Garçon, um hamburguer, por favor…
Hoje, na hora do almoço, fui comer com o Fernando, um colega aqui do trabalho. Ele é gente boa e curte comer no Fifties, o que é importante, já que sempre tento arranjar companhia pra hamburguer por aqui e nunca acho – mania de gente grande de comer comida haha…
Chegando lá, estávamos escolhendo que sanduiche pedir, com qual acompanhamento (pra mim, o que vale é ser hamburguer de soja, sou vegetariana) quando me ocorreu que o Fernando é surdo sinalizado e fala pouco, pouquíssimo de português oralizado. Embora ele fale pra cacete, na Língua de Sinais, mas isso fica pra outra hora!
Viro pra ele, na minha santíssima ignorância acerca de cada detalhe da vida de um surdo sinalizado (existe diferenças grandes entre os nossos universos, mais ou menos a mesma de um cadeirante e um muletante, sem fazer referência clara entre um tipo de deficiência e outro, apenas uma comparação meramente ilustrativa) e pergunto:
– Fer, como você faz para explicar pro garçon o que você quer? – Já que o dia em que a Libras será falada com 100% dos brasileiros não é o de hoje e, talvez, nem tão cedo como os sinalizados precisariam.
Ele, que já deve estar acostumado com esse tipo de pergunta tosca, respondeu com toda a calma do mundo:
– Eu aponto o que quero, no cardápio….
Prático. Mas não perfeito, porque afinal de contas nem todos os detalhes vem por escrito.
Ele me contou que nos EUA, existem cardápios em que todos os pratos tem fotos, então fica muito mais fácil pra ele pedir o que quer.
Comecei a pensar nas vezes que me dá desânimo, porque as coisas não aparecem por escrito. Particularmente, detesto quando pago algo no caixa – normalmente em fast food – e o preço não aparece pra mim. A pessoa fala e, se eu estiver distraída, invariavelmente tenho que pedir para repetirem. Também detesto quando nem todas as opções aparecem por escrito e o garçon completa falando uma lista decorada de coisas numa velocidade surrealista, em que fica meio difícil diferenciar muito bem os itens, tipo: “aqui tem suco de mangabacaxilaranjalimãojacaemarmelo”. Já tive vários impulsos sádicos de responder: “Ok, eu quero um desses, com adoçante, por favor.”
Mas, acho que sonhar com um mundo 100% adaptado a toda e qualquer variação de condição humana é um pouco utópico, né? O jeito ir selecionando os melhores locais pra nossa condição específica e negligenciar os outros. Porque, como diz bem a Thais, do blog de Arquitetura Acessivel Thais Frota, “Se o lugar não está pronto para receber TODAS as pessoas, então o lugar é deficiente”. E, não vou ficar frequentando lugares deficientes, né? haha
Beijinhos
Lak
Mais um motivo pra vc aprender libras.. vc tem amigos sinalizadoo..!!
e eles falam rapido ne.. noossa e como falaa.. até mais que um ouvintee. 🙂
Pra mim tem q ter td escritoo.. se nao tiver coitado do garçon..vai ficar horaaas do meu ladoo.. eu mando repetir.. mando falar mais altoo.. mando tdd.. rshehehe.. isso é qdo estou sozinhaa.. 😀
Qdo tenho um acompanhante.. ai ele faz td por mim, pois ja sabe meus gostos.. 😛
Como te disse, sei o básico hehehehe deu pra gente trocar umas ideias no almoço sim…
Eu me viro muito bem sozinha… 😳 mas sei que não sou a regra, né? Beijos
Ainda não tinha visto essa expressão “lugar deficiente”, e não é que minha cidade é deficiente? Tirando o Banco do Brasil e o posto de saúde onde trabalho, não vejo outro lugar onde tenha rampa para cadeirantes, por exemplo. Não é a toa que chamo minha cidade de Sucupira 😀
Hehehe se as capitais ainda estão longes de serem adaptadas, imagine o interior… Snif snif.
OOi Lak!
Você tem toda razão! Os cardápios deveria SIM ter ilustração dos pratos. É mais fácil para TODAS as pessoas, até as que tem preguiça de ler e as que não sabem ler (crianças).
Além disso existem comidas que não conhecemos pelo nome. Meu marido não sabia o que era “ancho” e teve que perguntar pro garçom, que fez cara de besta e respondeu com prepotencia. Se tivesse uma foto ele identificaria.
E muito obrigada por colocar o meu singelo blog aqui! É uma honra!
BeiJooo
Seria muito mais fácil mesmo!! E não fica tão mais caro assim…
E a menção foi merecida, eu queria usar a frase hehehe
Beijos
Realmente, a foto ajuda a todos, como a Thais comentou, ajuda até a evitar certa perguntas ao Garçon (q convenhamos não precisava responder daquela forma né…).
Não ficaria mais caro e também ficaria muito mais bonito e chamativo o cardápio né…
Parabéns 😀
é apenas uma sugestão… E o que é “ancho” afinal???? hihihihi
Oi Lak, hoje paguei um mico por causa do blog, to rindo sozinha com o suco e entra um funcionário e fica procurando com quem eu to falando. Mas tosquices a parte, eu sei que é utópico mas adorei a arquitetura deficiente. Sei que um Brasil adaptado ainda está longe, mas caminhamos muito para essa inclusão acontece dia a dia, graças a blogs como o seu, o do Jairo entre outros. Beijos
hahahahaaha coitada de você…. Vc explicou pra ele ou nem?
Pois é, o caminho é longo, mas isso é apenas um incentivo, não motivo pra desistir.
Beijinhos
Hmmm realmente, aqui nos EUA ou tem o cardapio com fotos ou tudo escritinho tintim por tintim como é. De qualquer maneira eu costumo falar, e s eu n conseguir entender o que a pessoa fala é SIMPLES “Querida(o) vc pode escrever num pedaço de papel por favor? É porque eu sou surda sabe? É dificil entender quem não está acostumado a falar comigo” ai eles respondem simplesmente “ok” escrevem, m mostram, eu respondo e ACABOU. Ontem mesmo fui devolver um livro na biblioteca da faculdade e a mulher do front desk era uma senhora com lábios muitissimo finos, Ela falou falou falou ai eu a interrompi “Eu sou surda, será que daria para escrever num papel?” ai ela “Ah tah” só que antes ela tentou mais uma vez e falou mais devagar olhando pra mim, e eu finalmente consegui entender o que ela queria, ela pediu desculpas pela inconveniencia e PRONTO rs assunto resolvido. Hahahaha o lance é dar sempre aquele jeitinho pra tudo rs
Ai é outra coisa. A comparação beira à injustiça (conosco, claro haha).
Só pra constar, nós “ouvintes” tb sofremos com cardápios mal-feitos e listas-decoradas-faladas-na-velocidade-da-luz.
Fora q nem sempre o garçom sequer explica o q nao tá escrito no menu.
Eu sei… a minha proposta de cardápios melhores não se restringe a melhorar o acesso aos surdos, mas a todo mundo.
Beijos
Saudades de comentar aqui.
Qt ao problema em restaurantes, sempre passo por isso. Pior é eu ter que ficar repetindo trocentas vezes até o garçom entender. Eles nunca entendem qd eu falo “por favor, um suco.” Aí eles: ã???!!
Eu pergunto aos meus amigos: “eu falo errado a palavra s-u-c-o?” Eles respondem que não. Eu sei que falo baixinho.
Qt ao cardápio, geralmente peço pro meu namorado pedir por mim 😛
E olha que sou oralizada, oralizadíssima!!
Mas não tenho paciência não 😛
Hehehe quando tô sem aparelho, tb não tenho. Com o AASI eu falo com prazer. 😳
Beijos
Descobri seu blog meio ‘no susto’, ao olhar os tópicos nas salas de Libras do orkut.
Foi uma grata surpresa, tanto pelo conteúdo como parte gráfica. Sou estudante de Libras junto com minha esposa e fazemos trabalho voluntário em uma associação para auxílio aos deficientes auditivos aqui de minha cidade (Salto/SP).
Sou também fotógrafo amador e vejo que terei mais um site seu para admirar!
Visite minha página, se quiser: http://www.flickr.com/themeron
[]s
themeron
Pode deixar. Beijocas
Oi querida, eu acredito que um dia vamos chegar lá, afinal é por isso e pra isso que todos nós lutamos todos os dias….chegará um dia em que tudo será acessivel, e ninguem vai ter dificuldade em frequentar qq lugar….eu acredito e não desisto nunca!!!! 😀
Quando minha filha mais velha era pequena, a gente brincava de falar sem voz pra ler os lábios e quem acertar, ganhava uma batatinha frita.
Era assim:
Banana frita. Batata frita. Tinha que ser rápido. Coisas bobas são ótimas, né?
Aí sabe? Fomos no Mc Donalds uma vez e eu disse pra atendente: “Quero uma banana frita” e a mulé me olhou com cara de panqueca amassada…Minha filha caiu na gargalhada. hahaha… 😀
Olá, Lak!
Eu estava”googlando” justamente esse termo usado pela Thais, de que o lugar é que é deficiente, para usar a citação em uma apresentação sobre turismo acessível, e achei o seu blog. Parabéns! Está muito legal!!
E acho ótimo as pessoas com deficiência comunicarem e SE comunicarem, pois às vezes a barreira social existe justamente pela vergonha dos não deficientes não saberem como devem agir com os deficientes.
E como vi que ninguém te explicou, “ancho” é uma palavra espanhola que significa largo. Então o bife ancho, por exemplo, é aquele grossão e suculento! 😀
Beijos!
Valeu pela explicação…
Enfim, eu pessoalmente acho que cabe à pessoa com deficiencia facilitar a comunicação SIM, porque não tem como o mundo estar totalmente adequado pro mundo inteiro, sempre vai haver maneiras muito individuais de ser, que o mundo não vai estar preparado. Mas, facilitar as coisas e ter boa vontade também não arranca pedaço e é perfeitamente possivel. Caso ai do cardápio…
Beijinhos