Espaço do Leitor: Implante Coclear e Otosclerose Bilateral
Dentre as muitas doenças que podem causar perda de audição, uma das mais comuns é a otosclerose. É uma condição genética que causa perda progressiva. Antigamente, o tratamento mais comuns era substituir os ossinhos do ouvido por uma prótese. Mas o resultado é variável, trata-se de uma cirurgia muito delicada e, em muitos casos, o desgaste reincide.
Por isso, de algum tempo para cá, alguns médicos estão indicando também o implante coclear como alternativa (quando o aparelho comum já não surte mais efeito). Os resultados – como qualquer caso de implante – são variáveis, mas muitos tem excelentes resultados.
Como é o caso do Marcelo Valente, que hoje compartilha sua história conosco.
“…”se vc ainda está pensando em passar por uma cirurgia IC, então passe”…
Há dois anos atrás, acordei num domingo e achei que tinha algo dentro dos meus ouvidos, fui a um pronto socorro especializado, o Hospital Rubem Berta, lá fui examinado por uma simpática medica (não me lembro o nome infelizmente) que, ao ver o meu caso sugeriu imediatamente um implante coclear.
Ela me convenceu a ir numa consulta.
No primeiro contato, já senti que havia chegado o momento e não poderia mais fugir, desvencilhar do problema, eu precisava enfrentar ou desistir de tudo, para minha felicidade fiquei com a primeira hipótese.
Levei na consulta alguns exames que eu havia feito anteriormente, Dr. Koji já achava que minha cirurgia tinha absolutamente tudo para dar certo e me passou vários exames e vacinas para se certificar de que tudo estava como planejado.
Quase um ano depois, voltei com os exames, não houveram surpresas e o Dr. Koji me confirmou o que havia dito a um ano atrás, me sugeriu que operasse os dois, porque os resultados são tão bons que a maioria retorna para operar o outro ouvido. –“Eu aconselho a cirurgia nos dois, porque é somente uma internação, uma anestesia e uma ativação, e vc ouvirá muito melhor com certeza”. – disse o Dr. Koji na época.
A minha cirurgia ficou marcada para o dia 14 de janeiro de 2015, no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Estava tranquilo no dia e algumas horas antes o Dr. Koji passou lá no meu quarto para ver se estava tudo bem, e estava. Finalmente fui levado para a sala de cirurgia, isso foi volta das 14hrs, só retornei quase as 22hrs, porque a operação havia durado 5 horas, o osso dos meus ouvidos estavam duros e a raspagem foi demorada, quando foi colocado o feixe com os eletrodos, a parte interna do implante, tudo correu perfeitamente e a minha cóclea estava ótima, não haviam deformações o que permitiu inserir todos os 22 eletrodos nos dois ouvidos. Minha irmã disse que o Dr. Koji passou lá no meu quarto, quando ainda estava na UTI, e informou que a cirurgia havia sido perfeita e que os testes auditivos foram feitos e eu iria ouvir perfeitamente.
Após 10 dias vc tira os pontos e em torno de mais 30 dias vc faz a ativação com a Fono, pode dar um pouco menos, depende. No início vc sente um gosto metálico na boca, alguns tem dor de cabeça e tonturas, eu tive muito pouco, quase nada. Dormir de barriga pra cima no início antes de tirar os pontos é fundamental e não precisa nem dizer que tem que evitar traumas na cabeça, de resto é só não fazer esforço.
Quando ativei com a fono, a simpatica Ana Teresa, as vozes parecem todas iguais, lembrando os robôs de desenhos animados, um outro problema é encontrar o imã na cabeça para encaixar a antena, no começo é um Deus nos acuda, depois você vai se acostumando.
Durante o processo você vai aumentado gradativamente a programação do IC, no estagio 2 já foi possível ouvir de longe o latido de um cachorro na rua, os talheres batendo no prato, mesmo que levemente…enfim vc se adapta a ouvir alguns sons guardados na memória auditiva. Hoje, com 1 mês de IC já consigo ouvir a musiquinha tema do desenho Speed Racer, quem tem mais de 40 sabe do que estou falando. Algumas musicas conhecidas, umas até deram certo, outras ainda não, mas com o tempo eu vou conseguir, não tenho dúvidas, o que vc não pode é se chatear e achar que vai ouvir tudo, lembre-se somos surdos ouvintes e não ouvintes normais é preciso saber das limitações.
IC foi a melhor coisa que eu fiz na vida, não me arrependo de nada, estou encantado com o retorno ao mundo dos sons, os detalhes, e com certeza o livrinho da Lak, DNO, foi fundamental nessa caminhada, ela tornou-se a bandeira dessa luta. Eu recomendaria a todos que ainda tem receios, o melhor de tudo é que agora eu ouço bem todos os dias, não existem mais: otite e nem ouvidos tampados por causa de resfriados.
Em tempos onde a maior parte das pessoas opta por não ouvir o que a vida está gritando à elas, Marcelo deseja não ser poupado das palavras rudes, da indiferença de outros, do descaso…simplesmente VIVE. Marcelo meu respeito ao seu relato e ao amor incondicional que você tem pela vida. Admirável, invejável da melhor forma que a vida pode e deve provocar. Beijo para você e para a Lak que sensibilizam à todos nós sobre como a vida é maravilhosa quando você resolve reconhecer o quanto Deus é generoso. Fique bem SEMPRE!!!!
Isso são coisas diferentes. Escutar palavras rudes, indiferença e descaso é possível até sendo surdo. Porque lê-se nos lábios, lê-se nas expressões faciais, lê-se nos comentários grosseiros em redes sociais (esse tá um pouco demais também). Ouvir com o IC é escutar a trilha sonora da vida, é ouvir desde o som da respiração, o canto dos pássaros, o noticiario da manhã, a buzina do trânsito. Ser surdo não implica ser poupado do desamor. Muito pelo contrário, somos expostos a isso o tempo todo. Ser surdo significa não ouvir o som da chuva, não ouvir a risada das crianças, não ouvir a pipoca estourando na panela, não ouvir a campainha, é não ouvir as músicas do seu casamento, é não ouvir a voz do seu primeiro amor, é não ouvir a voz do seu filho falando mamãe, é não ouvir “eu te amo” dito ao pé do ouvido. Surdez não impede os sons grosseiros de chegarem até nós. Impede que a vida seja plena de poesia sonora, “SÓ” isso!
Beijinhos sonoros
Obrigado pela oportunidade Lak, espero realmente sensibilizar muitas pessoas a encararem a cirurgia, estarei a disposição ajudando a esclarecer minhas experiências até o momento, tomando por base o meu caso. Essa cirurgia que você mencionou da prótese no lugar dos ossinhos, eu fiz cerca de uns vinte anos atrás, ela ajudou a melhorar um pouco a audição temporariamente, mas como houve avanço da otosclerose ela se desarticulou dos ossos, ocasionando a perda quase total da audição. Acredito que o IC é a solução definitiva, mas não é possível garantir o mesmo sucesso a todos os casos.
Obrigada pelo complemento, Marcelo. Beijos