Espaço do Leitor: Implante Coclear e Otosclerose Bilateral

Dentre as muitas doenças que podem causar perda de audição, uma das mais comuns é a otosclerose. É uma condição genética que causa perda progressiva. Antigamente, o tratamento mais comuns era substituir os ossinhos do ouvido por uma prótese. Mas o resultado é variável, trata-se de uma cirurgia muito delicada e, em muitos casos, o desgaste reincide.

Por isso, de algum tempo para cá, alguns médicos estão indicando também o implante coclear como alternativa (quando o aparelho comum já não surte mais efeito). Os resultados – como qualquer caso de implante – são variáveis, mas muitos tem excelentes resultados.

Como é o caso do Marcelo Valente, que hoje compartilha sua história conosco.

“…”se vc ainda está pensando em passar por uma cirurgia IC, então passe”…

Meu nome é Marcelo Valente, tenho uma otosclerose bilateral, é uma descalcificação dos ossos do ouvido, eles vão endurecendo e ficando ásperos e com o passar dos anos a audição fica quase zerada, em alguns casos ela avança até um certo ponto e param, outras são mais fortes e podem chegar a casos extremos de surdez profunda.
Era usuário de AASI desde os 18 anos, hoje estou com 50, e nem mesmo os aparelhos estavam surtindo efeitos.
Há dois anos atrás, acordei num domingo e achei que tinha algo dentro dos meus ouvidos, fui a um pronto socorro especializado, o Hospital Rubem Berta, lá fui examinado por uma simpática medica (não me lembro o nome infelizmente) que, ao ver o meu caso sugeriu imediatamente um implante coclear.
Não havia nada no meu ouvido, era a audição que vinha caindo até mais do que o normal, ela me passou o endereço e o telefone do Dr. Koji que minha irmã guardou e prometeu contatá-lo mesmo que eu não quisesse operar.
Ela me convenceu a ir numa consulta.
No primeiro contato, já senti que havia chegado o momento e não poderia mais fugir, desvencilhar do problema, eu precisava enfrentar ou desistir de tudo, para minha felicidade fiquei com a primeira hipótese.
Levei na consulta alguns exames que eu havia feito anteriormente, Dr. Koji já achava que minha cirurgia tinha absolutamente tudo para dar certo e me passou vários exames e vacinas para se certificar de que tudo estava como planejado.
Marcelo escreveu, ao enviar a foto: nessa foto eu já estou usando o IC e agora eu posso sair e conversar mesmo entre as pessoas. Ele é incrivelmente inivísivel na cabeça, estou muito feliz e agora participando das conversas com amigos, nessa foto estou numa feira de história em quadrinhos que aconteceu em São Paulo.

Marcelo escreveu, ao enviar a foto: nessa foto eu já estou usando o IC e agora eu posso sair e conversar mesmo entre as pessoas. Ele é incrivelmente inivísivel na cabeça, estou muito feliz e agora participando das conversas com amigos, nessa foto estou numa feira de história em quadrinhos que aconteceu em São Paulo.

Quase um ano depois, voltei com os exames, não houveram surpresas e o Dr. Koji me confirmou o que havia dito a um ano atrás, me sugeriu que operasse os dois, porque os resultados são tão bons que a maioria retorna para operar o outro ouvido. –“Eu aconselho a cirurgia nos dois, porque é somente uma internação, uma anestesia e uma ativação, e vc ouvirá muito melhor com certeza”. – disse o Dr. Koji na época.
A minha cirurgia ficou marcada para o dia 14 de janeiro de 2015, no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Estava tranquilo no dia e algumas horas antes o Dr. Koji passou lá no meu quarto para ver se estava tudo bem, e estava. Finalmente fui levado para a sala de cirurgia, isso foi volta das 14hrs, só retornei quase as 22hrs, porque a operação havia durado 5 horas, o osso dos meus ouvidos estavam duros e a raspagem foi demorada, quando foi colocado o feixe com os eletrodos, a parte interna do implante, tudo correu perfeitamente e a minha cóclea estava ótima, não haviam deformações o que permitiu inserir todos os 22 eletrodos nos dois ouvidos. Minha irmã disse que o Dr. Koji passou lá no meu quarto, quando ainda estava na UTI, e informou que a cirurgia havia sido perfeita e que os testes auditivos foram feitos e eu iria ouvir perfeitamente.
Após 10 dias vc tira os pontos e em torno de mais 30 dias vc faz a ativação com a Fono, pode dar um pouco menos, depende. No início vc sente um gosto metálico na boca, alguns tem dor de cabeça e tonturas, eu tive muito pouco, quase nada. Dormir de barriga pra cima no início antes de tirar os pontos é fundamental e não precisa nem dizer que tem que evitar traumas na cabeça, de resto é só não fazer esforço.
Quando ativei com a fono, a simpatica Ana Teresa, as vozes parecem todas iguais, lembrando os robôs de desenhos animados, um outro problema é encontrar o imã na cabeça para encaixar a antena, no começo é um Deus nos acuda, depois você vai se acostumando.
Durante o processo você vai aumentado gradativamente a programação do IC, no estagio 2 já foi possível ouvir de longe o latido de um cachorro na rua, os talheres batendo no prato, mesmo que levemente…enfim vc se adapta a ouvir alguns sons guardados na memória auditiva. Hoje, com 1 mês de IC já consigo ouvir a musiquinha tema do desenho Speed Racer, quem tem mais de 40 sabe do que estou falando. Algumas musicas conhecidas, umas até deram certo, outras ainda não, mas com o tempo eu vou conseguir, não tenho dúvidas, o que vc não pode é se chatear e achar que vai ouvir tudo, lembre-se somos surdos ouvintes e não ouvintes normais é preciso saber das limitações.
IC foi a melhor coisa que eu fiz na vida, não me arrependo de nada, estou encantado com o retorno ao mundo dos sons, os detalhes, e com certeza o livrinho da Lak, DNO,  foi fundamental nessa caminhada, ela tornou-se a bandeira dessa luta. Eu recomendaria a todos que ainda tem receios, o melhor de tudo é que agora eu ouço bem todos os dias, não existem mais: otite e nem ouvidos tampados por causa de resfriados.

Ouvir é uma dádiva e se vc ainda está pensando em passar por uma cirurgia, então passe, é um caminho longo mas a vitória fica mais perto se você tentar. Não desista dos seus sonhos, tente e faça acontecer o melhor em sua vida. Obrigado pela oportunidade e vamos em frente.”
É sempre um prazer compartilhar essas histórias de sucesso.
Beijinhos sonoros,
Lak

4 Resultados

  1. Neila Cristina Franco disse:

    Em tempos onde a maior parte das pessoas opta por não ouvir o que a vida está gritando à elas, Marcelo deseja não ser poupado das palavras rudes, da indiferença de outros, do descaso…simplesmente VIVE. Marcelo meu respeito ao seu relato e ao amor incondicional que você tem pela vida. Admirável, invejável da melhor forma que a vida pode e deve provocar. Beijo para você e para a Lak que sensibilizam à todos nós sobre como a vida é maravilhosa quando você resolve reconhecer o quanto Deus é generoso. Fique bem SEMPRE!!!!

    • Avatar photo Lak Lobato disse:

      Isso são coisas diferentes. Escutar palavras rudes, indiferença e descaso é possível até sendo surdo. Porque lê-se nos lábios, lê-se nas expressões faciais, lê-se nos comentários grosseiros em redes sociais (esse tá um pouco demais também). Ouvir com o IC é escutar a trilha sonora da vida, é ouvir desde o som da respiração, o canto dos pássaros, o noticiario da manhã, a buzina do trânsito. Ser surdo não implica ser poupado do desamor. Muito pelo contrário, somos expostos a isso o tempo todo. Ser surdo significa não ouvir o som da chuva, não ouvir a risada das crianças, não ouvir a pipoca estourando na panela, não ouvir a campainha, é não ouvir as músicas do seu casamento, é não ouvir a voz do seu primeiro amor, é não ouvir a voz do seu filho falando mamãe, é não ouvir “eu te amo” dito ao pé do ouvido. Surdez não impede os sons grosseiros de chegarem até nós. Impede que a vida seja plena de poesia sonora, “SÓ” isso!
      Beijinhos sonoros

  2. Obrigado pela oportunidade Lak, espero realmente sensibilizar muitas pessoas a encararem a cirurgia, estarei a disposição ajudando a esclarecer minhas experiências até o momento, tomando por base o meu caso. Essa cirurgia que você mencionou da prótese no lugar dos ossinhos, eu fiz cerca de uns vinte anos atrás, ela ajudou a melhorar um pouco a audição temporariamente, mas como houve avanço da otosclerose ela se desarticulou dos ossos, ocasionando a perda quase total da audição. Acredito que o IC é a solução definitiva, mas não é possível garantir o mesmo sucesso a todos os casos.

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