Conhece-te a ti mesmo

Outro dia, conversava eu com uma amiga querida sobre o DNO. Não somos amigas de longa data (ainda, espero) e ela sabia que tenho um blog, mas quase nada a respeito dele.

Conversa vai, conversa vem, ela começou a falar dos blogs que lê. Realmente, hoje em dia, há na Internet um número incontável de blogs de altissima qualidade de leitura, que atende todos os tipos de pessoas e gostos.  E ela, com a proposta de me ajudar, comparou o DNO com diversos blogs que tem alto índice de leitores.

O DNO é um blog com assunto muito focado e, por isso mesmo, restrito. E, infelizmente, muita gente tem a crença errônea de que blogs de autores com deficiência é direcionado somente à pessoas com deficiência. Mas, no entanto, eu escrevo para todos os tipos de pessoas. Escrevo mais uma história constante de superação pessoal do que meramente dou informações sobre deficiência auditiva.

Estou crente que não sou uma pessoa com deficiência auditiva padrão. Eu não falo a língua de sinais, não tenho dificuldade de me comunicar nem sou tratada com preconceito o tempo todo. Meu foco não é e jamais será ficar descrevendo sobre como é difícil viver num mundo parquissimamente adaptado à pessoas com deficiência, justamente porque, apesar de ter deficiência auditiva profunda, eu me sinto plenamente adaptada ao mundo.

É justamente esse o meu diferencial. Não escrevo falando de dificuldades, mas de como é possível sentir-me parte do mundo mesmo tendo algumas características muito particulares.  E, quando falo de problemas, falo de problemas imediatos, não costumo elocubrar problemas e dificuldades passadas, porque acredito que evocá-los não me acrescenta em nada e me faz reviver coisas que já superadas pelo aprendizado. Para mim, o passado ficou no passado e é o presente que importa.

Isso me lembrou uma conversa com a Paula Pfeifer, autora do blog Crônicas da Surdez. Eu falei pra ela que o DNO e o Crônicas se completavam porque, além do fato que eu escrevo sobre surdos oralizados implantados e ela, sobre surdos oralizados que usam próteses externas, o blog dela tinha um tom mais realista e mundano, enquanto o meu primava para a auto-ajuda.

O engraçado é que, quando comecei a escrever o DNO, não tinha a intenção de escrever um blog auto-ajuda. Isso é reflexo da minha personalidade. Eu tenho meus dias de mau humor, de chatice, de desânimo, mas de modo geral, sou absolutamente otimista, entusiasma, feliz. E é isso eu gosto de escrever aqui: falar sobre como é possivel ser feliz, completo, integrado e realizado a despeito da compleição física e sensorial.

É claro que nem todo mundo acompanha a minha ‘vibe’, mas me recuso a ficar reclamando da vida e falando de problemas. Quem tem deficiência  sabe os problemas que enfrenta e não precisa de exemplo de dificuldade e sim, de superação. Quem não tem deficiência não precisa que eu fique falando dos meus problemas para se sentir melhor consigo, não acho que se comparar com uma pessoa com deficiência para se sentir melhor (absolutamente detesto quem fala ‘eu tenho todos os problemas, mas pelo menos não tenho nenhuma deficiência), precisa é ver que deficiência não é sinônimo de fracasso pessoal e que não existe desculpa para os próprios fracassos a não ser falta de vontade de se superar.

Se é justamente o meu tom auto-ajuda que torna o DNO o blog que é, então assumo com prazer: sou a rainha da auto-ajuda! Quero ser lembrada pelo meu entusiasmo e não pelas auto-comiserações.

Encerro, então, o texto com uma das frases mais batidas – mas que eu adoro – desse meio “Se eu pude, você também pode”.

Beijinhos sonoros e ótimo dia,

Lak