Levando um papo na Câmara Municipal de São Paulo (SP)
Acabei de chegar de uma reunião em que participei, na Câmara Municipal/SP. Fui a convite da Clarice Kammer, Conselheira e Coordenadora da Pasta de Educação – CMPD/SP (Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência) e Diretora do INIS – Instituto Nacional de Inclusão Social de Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida.
A princípio, eu havia ido apenas como observadora, uma vez que não havia preparado nada para apresentar nessa reunião sobre Acessibilidade – e também em termos gerais, já que eu não sou exatamente ativista da área de acessibilidade, sou apenas uma implantada que escreve um blog sobre surdos oralizados e Implante Coclear.
Mas, durante a reunião, começaram a falar sobre o Sistema FM, uma vez que é caro e difícil de conseguir pelo Ministério Público, embora seja importante para quem usa AASI e IC e acabaram me entregando o microfone, para que eu pudesse explicar.
Veja bem, sou uma boa escritora (não, não vou bancar a modesta agora, me perdoem) mas falar em publico nunca foi o meu forte, nem mesmo quando eu ouvia. Primeiro, porque eu falo rápido, segundo porque eu tenho dificuldade de transmitir o que penso pela fala, embaralho tudo e fica uma coisa louca de se acompanhar.
Só que, dessa vez não tive como escapar. Peguei o microfone, respirei fundo, perguntei se o volume da voz estava bom, pedi desculpas por eventuais tropeços de linguagem, que era a primeira vez que me via falando em publico.
Comecei explicando o que era um surdo oralizado e sobre a existência de deficientes auditivos de graus moderado e severo que usam aparelho e conseguem ouvir relativamente bem, mas que sofrem pra discriminar ruidos ambientes da voz principal e, por isso, o Sistema FM é de grande ajuda. Falei sobre o Hearing Loop (aro magnético, um sistema de transmissão de som ambiente direto para a bobina do aparelho, similar ao sistema FM, mas mais adequado à salas de conferência, etc. Preciso fazer um post sobre isso aqui ainda!!). Falei sobre a necessidade de maior divulgação de interpretes oralistas (também preciso fazer um post sobre eles aqui, já consegui uma vitima, digo, profissional que faz esse trabalho para ajudar o DNO). Falei sobre o custo de usar um aparelho ou um Implante Coclear, que as pilhas consomem dinheiro e isso atrapalha na aquisição do Sistema FM. Que pais de crianças que podem ser beneficiadas pelo FM demoram até anos para conseguir pelo Ministério Público, nos anos críticos de alfabetização da criança.
A reação foi absolutamente inesperada, confesso. Principalmente porque, com meu sotaque de surda oralizada, com meu nervosismo e até meu raciocínio embaralhado (lembrem-se que falei isso de improviso, não tinha qualquer roteiro pronto ou estudo prévio) entenderam perfeitamente minhas colocações, fizeram várias perguntas e se mostraram indignados com essa informação só estar chegando aos ouvidos deles agora.
Quiseram saber quanto custava as pilhas e ficaram chocados de saber o quanto a gente gasta com isso. No fim, foi citado especialmente para as minhas colocações, um trecho da constituição sobre assistência para qualidade de vida (não lembro o que, me perdoem, eu estava emocionada de conseguir ter realizado o feito). E demonstraram estar interessados em prover essas solicitações levantadas às necessidades dos deficientes auditivos que ouvem por próteses e/ou implantes e/ou são oralizados.
Conversei rapidamente com o Presidente da Sessão (é esse o termo? desculpe se tiver falado bobagem), que queria saber sobre meu caso. Contei e disse: “Eu só quero que se o senhor ou qualquer pessoa aqui presente, se tiver o infortúnio de perder a audição esta noite – afinal, eu perdi a audição dormindo – tenha acesso ao que precisar para continuar ouvindo mesmo que artificalmente e ao idioma que o senhor tem como materno, no caso, a Língua Portuguesa.”. Ele concordou plenamente. Afinal, perder a audição com a idade é algo bastante conhecido, não é mesmo?
Soube também que um dos vereadores já pediu para o assessor dele entrar em contato com a Phonak para colocar um sistema de audio adequado para quem usa AASI ou IC na Câmara Municipal. Vamos torcer pra rolar isso mesmo!!
Por fim, eu deixei claro que não tenho qualquer interesse em prejudicar a luta pela Libras, que respeito os surdos que fazem uso dela e que as necessidades deles devem ser ouvidas e respeitadas.
E as nossas também. Afinal, como sempre digo, há espaço suficiente para todos. Um brinde à diversidade!
Beijinhos Sonoros,
Lak
Aos amigos deficientes visuais, ambas as fotos mostram nós quatro (Eu, Clarice Kammer e Carlos Perl, ambos do CMPD e doINIS e Adelino Azores da Rede Atitude, na Câmara dos Vereadores, durante uma audiência. Adelino com microfone em mãos, fazendo seu relato sobre acessibilidade.
P.s. E uma foto capturada do site da Câmara, fazendo careta enquanto falava:
Priceless!!
Lak, fiquei tão emocionada que escrevi um longo comentário e apaguei de bobeira!
Zoinho moiado de pura alegria!
Você mostrou ao vivo, em cores e com som que existem surdos que podem ouvir, falar, se comunicar em português.Que existimos e somos aparelhados, implantados, oralizados. Mandou bem na explicação do FM, do aro magnético, do custo das pilhas…Foi ótimo o assunto ser apresentado por uma pessoa que vive a situação…Você fez muito por divulgar nossas necessidades sem menosprezar os demais. Parabéns, parabéns, parabéns. 😀 😥 essa menina é a “cara”!
Huahuahuahauhauhaua pois é, não basta, mas é um começo.
Beijinhos
Wow! Parabéns mesmo, Lak! 🙂 É bom mesmo divulgar sobre essas coisas, principalmente sobre o aro magnético ser disponibilizado. Espero que a Câmara Municipal seja apenas o primeiro lugar de muitos outros que implantem essa utilidade!
Mais uma vez parabéns e continue espalhando a palavra! 😀
Vamos ver se rola, né? Uma coisa é a empolgação depois do meu discurso, outra é colocar mesmo, porque não sei o custo dele. Mas, torcendo, pq pra nós, é necessário.
Beijinhos
Lak, assim os horizontes vão se ampliando.
Parabéns menina!!! 😀
hehehe valeu… Agora é ver se rola mesmo a mudança. O lance é que pelo menos as 10 pessoas que estavam lá agora sabem que surdo oralizado existe.
Beijos
Como Geógrafa eu digo, “o espaço existe, e é para ser ocupado”!!
Nossa sociedade, tem espaço para todos. Para surdos que se comunicam apenas por sinais, surdos oralizados e as outras tantas especificidades que existem neste nosso universo de deficiência sensorial.
“A UNIÃO FAZ A FORÇA”, já diz a música!!
Contem sempre comigo e com Carlos Perl (meu marido).
O caminho para a inclusão não é fácil, mas alguém tem que iníciar o trabalho. E por acaso, este alguém somos nós!! Vamos à LUTA!! 😉
Vamos sim, querida!!
Obrigada pela oportunidade.
Beijinhos
Ai, como queria ver isso! Parabéns, Lak! Fiquei feliz por você e pelas reações positivas! Torço para que as coisas encaminhem bem. Já fez um grande passo: agora eles têm consciência de que há surdos oralizados e isso será espalhado, espero! 😉
Nunca ouvi falar no aro magnético, tô tão curiosa que eu mesma vou procurar saber, hehehe, mas fico aguardando o post também!
P.s.: também embaralho tudo, misturo, troco as palavras quando falo, engulo letras e incluo-as em lugar indevido, hehehe.
Bjão,
Já já trago pro DNO a explicação sobre o Aro Magnético, especialmente pra você.
Beijinhos
p.s. Pior é que isso de embaralhar as palavras realmente é anterior à surdez. Lembro de ter essa dificuldade quando estava na primeira série e tinha audição normal.
Linda, é isso aí! Semeando os nossos caminhos!!! Parabéns pelo discurso!
ps: agora já vi que raciocinar meio embaralhado é algo que temos em comum. Vem muitas idéias na minha cabeça, não consigo organizar direito para expressar no oral. Urra!
Hahahaha como falei pra Mariana, isso é anterior à surdez. Mas é possível que tenha piorado depois que ensurdeci. Questão de treinar oratória mesmo.
Beijos
Parabéns Lak! Parabéns pela coragem e disposição, é difícil acreditar que muitas autoridades dizem ainda não ter conhecimento das dificuldades em que os surdos ainda enfrentam no cotidiano. Mas você representou.
Já pensou em entrar para a politica?
Beijão!
Marcelo, eu acredito que não saibam sobre surdos ORALIZADOS sim, viu? Porque a divulgação do nosso grupo é praticamente inexistente. Só existe divulgação do grupo que usa Libras. Sinceramente, eles precisam divulgar as necessidades deles sim. E nós, a nossa.
Nem sei se eu não fosse uma surda oralizada, saberia que existimos, dada a falta de informação que temos…
Sobre ser política? Hummm acho que me daria mal. Sou sincera demais.
Beijos
Parabéns!!!! mesmo
Mas oh, percebo meio missão esse seu papel pq só quem sente na pele
pode expor tão bem as necessidades e o mais bonito, respeitando as necessiades de cada um. Brilhante mesmo seu discurso.
E, palavra é palavra, escrita, falada, cantada e, vc leva jeito…prefere a escrita mas fica bem em todas! beijos de admiração de ver vc lá exercendo seu direito e não só seu, de tornar acessível o conhecimento a quem não é tão integrado com esse assunto. Puxa, sinto-me orgulhosa e emocionada. 😉
Acho que é uma questão de treinar oratoria tb. Não nasci escrevendo tão bem, foi a base de treino, muito treino.
Beijos
Lak:
Parabéns! Que bom saber que os SULP foram apresentados aos nobres edis de São Paulo. Que essa apresentação seja o começo de muitas!
Se não me engano, a Sô fez um post no blog SULP explicando o aro magnético no começo do blog. Deve estar nos arquivos.
Quanto ao sistema FM, que eu tenho (os dois modelos), descobri que não está se compatibilizando com o IC. Há interferência de um no outro.
Beijos.
Draj,
eu sei do post da Sô e já pedi autorização pra copiar pra cá.
Sobre o seu FM, que chato, heim? Tentou conversar com a fono do HC pra saber pq?
Beijos
Boa Lak!!!
É assim mesmo, vai onde o vento te leva, foi preciso imensa coragem da tua parte para dar a cara em voz dos surdos oralizados, é uma sensação maravilhosa contribuir para uma real mudança mesmo quando estas pessoas de elite se encontram receptivas em ouvir os problemas.
Estamos nos preparando para debater algumas leis portuguesas, e encontrarmos um deputado disposto de levar esta iniciativa em frente, temos um longo caminho a percorrer mas já é um óptimo começo.
Parabéns Lak! 🙂
Isso é ótimo, Alice. É preciso mudar a cabeça dos governantes que o IC bilateral é essencial, por exemplo. Por aqui, estamos conseguindo mundanças (o pessoal do FIC é engajadissimo!!), então creio que seja possível conseguir aí tb.
Beijos
Ah sobre o aro magnético, já o experimentei no Teatro de Trindade (Lisboa) pois é uns dos locais equipado com esta tecnologia, devo confessar que fiquei inteiramente surpreendida em termos de qualidade. Basta perfeitamente activar o botão T do IC ou Prótese Auditiva, no meu caso, ela está como MT pois optei por ter alguma sensação de segurança em redor, detalhe: quando activado o MT os sons externos são drasticamente mais baixos e as vozes dos artistas sobressaem imenso! Posso assim vivenciar todas as sensações sonoras em tempo real.
Sobre o FM, existem diversos modelos, ainda não tive oportunidade de o usar, não faço a mínima ideia de como é. Já o anel magnético, jesus! Foi a melhor coisa que inventaram para a gente! O anel magnético para além de ser usado em telemóveis, também pode ser usado para ouvir os sons directamente do computador com qualquer um dos diapositivos de escuta através de indução magnética. Uaauuu! Nunca imaginei que se ouvia na perfeição!!!! Agora já não preciso de ninguém para traduzir os sons verbais da minha língua materna em vídeos ou reportagens desde que tenha este dispositivo comigo! Viva a tecnologia!!!
Segunda vai ter post sobre o hearing loop e vou copiar esse teu depoimento pro post, ok?
Beijos
Uaaauuu, Lak, k xik! Parabéns pela iniciativa de levar as principais informações àquelas pessoas que nem sabiam que a gente existe! hehe.
Torço para que as coisas mudem para melhor, que traguem muito benefício para a gente!
Lak…deixe-me confessar uma coisa: a gente não sabe viver sem você? rsrs. Claro, a gente tem que lutar mais junto. Não falta isso.
Beijos.
Simone.
A gente não sabe é viver um sem o outro!!
Beijinhos
Parabéns Lak! Você ainda vai longe, esse blog é apenas o início, uma sementinha que está crescendo para se tornar uma linda árvore com muitos frutos.
E isso me fez lembrar um post anterior, já deu o pontapé inicial na associação dos surdos oralizados?
Beijos e um bom feriado!
Ainda não… manterei-vos informados a respeito, caso ela venha realmente a existir por minha causa.
Beijos
Oi Lakshmi, tudo bem??
Adorei seu post! E fui ler outras coisas suas também – por isso escrevi seu nome inteiro 🙂
Estou lendo um pouco sobre acessibilidade e pessoa com deficiência. Faço parte de um grupo de pesquisa na FMU e começo a me interessar bastante sobre o tema. Além disso, estamos organizando uma conversa sobre acessibilidade na câmara de Mogi das Cruzes… Será que podemos conversar mais a respeito? Será que você não quer participar dessa conversa também? Será algo bem menos suntuoso do que essa conversa que você participou na câmara de SP… Bem informal… Vamos conversar a respeito?
Abraços!
Edgar
Oi, Edgar, vou te mandar um email pra gente conversar…
Mas acho que não sou especialista em acessibilidade – deveria ser, né? – uma vez que só falo de necessidades específicas de surdos oralizados, aparelhados e implantados.
Bom, a gente conversa.
Beijos
Lak, parabéns pela sua participação na Câmara! Estou muito feliz de vc ter conseguido o feito. Vc está cumprindo sua missão. Sucesso pra todos nós!
Bjoos
😳
Quem não é visto não é lembrado. Essa máxima vale para muita coisa, e achei importantíssima a iniciativa que culminou com a sessão na Câmara Municipal de SP para tratar das questões envolvendo os surdos oralizados. Antes de conhecê-la, devo admitir que não sabia da quantidade de pessoas surdas que não utilizavam a Libras. Lógico, sabia que havia aquelas que faziam leitura labial e se comunicavam em língua portuguesa, mas imaginava que a Libras fosse regra e a oralização um plus. Ignorante, eu. Mas, pela reação das pessoas que participaram do encontro, parece que não estou sozinho.
É gostoso ver que, logo na audiência pública inicial, já houve pelo menos a manifestação do interesse em fazer algo em respeito aos usuários de AASI, IC e outras tecnologias, inclusive hearing loop e sistema FM.
Enfim, uma semente está plantada. Não confio muito nesses caras, mas confio na insistência e, principalmente, na persistência.
Sobre a associação de surdos oralizados (ou a denominação que vier a ter, quando criada), espero que no estatuto haja uma brecha para a participação dos ‘bicões’. Sei que pouco posso fazer no tocante à abordagem do assunto na parte técnica, mas dentro de poucos meses me aposento e tenho, como um dos projetos futuros, abraçar com mais força e tempo disponível as causas em que acredito. É bom lembrar que moro em Goiânia, que fica a 200 km de Brasília. Posso atuar como um autêntico aspone abridor de portas. Cara de pau aqui tem de sobra.
Beijos barulhentos.
Obviamente, ninguém precisa ser surdo oralizado para fazer parte da associação, afinal, todas as associações que dizem respeito a uma minoria não se restringem a participantes dessa minoria, abrange pessoas que acreditam na necessidade dessa causa. Nesse caso, até mesmo porque qualquer pessoa pode perder a audição a qualquer momento e preferir usar o IC e a oralização que já tem, não é mesmo?
Concordo que foi apenas uma audiência e não acho que haverá grandes mudanças por causa dela, mas é legal saber que tem quem queira ouvir a respeito da nossa existência… hehe
Pode deixar que te manterei a par de tudo que fizer.
Beijos
Oi Laki
Parabéns pelo trabalho que tem feito. Entrei para esse mundo dos surdos oralizados e por duas vezes me indicaram seu blog. Primeiro foi a fono Ana Tereza do Grupo de Implante Coclear do HC e essa semana a Clarice num evento que nos conhecemos na Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida. Gostaria muito de trocar informações com vc, já que estamos no mesmo barco e lutando pelos mesmo ideais. Grande beijo, Vânia
Oh, Vânia, não sei se te digo ‘bem vinda’ hehehe porque ‘entrar pro mundo dos surdos oralizados’ não é bem o desejo de ninguém. Mas, de qualquer forma, te garanto que você estará em boa companhia. Se puder ajudar em algo, é só falar! Realmente, estamos no mesmo barco e lutando pelos mesmos ideias! Beijocas, parceira!