Marido ouvinte esposa surda e tudo bem!

Outro dia, estávamos conversando eu, o Edu e uma amiga. Não lembro exatamente qual era o tema da conversa, até que ela falou:

– Um amigo meu, sabendo do casamento de vocês, disse “Edu deve ser uma pessoa realmente muito boa!”. Eu perguntei por que ele dizia isso, ao que ele respondeu: “Ora, ele namora uma deficiente

Antes mesmo que eu pudesse esboçar uma reação ou ela, contar qual  o comentário de resposta dela, Edu se adiantou:

– Eu não namoro ninguém por caridade não!

Eu e ela rimos do jeito que ele falou, num misto de indignação e ironia. Ela continou:

– Foi o que falei pra ele. Que o Edu não namora “uma pessoa deficiente”, ele está com você porque gosta de você.

Mantive a calma e comentei:

– É, diante do ‘conhecimento’ de uma pessoa sem deficiência namorar outra com deficiência, as reações, em geral, variam apenas entre duas, específicas. Ou a pessoa é vista como um poço de bondade – por namorar alguém quebrado, que ninguém mais iria querer – ou é vista como aproveitadora, que está abusando de alguém indefeso e ASSEXUADO, o que é pior.

O problema da deficiência, em boa parte dos casos, não são as dificuldades que ela acarreta apenas. Limitações fisicas e/ou sensoriais nos tiram dos procedimentos comuns em relação às coisas que essa limitação atrapalha, mas é algo que, com o tempo, a própria pessoa se acostuma e passa a viver com aquele novo procedimento padrão. Ou seja, quebra-se o paradigma do habitual aprendido e encontra-se um novo padrão, que passa a ser o “natural”. O que é mais complicado – no sentido de ser chato  mesmo – é lidar com as limitações dos outros, para com relação a deficiência. O tempo todo você tem que se explicar, ser balcão de informações de gente que simplesmente tem preguiça de pensar (ontem mesmo pedi pra uma pessoa, que me repetia uma pergunta que já expliquei pra outras oitocentas pessoas, esquecer que eu tenho deficiência auditiva, porque ando sem paciência de sempre ter que satisfazer todas as curiosidades, algumas bobíssimas, de todo mundo que conheço), é você ter que se justificar de “como, quando, onde e porque” você não segue o estereótipo, não é uma pessoa fracassada e infeliz (já que pra muitos, a felicidade e o sucesso parece depender mais das condições físicas e sensoriais, do que da força de caráter e da grandeza de espírito) e, ainda assim, continuam te vendo como um coitadinho, sem sexualidade nenhuma, já que não é “normal”.

Pare. Pense. Uma pessoa com deficiência é apenas outro ser humano e mais nada. No máximo, ela precisa de mais algumas coisas que a maioria não precisa ou não pode fazer algumas poucas coisas, que a deficiência dela atrapalha. Mas não é menos humana, menos instintiva, menos natural que os outros.

Em vez de tentar ver as mazelas da vida de acordo com as suas limitações mentais, simplesmente viva e deixe viver.

Mal não faz.

Beijinhos,

Lakinha

18 Resultados

  1. aldrey disse:

    Oi Lak,sabe que comigo a mesma coisa,tipo dizem que teu marido é especial por estar casado com vc!!tu acredita nisso?
    Acham que ele está comigo por caridade,por favor nem discuto to casada a 17 anos,e sou deficiente a 18,bota caridade nisso!!ahahahah
    bjs 😀

  2. Fabiana disse:

    Lakinha sou obrigada a confessar q até conhecer o blog do Jairo e até nosso encontro maravilhoso no Shopping Paulista, eu tinha uma visão muito ignorante da deficiência. Digo ignorante por ignorar muitos assuntos q não eram tão falados como são agora 😳 . Já tinha visto casais onde uma pessoa era deficiente, mas nunca pensei como essas pessoas (garantir um lugar no ceu foi demais, não?). Sobre ser assexuado, eu tb não sabia q paraplégicos tinham vida sexual. Tá vendo como é bom q vcs esclareçam pra gente? Entendo sua falta de paciência em responder sempre as mesmas perguntas, mas talvez sejam para pessoas diferentes, não? Eu ainda tenho muitas dúvidas, mas vou lendo diariamente e elas vão clareando. 😛 😀

    • Avatar photo laklobato disse:

      Fabi, eu entendo a ignorância. Ninguém tem obrigação de nascer sabendo tudo. Mas, tb não é justo exigir que a gente nunca possa perder a paciência e dizer “hoje, não tô afim de responder, vai pesquisar e descobre, em vez de me perguntar” hehehe
      O problema não é não saber como o casal se relaciona (tem umas pessoas sem deficiência nenhuma, que eu sinceramente nem imagino como estão juntas, de tão diferentes que são) mas já pressupor que certamente é caridade ou que estão se aproveitando.
      Ninguém aguenta ser visto sempre como um coitado ou como alguém que não merece nada e, portanto, só a base da caridade…
      A gente tenta ajudar, mas quem não tem deficiencia tb pode se esforçar um pouco, né? Não adianta exigir que toda e qualquer mudança tenha que partir de nós. Qualquer grande mudança de verdade, ocorre pelo conjunto.
      Grande beijo!!

  3. SôRamires disse:

    Oi Lakita, como sempre você coloca os pontos nos iiii.
    Vou aproveitar para te passar uma informação sobre o Festival de Filmes sobre deficiência Assim Vivemos
    veja no site:
    http://www.assimvivemos.com.br
    Vai haver debates(um dos temas é surdez e implantes)
    veja o programa em Sampa, Rio e Brasília
    Quem sabe a gente se encontra no Festival em Sampa. BJk

    • Avatar photo laklobato disse:

      Obrigadissima, Sô. Vou divulgar a informação hoje a noite (pra ficar o final de semana todo) aqui no blog!!
      Vamos combinar sim, da gente se encontrar lá. Adoro cinema!!
      Beijos

  4. Rogério disse:

    Lak, a adoção de minha filha ocorreu quando ela tinha apenas 19 dias, e tive que ouvir comentários idiotas que invariavelmente relacionavam a adoção a um ato de caridade. Na verdade minha então esposa e eu demos um lar a uma criança e uma criança ao nosso lar, pensando provavelmente mais em nós mesmos do que nela. Quando foi diagnosticada a paralisia cerebral, dois meses depois, uma colega de trabalho me perguntou se eu iria devolvê-la. Em respeito às senhoras aqui presentes, prefiro não dizer qual foi minha resposta. Uma coisa é a pessoa simplesmente não conhecer as nuances de determinada situação e ter a grandeza de procurar se inteirar, como fez a Fabiana. Outra coisa é ser imbecil no pior sentido da palavra. Ao longo do tempo aprendi a blindar minha filha de comentários que poderiam direta ou indiretamente botá-la pra baixo, mas nunca deixei de dar uma resposta à altura. Já mandei muita gente à merda, e não tenho o menor remorso. Odeio gente burra. Acho que estou ligeiramente azedo hoje. Beijim.

  5. Rogério disse:

    Curti muito, e estava precisando. Você sabe que os últimos meses não foram muito fáceis para mim e eu estava meio que no bagaço. Sobre meu comentário anterior, creio que cabe uma explicação: eu fiz uma relação entre o namoro ou casamento de uma pessoa sem deficiência com outra com deficiência e a adoção, que é uma realidade minha. A reação de terceiros é bem parecida, não é sequer considerada a possibilidade de ter rolado uma paixão avassaladora ou amor à primeira vista, a coisa é sempre levada para o lado da caridade, da compaixão e pena. Proponho um exercício: reveja mentalmente quem de alguma forma reagiu assim com você e o Edu ou com outras pessoas em situação parecida. Pode até ter alguma exceção, mas no geral são pessoas medrosas, que não ousam, e podem até não demonstrar mas são infelizes. Já analisei do lado de cá e cheguei a essa conclusão. Depois você me fala. Só pra saber: por que você acha minha histórias impertinentes?

    • Avatar photo laklobato disse:

      Assim, normalmente, só reage mal ao nosso casamento quem mal nos conhece ou sabe nossa história por terceiros. Ninguém que me conhece bem nos criticou – e, sendo honesta, nunca me faltou pretendentes. Não acho que homens sejam medrosos com mulheres surdas, porque a deficiencia auditiva não afeta o físico.
      Mas, concordo, a relação das pessoas que critica, em geral, são pessoas pequenas e medíocres, que não conseguem pensar muito, apenas reproduzem o que aprenderam, mesmo que sejam coisas erradas.
      E se tem algo realmente errado, no Brasil, é a mentalidade sobre adoção. Adoção aqui é SEMPRE visto como caridade mesmo. Ultimo recurso pra quem não pode ter filhos biológicos. Eu mesma sempre falo que não quero filhos, mas se fizer falta, eu adoto, porque filho de verdade nasce no coração, não necessariamente na barriga. E já ouvi falarem horrores, tipo que filho adotivo destroi a família, porque os genes são ruins…
      Sobre a impertinência, porque você não tem medo de falar o que pensa hehehe
      Beijos

  6. Hmm comigo já nunca aconteceu isso, na verdade, alguns surdos me perguntam se eu namoro com ouvinte ( isso no MSN) e eu mesma já perguntei a minha namorada como que é namorar uma surda e ela disse que é absolutamente normal. Eu não convivo com surdos, só com ouvintes então todo mundo na maioria das vezes até esquece que sou surda. Pelo menos por situações assim eu nunca passei.
    Beijos

  7. Cybelle disse:

    Oi linda, deficiência não existe, o que existe na verdade é o amor, esse quando é verdadeiro, não vê cadeira, não vê muleta, não vê absolutamente nada, só vê o coração!!!!! 😀
    Quem pensa dessa forma retrógrada, ainda tem muito a aprender e evoluir na vida…… 😛 😛
    Milhões de beijos….. 😀

    • Avatar photo laklobato disse:

      Ainda assim, muita gente acha que não tem preconceito. Outro dia fiz um topico no orkut perguntando a respeito. A maioria deu uma resposta tipo: não dou a minima, cada um deveria viver a propria vida.
      Mas, tiveram alguns que disseram “ah, acho tão bonito” (o que, nas entrelinhas, dá pra ver que ela encara isso como caridade, senão, não veria nada demais pra ser “bonito”) e até “provavelmente a pessoa com deficiencia tem qualidades que a gente não vê”…
      Um dia, as pessoas vão perceber que amor é sentimento genuino, não extensão de outro como compaixão, piedade, vontade de garantir um lugarzinho no céu hehehe Ai, nesse dia, a gente para de pedir pras pessoas simplesmente pensarem um pouco, antes de falar idiotices.
      Beijinhos

  8. EVA disse:

    SOU DEFICIENTE FÍSICA E PERCEBO QUE OS GAROTOS NÃO SE APROXIMAM POR CONTA DISSO, O PRECONCEITO E GRANDE, E QUANDO HÁ UM CASAL EM QUE UM DOS DOIS É DEFICIENTE, AS PESSOAS LOGO PENSAM QUE É CARIDADE. 😛

  9. EVA disse:

    Gostaria de ver relatos de pessoas que apesar da deficiência conseguem namorar, casar , ter filhos e etc…. 👿

    beijãoo

    • Avatar photo laklobato disse:

      Eva, esse não é um blog publico, eu até publico alguns trechos de outras autorias aqui, mas é um blog particular, tipo diário, onde eu (deficiente auditiva) conto algumas experiencias minhas. Apesar da deficiencia auditiva, sempre namorei e sou casada (com um ouvinte). Ainda não tive filhos, por opção pessoal.
      Se você quiser ler outros blogs de pessoas com deficiencia, indico vários na coluna “Blogs Superação”, na lateral direita da página. Espero que goste.
      Beijocas

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