Hard of Hearing
Entonces, gente com deficiência tem aos montes e em qualquer lugar (a gente se prolifera em bando, pro pesadelo dos CdB’s* que gostariam de nos enfiar todos em guetos). Mas o tratamento que a sociedade dá ao cidadão com deficiência varia muito coforme a cidade, Estado ou País. Enquanto aqui no Brasil, o povo fica reclamando das “melhores vagas do shopping” serem demarcadas para os deficientes físicos, os bancos terem fila preferencial pros idosos ou acharem um absurdo o banheiro adaptado ser de uso exclusivo para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras, noutros países a situação pode ser muito pior ou melhor.
Pra ilustrar essas diferenças, pedi pra uma amiga – surda oralizada como eu – que mora nos Estados Unidos contar um pouco como é a situação lá. O engraçado da conversa que tivemos foi ela me explicar que o termo “Oral Deaf” (tradução literal de surdo oralizado, termo que eu expliquei no post de ontem) é pouco usado, porque os Surdos Sinalizados Americanos não aceitam muito dividir o título com nenhum outro deficiente auditivo e é mais comum nos chamarem de “Hard of Hearing” – algo tipo “difícil de ouvir“.
Com vocês, a grande Diefani, autora do blog Igualmente Diferentes:
1. Di, fale um pouco de você, qual sua idade, com qual deficiência você convive, se ela é congênita ou adquirida, onde você mora, etc..
Lak, minha deficiência é genética, porém a causa exatamente ninguém descobriu ainda. Sabe-se que as células dos meus ouvidos morrem, mas a causa é desconhecida. Comecei a notar uma diferença na minha audição quando eu estava com 13 anos, mas nem dei bola, aos 15 eu comecei a me preocupar, mas o otorrino disse que não era nada preocupante. O tempo passou e foi piorando, mas eu fiquei surda mesmo dos 17 pros 18 anos. Eu moro em Long Branch, no litoral de Nova Jérsei, Tenho 20 anos e curso faculdade de psicologia.
2. Lembro que, quando você entrou na comunidade do Orkut Surdos Oralizados (comunidade do Orkut da qual sou moderadora, por isso falo dela all time), você estava comprando seu aparelho auditivo aqui no Brasil. Por que você preferiu comprar aqui?
Eu comprei ai porque como eu não tinha plano de saúde aqui nos EUA, ficava difícil eu pagar um medico e tudo mais. Optei então por ir em médicos ai, no final tive que pagar alguns, mas me saiu mais barato. E também tem o fato de meu avô ter pago o aparelho, então a gente uniu o útil ao agradável porque pra ele pagar em dólares seria mais caro né?
3. Como é o tratamento da sociedade para com quem tem uma deficiência, aí nos EUA?
Confesso que aqui tem algumas pessoas desinformadas como em todo lugar, mas no geral o pessoal é bem mais paciente e trata normal sabe? Tenho vários amigos cadeirantes e todos eles vão pra balada, fazem festa com bastante bebida em casa, vivem cercados de muitos amigos. Levam uma vida normal sabe? Olha a faculdade aonde eu estudo é bem interessante. Tem vários cadeirantes, eu mesma já vi nove, tem pessoas com deficiência intelectual, mais três surdos e a minha professora de psicologia comentou que tem um cego fazendo economia. O pessoal aqui respeita vagas, banheiro e afins preferenciais. As pessoas são tratadas como iguais e isso é bem legal. Eu já tive probleminhas com professoras aqui, mas foi por falta de informação deles mesmo. Hoje elas puxam meu saco e até disseram que foi bom o que aconteceu porque assim elas aprenderam a não julgar as pessoas por causa das “limitações.”
4. Quando você veio pro Brasil, notou diferenças muito gritantes? Qual te marcou mais?
Olha o tratamento ai é bem diferente sabe? Eu falo que sou surda e todo mundo diz “nossa, você ou é muito nova” ou “nossa coitadinha, mas que dureza.” E até eu explicar pra todo mundo que não é horrível ser surda, vão-se uns 10/15 minutos de conversa. Mas algo que me marcou muito na verdade não foi nem quando eu fui ai mas sim quando retornei daí pros EUA e comecei faculdade aqui, e essa coisa foi o uso da estenotipia (transcrição da fala pra texto em tempo real) e eu fico ali na boa lendo tudo o que a estenotipista está escrevendo e depois ainda tenho o privilegio de ter as aulas enviadas pra mim, pra eu poder estudar. É ou não é uma maravilha?
5. E acha que aqui no Brasil existe algo que falta aí no EUA, que poderia servir de exemplo?
Lak se tem algo que tem ai que falta aqui eu diria que é o acesso a planos de saúde ou hospitais públicos e similares. Aqui um plano de saúde é extremamente caro, então só quem tem mesmo dinheiro consegue pagar. Hospitais, se você precisa a conta vem uma fortuna depois, pra quem prova que é POBRE eles dão um desconto depois, mas mesmo assim tem que pagar uma quantia. O custo da saúde aqui é exageradamente caro, então eu acho que o que falta aqui e que tem no Brasil é isso.
Olá Lak!
Ótima entrevista. Nela podemos ver os pontos positivos e negativos das duas ‘sociedades’. Parabéns!
Bjus!
Obrigada, Edelson. No blog da Di, tem uns posts legais sobre a situação dela lá. Vale a pena ler…
Beijos
AI Lakinha adorei o post, principalmente da maneira que você começou com a explicação que dei sobre o Oral Deaf e Hard of Hearing. Como já disse eu não fico falando que sou hard of hearing não, eu falou que sou Oral Deaf e problema de quem não gostar 😛
Hehehe eu so fiz um floreio introdutório. O resto foi com você, moça! Obrigada pela força, viu? Super beijo
Na verdade, o Hard Of Hearing faz mais sentido com “Dificuldade de ouvir” do que “dificil de ouvir”. 😀
Hehehe sim, mas a tradução literal é mais engraçada! 😛
Gostaria de saber mais a respeito do uso da estenotípia em sala de aula. Deve ser maravilhoso!
Excelente dica, Renata. Vou conversar com a Diefani a respeito e, com certeza, você lerá mais sobre o assunto, aqui ou no blog dela: Igualmente Diferentes: http://igualmentediferentes.zip.net/
Renata se entrar no meu blog e der uma olhada, lá embaixo está falando sobre a estenotipia. Eu ainda vou escrever mais sobre o assunto é que só tenho mais uma semana de aula na faculdade antes das férias e eu ando sem tempo de postar por lá, mas prometo trazer mais informações em breve 😀
I’M ORAL DEAF ! ORAL DEAF PRIDE !! AHAHAHAHAHAHAH (pra não colocar um “afffffffffffff”)… Mas o que o meu TCC vai mostrar é que esse “orgulho” por ter uma deficiência não é exclusividade da surdez. Eu entendo este “orgulho” por um outro nome, que não é exatamente orgulho. Mas aí por enquanto vou manter segredo acadêmico 😀 , até eu defender o TCC, eheheheh.
Isso, mata a agente de curiosidade e inveja! hahaha
Hahahaha não é oral deaf pride!!! O unico Pride que eu tenho é de ser essa menina linda, simpatica, inteligente e MODESTA que eu sou kkkkkkkkkkkkkkkkk. Sem contar que se eu uso somente o hard of hearing aqui eles começam a berrar comigo e falar de um jeito que nem se eu fosse ouvinte entenderia kkk então se eu falo ” oral deaf” eles associam que eu não escuto MESMO embora possa falar, então esse termo me poupa MAIS explicações kkkkk