E VIVA! a vida!

Não sou de assistir novela, simplesmente por falta de hábito. Quando criança, assistia sim, embora não visse todos os capitulos, porque às vezes, os perdia por estar brincando.

Mas aí, eu fiquei surda e acompanhar novela não era tão fácil (eu acompanhei umas 2 ou 3, depois de ficar surda. Acho que Top Model, Por amor e mais uma, não lembro qual) já que ler os lábios de atores não é difícil, mas nem tudo é dito com a câmera focando a boca do personagem que tem a palavra.

Dada a dificuldade e a opção de poder assistir programas legendados na tv a cabo, fui deixando as novelas de lado, até perder o habito. Anos depois, passaram a ter closed caption e eu poderia assistir, mas não consigo mais acostumar, porque são 6, 7 meses de capitulos que não se repetem, salvo o último. Acho mais fácil acompanhar seriados, cujos capitulos passam 2, 3 vezes durante a semana (o mesmo capitulo).

Mas, a novela da Luciana, tem o  meu respeito, claro. Embora eu  não tenha assistido quase nenhum capitulo, via o povo comentar, debater, fazer post em blogs sobre isso, discutir se era realista no orkut, twittar links de cenas no youtube. E respeito essa novela – apesar de saber que novela é novela e nem sempre condiz com a realidade – justamente por causa do final da Luciana. Feliz, casada, mãe, trabalhando, mas na cadeira de rodas.

Sei que muita gente acha que só dá pra ser feliz se a pessoa se recupera 100% de uma deficiência. Só que isso é raro. A maioria dos acometidos por uma deficiência não vão se recuperar 100% e a felicidade NÃO PODE depender disso! Imagine como eu seria infeliz se ficasse esperando recuperar 100% de audição natural? Ainda que eu tenha amigos com o habito chato de falar que não sou mais surda (ainda sou, porque surdo é o deficiente auditivo que não consegue discriminar a fala nem com ajuda de próteses e eu ainda não discrimino a fala sem leitura labial. Até pode acontecer, mas não aconteceu ainda) esquecem que quem depende de uma prótese para ouvir, sempre vai ser deficiente auditivo.  E dependo sim,  do Implante Coclear, pro resto da vida. Se acontecer algo com a parte interna ou externa, eu volto pra minha condição de anacusia. Portanto, dizer que sou “ex-deficiente” não apenas é um equívoco como chega a ser uma ofensa, porque não poderia estar mais distante da verdade.

Por isso, retratar a Luciana com a vida plena, sem ter saído totalmente da condição de deficiente, foi um final digno da realidade da maioria de nós, pessoas com deficiência.

Mas, na real, nem é por isso que eu resolvi falar disso aqui. Como não vi a novela, não iria fazer um post só para elogiar o final, né?

Quando a novela começou, eu estava na pilha pré-cirurgia e lembro de ter pensado, vendo um capitulo lá (nem lembro qual): “Poxa, quando essa novela terminar, eu já estarei implantada, ativada e ouvir.”. Ontem, quando via o capitulo final – especialmente porque queria ver o Jairo, que estava no grupo da última cena – pensei exatamente isso “nada como o tempo…”

A última cena, o depoimento do maestro (que me levou lágrimas aos olhos, de tanta coisa que aconteceu com ele)… E a surpresa de ver a Orquestra, de ouvir a orquestra, de ouvir a música perfeitamente… Ahh, foi uma emoção muito forte e eu chorei. Chorei copiosamente, não porque a novela acabava, mas por poder ouvir a música do final…

Eu sei  que haverão muitos desses momentos, na minha vida. Momentos de “apreciamento sonoro”, como disse bem a Sô, do SULP (blog dos surdos usuários da língua portuguesa).

E, como não poderia deixar de ser, taí a última cena da novela Viver a Vida:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=J35vCLOInlE

Beijinhos sonoros,

Lak

26 Resultados

  1. Mari Kino disse:

    Lak, ontem vi quando vc twittou sobre a emoção de ouvir a música e isso me encheu de felicidade, mesmo não te conhecendo, não sabendo das suas lutas, das suas características mais básicas. “Conheço”vc pelo blog, graças ao blog do Jairo (q tbm ñ conheço pessoalmente) e agora pelo twitter, mas isso não me impede de me deliciar com as alegrias, ficar revoltada com as injustiças…enfim! Sò queria dizer q dividindo eses momentos, vc divide tbm felicidade, conquista..e isso é bom demais!! Tenho certeza que tem um montão de gente por ai, que como eu, adora te ler, e compartilhar as emoções com vc, msm q vc não saiba! E é incrível o poder da internet (cafona né, minha mãe diz isso!)…msm sem conhecer alguém, vc admira, torce ou procura em um vídeo no fim da novela! Enfim…obrigada por dividir tudo isso!
    Bjs

    • Avatar photo laklobato disse:

      Ahhh eu que agradeço pelo carinho de se quem se emociona comigo, porque afinal, dividir a emoção é uma maneira de aguentar o tranco que é, sentir uma emoção brutal (mesmo que feliz). Tem horas que dá uma sensação de tontura, de taquicardia, de falta de ar, de tão forte que é poder ouvir de novo alguma coisa… Foi o caso da novela ontem!
      Beijinhos

  2. Lu disse:

    Ai Lak, que legal!! (Tô pouco criativa, né?! Só sei falar “ai q legal!!”) E é até engraçado ficar feliz com as conquistas de alguém que eu só “conheço” pelo blog e pelo twitter…. Mas eu fico! 😀
    Eu sempre achei ouvir uma orquestra uma coisa emocionante, sei lá, parece que a gente sente a música por dentro….imagino então a emoção q vc sentiu ao ouvir de novo!!
    E mais uma vez….ai, que legaaaaaaal!!!
    Beijinhos!!

  3. Juliana Toro disse:

    Que lindo! não assisto novela, mas esse depoimento foi muito legal, prova de auto-superação incontestável! 🙂

    E até eu me emocionei pensando na sua emoção hehehe 😀

    beijos e sapoticons 😯 😎 😛 👿 😀

  4. Maysa Mascarin disse:

    …. e eu chorei com vc…..

  5. SôRamires disse:

    Lak me arrepiei com sua alegria de reencontrar a música…e principalmente a música feita pelo João Carlos Martins, um tipo teimoso que não permitiu que os problemas o afastassem da música.
    Novela é novela e eu não curto mas essa acompanhei pela “causa” da inclusão. Tirando essa história de casamento e filhos pra todo mundo (como se só casando e parindo a gente pudesse ser mulher realizada) valeu por colocar em destaque um assunto muito importante e ignorado.
    Imaginei agora uma cena da gente chorando durante um concerto do João Carlos na Sala São Paulo…graças ao implante.

    • Avatar photo laklobato disse:

      Hahaha eu falei isso pro Edu “ai taquipa dessa mania de mulher só ser feliz quando tem casa e tem filhos!”
      Não seria nada mal ir num concerto do João Carlos Martins com você, heim? Vamo ai??
      hehehe
      Beijos

  6. zuleid disse:

    Ôi! E eu que tô de longe só fui chorar agora com o post! E daí que eu sou chorona né? Pior se eu fosse seca!
    Beijos!!

  7. Maíra disse:

    Lak, apesar d tb nao ter habito de assistir novelas, essa eu até vi vários capítulos pela expectativa de esperar o final de cada capítulo para assistir aos depoimentos reais. Vibrei com cada um e os que eu perdi, assistir na internet. Assim como vc, tb chorei feito criança com o final. Ja conhecia a historia do maestro, inclusive vc tem q ver um vídeo dele que, ao final de uma orquestra, resolve tocar o piano com todas limitaçoes e dá um SHOW… Vou procurar pra vc.
    E de fato, achei uma aula essa novela pra mostrar coisas básicas do dia-a-dia de alguém c tetrapledia ou paraplegia. É claro que temos consciência que há uma certa surrealidade em alguns aspectos, mas ao menos, de modo geral, mostrou certos esteriótipos e o principal: que são capazes de qualquer coisa!!! 🙂
    beijinhos, Mah

    • Avatar photo laklobato disse:

      Pois é, como disse bem a Flávia Cintra, numa entrevista, essa novela poupou 10 anos de trabalho na luta pró-inclusão e pró-acessibilidade.
      Beijinhos e espero o vídeo.

  8. Fábio Santos disse:

    Eu não tinha visto o final da novela, mas não poderiam ter escolhido música mais linda.

    Este é um hino à alegria, paz e fraternidade. Uma das músicas que mais me emocionam. O mais incrível é o fato de Beethoven ter feito esta obra prima em um estado avançado de surdez;

    A própria história da nona sinfonia é um exemplo de superação. Realmente adorei este final, com a história e sobretudo com a música. Perfeito!

    Fico feliz por você ter sentido essa emoção.

    • Avatar photo laklobato disse:

      Sabia que eu tenho um bonequinho do Beethoven na estante de casa? Pra me lembrar que não existe nada impossível, onde existe vontade de vencer hehe
      Beijinhos

  9. Marília Sunshine disse:

    Oi Lak!! Eu ia comentar o mesmo que o Fábio, não teria música melhor para este final!! Esta coube certinho com toda a novela. Não gosto de novela não, fiquei 4 anos sem ver nenhuma por causa da faculdade à noite. Dai assisti Caminho das Indias só por alegria de ter as noites livres de novo, ufa… 😀 . Mas essa eu acompanhei pouco.
    Aqui, vc já ouviu o especial de trilhas sonoras no meu perfil do orkut? 😮
    Queria saber sua opinião!!… Aaaahhh! E só pra registrar, apesar de eu querer muuuuito ser mãe, e achar que EU (Marília) só vou me sentir realizada qdo tiver filhos, concordo com vc… pq os autores acham que todas as mulheres são assim? Fica até chato aquela filharada e casamentada no fim de novela… 😛 Bjos!

    • Avatar photo laklobato disse:

      Não vi seu especial não. Depois vejo, com certeza hehehe (mas admito que sou preguiçosa pra ouvir música, porque apesar de eu gostar, me falta o hábito, que ainda não consegui cultivar).
      Eu concordo que, pra quem quer filhos, tê-los é importantissimo e pode, inclusive, completar a pessoa. O problema é isso ser via de regra em todo final de novela (até teve liçãozinha de moral quanto a isso, uma mãe disse “filho é a coisa mais importante na vida de uma mulher”).
      Muitas mulheres precisam de filhos sim. É uma necessidade biológica. Mas daí pregar que é imprescindível pra toda mulher, acaba sendo frustrante pra quem não quer, porque não importa o quanto ela se sinta realizada em todos os aspectos, sempre vai mané dizer que ela tá tentando compensar a falta de filhos. E sabe, esses finais de novela incentivam essa linha de pensamento.
      Ademais, é pouco criativo também!
      Beijos

  10. Kali disse:

    Engraçado… eu tb não assisti a novela… acabava vendo as chamadas na tv, alguns pedaçinhos de capítulos que passavam enquanto wu estava no computador… vi assim, meio de relance o último capítulo. Juro que pensei em vc quando a Luciana falou da mudança nas prioridades dela… quando a vi desse jeitinho, realizada e na cadeira de rodas. Fiquei pensando o que vc estaria achando daquilo tudo… me lembro ue às vezes eu acho umas coisas super legais e vc me mostra um outro olhar, que acaba me mostrando outra perspectiva, menos ingênua que a minha quando se fala de ter alguma deficiência…
    Enfim, chorei no final da novela, chorei com a música linda da orquestra e chorei mais ainda ao ler o seu post!
    Te amo!
    Bjsss

  11. Andressa Engel disse:

    Olá Lak, sai do medico e vim compartilhar com vc boas notícias…o meu oncologista me deu trégua, e disse q estou bem e que posso retornar com o otorrino p ver esse lance do IC, p ser sincera fiquer muiiiito feliz nem tanto pelo IC ( pois sou candidata a fazer mas ainda não eh confirmado, tenho que fazer todos os exames) mas por parar as quimios e acender a esperança da CURA…nossa eu seria a pessoa mais feliz do mundo, viver eh tudo que eu mais quero, a surdez não eh o que me pesa mais, mas por incrível que pareça a surdez me ajudou a tirar o foco do “Câncer”…hehehhe, vai entender!!!
    Então agora eh que meu foco muda mesmo, vou correr em direção do IC e se Deus me ajudar logo virarei esta página da minha vida e que fique somente o aprendizado desses 5 anos de muiiita luta!!!
    Vou ler tudo sobre IC no seu blog…heheheh
    Abraços
    Abrços…

  12. fabiana disse:

    Lakinha eu também chorei com o maestro do último capítulo. Ô homem cheio de vontade de viver. Quando aparecia um problema, ele encontrava uma forma de se reinventar e continuar com o que ele ama: a música. Você falou certo que o tempo nos ajuda a superar muitas coisas. No começo da novela, você estava se preparando e no último capítulo, pôde ouvir a orquestra. É isso. Não desistir. Beijos

    • Avatar photo laklobato disse:

      hehehe pois é… Eu gosto de uma frase de Mark Levy que diz “O tempo cura todas as feridas, ainda que nã nos poupe as cricatrizes”
      Beijão

  13. Sylvia disse:

    Emocionada: “E a surpresa de ver a Orquestra, de ouvir a orquestra, de ouvir a música perfeitamente… Ahh, foi uma emoção muito forte e eu chorei.”

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