Implante Coclear e Otite Média Crônica
Uma das muitas causas da surdez, mas que pouca gente sabe, é a otite de repetição, uma inflamação de ouvindo constante, comum em bebês e crianças.
Não que toda e qualquer otite de repetição cause surdez, mas para algumas pessoas, essa doença foi a causa da surdez.
O lado ruim disso, é que quando causa essa surdez, mesmo em tempos de implante coclear mais acessível e divulgado, o IC não era feito nesses casos. Porque estudos apontavam que havia um risco maior de infecções que poderiam prejudicar o implante ou até causar meningite.
Pelo menos, era o que eu tinha sido informada até agora. Recentemente, um amigo meu, surdo por otite de repetição realizou a cirurgia de implante coclear. Fiquei surpresa, já que esse sempre foi uma das causas incompatíveis com implante coclear. Ele me explicou que era uma técnica específica feita.
Dias depois, o médico dele entrou em contato comigo, explicando sobre essa nova técnica. Achei muito legal e pedi para explicar aqui para o DNO como se procede nesses casos. Abaixo, segue o texto que me foi enviado pelo Dr. José Andrade:
Implante Coclear e Otite Média Crônica
A otite média crônica (OMC) é um problema de saúde relativamente frequente na população, e de tratamento muitas vezes difícil. Basicamente se caracteriza por uma inflamação e infecção crônicas (mais de 3 meses) da orelha média.
Antigamente, a OMC era considerada uma contra-indicação absoluta para o implante coclear. Isso se deve principalmente, pelo risco de infecção e pela associação frequente ao processo de ossificação coclear (em linguagem mais simples, quando ocorre formação de “osso” dentro da cóclea por causa da inflamação). Contra-indicação absoluta significava que nunca poderia ser realizado implante coclear nesses pacientes.
A novidade é que atualmente, a OMC e a ossificação coclear vem sendo consideradas contra-indicações relativas, visto que uma nova técnica cirúrgica tem apresentado excelentes resultados para pacientes com OMC e necessidade de implante, com ou sem ossificação. Essa técnica cirúrgica é chamada de Petrosectomia Subtotal e foi criada pelo renomado Otologista Ugo Fisch, da Universidade de Zurique, na Suíça.
Já existem diversos estudos na literatura mostrando resultados excelentes e comprovando a segurança da técnica (ver abaixo links dos estudos). Esse tipo de cirurgia é frequentemente realizada em centros da Europa (onde foi criada), nos EUA e também no Brasil, há alguns anos.
Nessa técnica, os núcleos de infecção são completamente removidos e o implante coclear é realizado, interrompendo a inflamação e promovendo a reabilitação auditiva. Obviamente, não são todos os casos em que é possível realizar esse procedimento. Depende muito do grau da Otite que o paciente apresenta.
A boa notícia é que a maioria dos pacientes que apresentam OMC e que também tem necessidade de implante coclear podem ser submetidos a cirurgia com sucesso e segurança.
Porém, é muito importante salientar que em alguns pacientes, com alto grau de inflamação e infecção incontrolável, não é possível realizar a cirurgia.
A avaliação por um médico ou médica Otologista é fundamental para decidir a melhor opção para cada caso.
Além disso, é importante ainda dizer que nesse tipo de técnica, a duração da cirurgia é maior que a de um implante coclear convencional. O tempo de recuperação e cicatrização é também mais lento.
Os resultados auditivos porém se equiparam aos resultados obtidos no implante coclear convencional, na maioria dos pacientes submetidos a esse tipo de cirurgia, com baixo índice de complicações.
José Santos Cruz de Andrade
Médico Otologista
Santa Casa da Bahia, Hospital Santa Izabel
Estudos:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4733137/#!po=0.649351
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/23856625/
https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0003489415620427?journalCode=aora
É muito bom saber que mais pessoas podem se beneficiar com o implante coclear e ter acesso à poesia sonora da vida!
Beijinhos sonoros,
Lak
Interessante!