Implante Coclear e Bilinguismo: a História de Lorena
A gente adora falar das histórias de sucesso do Implante Coclear. Dos adultos que já saem ouvindo perfeitamente da ativação; dos bebês que desenvolvem audição equivalente aos seus pares ouvintes em tempo recorde. Dos adolescentes que vão fazer intercâmbio sem dificuldade, etc.
Se por um lado é motivador ver esses casos de sucesso extremo, por outro, quando você faz parte do grupo dos mortais que tem resultados favoráveis – mas não perfeitos – ou demorados, vira um parâmetro de comparação quase injusto. Por que não acontece com você?
Além de ter que driblar a frustração, é preciso ter força para achar um caminho alternativo, que depende da nossa capacidade de reconhecer que do jeito que estamos tentando não funciona. E é nessa hora que ver histórias semelhantes ajuda. Nem todo mundo tem o melhor e mais rápido resultado com tecnologia nenhuma. Então, cabe a nós falar desses casos que não são um sucesso auditivo imediato, mas que mostram que o aprendizado, a mudança de olhar e o reconhecimento de que chegou o momento de buscar alternativas dão lugar à aceitação e autoconhecimento, que podem nos conduzir a um outro tipo de sucesso: o de conquistas pelo esforço e pela dedicação.
Com vocês, uma história sensível, escrita pela maravilhosa Sabrina Tomazini, mãe da Lorena.
A gravidez da Lorena foi inesperada. Nosso primeiro filho tinha apenas 6 meses quando descobrimos que ela estava a caminho. Mas o susto passou rápido, até porque sempre tivemos o plano de termos um casal.
A gestação correu normalmente e ela nasceu no tempo certo, com 3,670kg, um bebezão!
O teste da orelhinha falhou nas duas vezes em que foi feito. A explicação que tivemos foi da presença de “água de parto” (líquido amniótico) no ouvido. Também que deveríamos repetir o exame em 15 dias.
Com uma semana em casa, escoou um liquido amarelado do seu ouvido e acreditamos que o problema estava resolvido, mesmo porque não tínhamos nenhum caso de surdez em nossas famílias.
O tempo passou e quando ela tinha por volta de um ano percebemos que não havia o desenvolvimento da linguagem oral, somente um balbucio repetitivo.
O exame do pediatra constatou um excesso de cera no ouvido. Fizemos a lavagem e não houve melhora em sua resposta auditiva.
Procuramos um especialista que nos deu a certeza de que existia uma perda. Lorena tinha, então, 1 ano e 2 meses.
Ficamos bastante desestruturados com o diagnóstico e, em meio a toda a negação, revolta e desespero, soubemos (na semana seguinte) que teríamos outro bebê. Uma nova gravidez, totalmente fora dos nossos planos, tinha acontecido.
Partimos então para a realização de exames mais específicos que puderam constatar uma perda bilateral moderada, possivelmente causada pelo acúmulo de muco após as membranas dos tímpanos. Agora com 1 ano e 8 meses, Lorena passou pela sua primeira cirurgia para colocação de “tubinhos” de ventilação” que permitiriam que o muco fosse eliminado. Porém, não havia muco suficiente para justificar sua perda auditiva.
Iniciamos o tratamento com a fonoaudióloga que indicou o uso do AASI. Para recebermos do SUS estes aparelhos tivemos que repetir os exames e os resultados foram: perda auditiva severo-profunda bilateral neurossensorial irreversível. Portanto, sua perda tinha sido progressiva e aos 2 anos e 4 meses ela era total.
A indicação que tivemos neste ponto foi da realização do implante coclear.
Com uma bebê recém-nascida no colo, regada a hormônios e com um histórico de várias tentativas frustradas de solução da surdez, não recebi com entusiasmo a ideia do implante e de uma nova cirurgia.
A aceitação e decisão veio depois de muita pesquisa na internet (no DNO, inclusive), junto a pais de crianças implantadas e adultos implantados.
Crianças implantadas falando com perfeição enchiam nossos olhos de lágrimas e nossos corações de esperança! A Lorena implantou com 2 anos e 10 meses! Agora tudo seria diferente…
Decidi registrar, em vídeos, todo processo: o antes e depois do implante. Me comprometi a fazer vídeos semanais mostrando seu desenvolvimento. Depois, achei melhor que os vídeos fossem mensais, para que pudessem mostrar algum progresso. Por fim, percebi que se passavam meses e meses sem qualquer mudança significativa.
Voltamos à fase do desespero: ela não evoluía. Pelo menos, não como queríamos ou esperávamos.
Em paralelo, aquela bebê sorridente, devido à falta de comunicação, tinha se tornado uma criança irritada, nervosa e agressiva.
Onde estávamos errando? Ela precisava de mais estímulo? De menos estímulo? Precisa de mais socialização? O problema é a fonoaudióloga? É a escola? Sou eu?
Foi um longo período de sobrevida, passávamos o tempo todo tentando “consertar” a Lorena. Éramos um grupo de amadores tentando achar solução para um problema, não uma família.
Com 3 anos de terapia fonoaudiológica, e apesar da sua resposta auditiva com implante coclear ser impecável, o vocabulário dela não tinha mais que 20 palavras.
Nesta fase, a melhor forma de comunicação com a Lorena era por meio de desenhos. Ela representava num papel aquilo que desejava e nós tentávamos interpretar. Apesar de simples, esse método nos permitiu começar a criar uma conexão.
Não havia um dia útil sem que a Lorena tivesse uma atividade de estímulo, além da escola.
Neste tempo já participávamos do Programa Espaço Escuta – PEE (atual Instituto Escuta) e foi lá que começou a mudança necessária para que as coisas passassem a dar certo.
Em inúmeros encontros, palestras e sessões de orientação individual aprendi a aceitar o tempo de desenvolvimento da minha filha e entendi que a qualidade do estímulo é muito mais importante que a quantidade.
Com uma nova visão do processo decidimos optar por uma nova fonoaudióloga que introduziu na terapia o bilinguismo – o uso de Libras junto a oralização.
Foi um momento transformador porque a resposta dela foi muito rápida e consistente. Finalmente tínhamos a calma e confiança que nunca tivemos.
Passamos a traçar várias metas de desenvolvimento em curto prazo ao invés de estabelecermos um tempo para a oralização e dicção perfeitas.
São 3 anos de constante evolução nesta nova abordagem. A Lorena ainda não tem fluência total na linguagem oral mas fica claro que tudo é uma questão de tempo. Temos agora certeza do seu desenvolvimento e cada passo desta evolução é comemorado.
O implante coclear é um aparelho fantástico que permite que a pessoa com deficiência auditiva tenha acesso ao som. O desenvolvimento da comunicação, por meio da linguagem, dependerá de vários outros fatores, que incluem, entre outros fatores, a personalidade da própria criança.
Ainda temos muitos obstáculos a serem superados. Nem todos os dias são perfeitos e bons. Mas estamos num caminho. E este tem sido nosso maior aprendizado: não desistir! Ela tem um tempo de desenvolvimento próprio. Aprendemos a respeitá-lo. E somos, enfim, uma família.
Beijinhos sonoros,
Lak Lobato
Sem palavras…😢❤
Eu conheci a Lorena por essa foto, por isso que eu escolhi ela, tá? hihihi
Ficou linda… Essa foi umas das últimas fotos dela antes da cirurgia do IC! Tem um significado especial pra nos❤
Boa noite,
Acredito ser extremamente importante a divulgacao de histórias como da pequena LorenA !Para família e profissionais perceberem q IC e Libras não são recursos antagonicos nessa saga q é o mundo sonoro do implantado e q sim é possível e em alguns cadosnecessário a união de ambos para o desenvolvimento da criança.Parabens!
Também acho! Beijinhos
Amiga linda! Lindas palavras… me emocionei com a sua história, algumas coisas já conhecia outras não, o importante é isso mesmo viver cada dia e nunca desistir! Sorte da Lorena ter vcs como pais e vcs terem ela como filha! Parabéns família linda! 😍💞
Obrigada Aninha!❤ Amamos vcs!
Tbm amo vcs 💜
Perfeito texto Lak. Tenho em casa um caso semelhante, em q depositamos no IC a esperança de nossas vidas!!! Contudo, apesar do sucesso auditivo ela TB não “desenvolvia” conforme a maioria das crianças implantadas q conhecíamos. É MT frustrante p os pais, ainda mais quando somente conhecemos histórias de sucesso em relação a oralizacao. Graças a Deus corremos atrás e enfim descobrimos q alem da surdez profunda bilateral, nossa pequena tem autismo, e assim podemos melhor compreender o seu tempo. Hj, diferentemente de algum pouco tempo atrás, ela possui intenção de fala e arrisca sons novos e isso só nos motiva a prosseguir.
Fica meu convite para você trazer a sua história para o DNO também. Beijinhos sonoros
Que emoção ler a história da Lolo, Sabrina! Nos conhecemos em 2012 qdo não sabíamos que nossas filhas seriam casos de resposta demorada do Ic e cada uma a seu modo foi caminhando rumo ao sucesso delas, de tijolo em tijolo, sem perder o foco que era a comunicação em primeiro lugar…
Fico feliz em saber que a Lorena está cada dia melhor em sua comunicação e aguardo ansiosa o dia em que iremos nos reencontrar.
Um beijo estalado na Lolo e um abraço apertado em vc!!!😍😍😍😍
Que linda história !
Conheço a Lolo como chamamos carinhosamente e é nítido a evolução que ela está tendo nos últimos tempos, parabéns aos pais e aos profissionais que acompanham a Lolo !
Bjs na linda Lolo !
🙂
Minha querida Roselle Maria Css, como é importante saber que nao estamos sozinhas, não é?! Feliz em ver tbm sua pequena crescendo a cada dia! A próxima vez que vier pra São Paulo me avise! Vamos colocar as pequenas pra brincar!❤🙏✨
Carla Rigamonti, Luciana Noschese Correia Scarabeli❤
É. COMO EU , SOU BILINGUE.USO A MEMÓRIA AUDITIVA=VISUAL E TENHO POUCA AUDITIVA AINDA. AMEI O ARTIGO. 🌸🌸🌸💖💖💖
Parabéns Marcão pela historia, pela luta, pela vitória e sobretudo, pelo amor pela sua família. Muita luz e força sempre. O caminho está aberto. 🙂
Maravilhosa e esclarecedora leitura. Sabrina Tomazini parabéns por entender que, novos caminhos sempre serão possíveis para a comunicação plena da Lolo❤
Lak Lobato parabéns por tão belas palavras no DNO. Caminhos possíveis, são sempre aqueles que nos deixam com o coração aliviado. 🙏🏾
Obrigada Monica❤
Daniel De Abreu
Amei a reportagem!!!
Linda história 😍😍😍
Patrícia Ribeiro Cristiane Bueno Sales Josiana Rocha Dayane Leal Paula Isabela Trindade Juliana Ferreira
Aline Lopes, Gabriella Americano, Felipe Americano, acredito que a leitura vale a pena…
Verdade, Cristiane Bueno Sales! Experiência esclarecedora!
Linda História.
Estou trilhando um caminho assim, a minha tem 4 aninhos, ainda não ouve, nem fala.
Me identifiquei muito com a história da Lorena.