ruim, etc etc etc o tempo todo? O que mais vejo é ouvinte reclamando dessas coisas. E mesmo quem ficou 10, 20, 30 anos sem ouvir, por mais que fique deslumbrado com o barulho novo, se cansa alguma hora…

Daí, o IC tem essa vantagem. Ele nos dá acesso ao som, mas só quando a gente quer. O botão de off é, sem dúvidas, uma parte maravilhosa do aparelho do IC.

Apesar de eu evitar ficar com ele desligado, especialmente em público, tem horas que acho ótimo poder desligar. E poder dormir no mais absoluto silêncio. E até acordar em silêncio e não com o barulho da obra, do vizinho gritando, do programa de TV que o marido assiste, etc.

É claro que tenho consciência que isso tem desvantagens. Eu não ouviria um alarme de incêndio ou o telefone tocando para uma ligação importante, de madrugada.

Mas, felizmente, esses momentos de desgraça não são tão frequentes e posso dormir em silêncio sem a menor culpa!

E viva o botão de off!