Falando sobre a deficiência auditiva em local de trabalho
Se você tem deficiência auditiva e começou um emprego novo ou se você trabalha numa empresa que está cumprindo a lei de cotas e contratou uma pessoa com deficiência auditiva para sua área, talvez esse texto possa lhe interessar.
Antes de mais nada, já aviso que como tudo nessa vida, nenhum texto de dicas sobre qualquer coisa é um roteiro mágico que resolve todos os perrengues de determinada situação. São apenas sugestões que poderiam ajudar no quebra-gelo ou naquelas situações constrangedoras que ninguém sabe o que fazer.
O ponto de partida para qualquer relacionamento deve ser a conversa. Por isso logo que você entrar numa empresa (ou a pessoa com deficiência auditiva entrar na sua área) ofereça uma conversa de apresentação entre a você/a pessoa com deficiência e a equipe com quem irá trabalhar. Acredite, essa conversa é fundamental, porque a maioria das pessoas nunca conviveu com pessoas com deficiência, foi educada para não falar no assunto e acha que se perguntar qualquer coisa, vai ofender. Nessa apresentação, pode-se falar sobre a deficiência e as particularidades importantes para comunicação no dia a dia. Principalmente no caso de deficiência auditiva, porque formamos um grupo muito heterogêneo no que se refere à comunicação: algumas pessoas com surdez utilizam a língua de sinais, outras falam oralmente, outras utilizam ambas formas de comunicação. Algumas utilizam próteses e implantes auditivos, outras não. Algumas tem plena discriminação auditiva com a prótese/implante, outras continuam dependendo da leitura labial/língua de sinais, mesmo protetizado/implantado. Nessa conversa, vale o espaço para perguntas e esclarecimentos.
É importante que as pessoas tenham plena consciência de que a surdez não afeta o intelecto, que permanece preservado. Ou seja, uma pessoa com surdez pode aprender qualquer coisa. Mas, nem sempre a forma como se explica algo para ela será compreendida da mesma maneira que um ouvinte compreenderia. Portanto, quando precisar explicar algo pra um profissional com deficiência auditiva, observe se o meio de comunicação (verbal, gestual ou escrito) está de acordo com a compreensão dela. Há pessoas que entendem as tarefas com apenas uma conversa, outras que preferem a explicação por escrito, outras que aprendem simplesmente vendo alguém fazer.
Se a pessoa for oralizada – vou me ater a falar do grupo das pessoas com deficiência auditiva que são oralizadas e alfabetizadas em português, porque é a minha área – é importante que você siga algumas regras de etiqueta para falar conosco, que são:
- Fale de frente para a pessoa, sempre. A sua boca tem que ficar visível, mesmo que ela use aparelho.
- Fale sempre com naturalidade e numa velocidade não muito rápida. A leitura labial, por exemplo, exige menos velocidade que a compreensão auditiva.
- Repita se for necessário.
- Pergunte se a pessoa entendeu. E se você achar que não foi compreendido, peça para a pessoa repetir o que ela entendeu. Assim, você confirma se a mensagem chegou adequadamente à compreensão da pessoa.
- Se necessário e quando possível, peça as coisas por escrito, que isso evita mal-entendidos.
Se a pessoa usa uma prótese auditiva, necessariamente ela consegue utilizar o telefone?
Nem sempre! Pode ser que ela não consiga usar nada, pode ser que ela consiga dar apenas alguns recados básicos. E pode ser que ela consiga falar bem, mas só em condições adequadas (por exemplo, eu preciso de silêncio para falar no telefone, então é comum eu sair da sala para utilizá-lo). Ou pode ser que ela consiga utilizar normalmente. Ou seja, a utilização do telefone é variável. Mas, se ela utiliza aparelho/implante, oferecer um ramal na mesa dela é válido. Pergunte para ela se ela consegue usar e se quer um ramal na mesa dela, por exemplo. Pode ser que sim, pode ser que não, mas a escolha deve ser dela.
E a questão do alarme de incêndio? Se não houver possibilidade de adaptar o alarme com algum alerta visual, é sempre importante que durante um treinamento de incêndio, haja alguém disponível para avisar a pessoa que o alarme está disparado.
Mas e se ela estiver no banheiro, sem aparelho? Então, é importante que ela sempre avise aonde vai, quando sair da mesa. Nesse caso, trata-se de uma questão de sobrevivência mesmo.
Como proceder durante uma reunião?
Um dos maiores entraves durante o expediente, depois do uso do telefone, é a questão de como incluir uma pessoa com deficiência auditiva numa reunião. Isso exige boa educação de toda a equipe. É importante que, independentemente da pessoa utilizar Libras, leitura labial ou prótese auditiva, as pessoas devem falar uma de cada vez. Primeiro, porque facilita a compreensão de todo o grupo, segundo, porque no caso de uma pessoa com surdez, a fala simultânea torna a conversa incompreensível. Se isso não for possível, uma outra sugestão é alguém ficar encarregado da pauta da reunião e fornecer por escrito para toda a equipe (ou para o profissional com deficiência auditiva).
Acredite, a inclusão é possível, mas é necessário boa vontade e interesse de incluir.
Esteja aberto a conversar e questionar sobre as particularidades da deficiência da pessoa. Da mesma forma que é importante que você respeite as limitações dela. Pode ser que ela não se sinta tão confortável de falar sobre o assunto. Mas, se você questionar com naturalidade, explicando o porquê de cada dúvida e como isso acrescenta numa melhor convivência e qualidade de trabalho entre vocês, é possível inclusive que você ajude na mudança de postura dessa pessoa em relação a falar sobre o assunto.
Quanto a você que tem deficiência auditiva, tome a iniciativa para facilitar seu processo inclusivo. A maioria das pessoas tem curiosidade, mas tem medo de perguntar. A sua postura aberta ao diálogo pode fazer toda a diferença para você ser bem recebido numa equipe. Não tenha medo de falar sobre surdez. Faz parte…
Beijinhos sonoros,
Lak
Muito bom o post! Beijo!
Muito boa as dicas
Perfeito!
Realmente existe os deveres e obrigações de ambos os lados. E se cada um conhece-los o ambiente de trabalho para os deficientes auditivos será bem saudável.
Pois é, né? Não nego que exista preconceito e gente que não lida bem com a própria deficiência. Mas, é necessário quebrar a barreira pelos dois lados. Vai mais rápido! Beijinhos sonoros.
Adorei a matéria muito bem explicada e direta,parabéns bjs
Muito obrigada! Beijinhos