Como lidar com um filho surdo oralizado

Para começar bem a semana, entrevistei Silvana, mãe de um deficiente auditivo – surdo oralizado – Gustavo, de 9 anos. Ela, recentemente, criou uma comunidade no orkut, para dividir experiências com Pais de Crianças Deficientes Auditivas.

Eu já tinha mostrado aqui a experiência de ser mãe tendo deficiência auditiva, de se crescer com essa deficiência, mas ficou faltando o lado mais forte (e frágil) dessas histórias: o lado  dos pais, que diante a experiência – muitas vezes inédita – de se lidar com um filho com uma deficiência,  sofrem, crescem e conquistam o mundo, do lado de um serzinho especial que tem muitíssimo a aprender e ensinar.  Sem dramas, Silvana conta a história deles, num relato sensível sobre a batalha diária e as maravilhosas conquistas de se ter uma criança surda oralizada.

Desculpe, Não ouvi!: Como vocês descobriram a deficiência auditiva do Gustavo? Qual a perda que ele tem?

Silvana: Descobrimos quando ele tinha 2 meses de idade porque ele tomou um antibiótico (Amicaxina) e o pediatra (Dr.Francisco Dutra) pediu o B.E.R.A. (audiometria de respostas elétricas do tronco cerebral) e o fundo de olho e aí foi constatada perda profunda bilateral (acima de 90 decibéis).

DNO: Que tipo de orientação receberam dos médicos?

Silvana: O pediatra nos orientou a procurar um otorrino (Dr.Luis Augusto Lima e Silva)  e uma fonoaudióloga (Ana Maria Vasconcelos) pra recebermos as devidas e certas orientações.

Vocês buscaram informação com outros profissionais, grupo de apoio, pessoas em geral, etc?

Sim,buscamos informações na internet,pessoas que passaram e passam por isso e grupo de pais que tem filhos com deficiência auditiva.

Ele faz acompanhamento com fonoaudióloga? Como foi o processo de oralização dele?

Sim,ele faz acompanhamento 2 ou 3 vezes por semana desde os 2 meses de idade.Ele usa prótese auditiva desde então e com isso, foi oralizado, sem ter o acompanhamento da língua dos sinais.

Ele tem contato com a Libras? Se não, você foi criticada por ter feito essa opção?

Não, nunca teve contato com a LíBRAS e como meu marido e eu somos 100% a favor da oralização, nunca fomos criticados porque a nossa família sempre teve a mesma opinião.

Como tem sido o processo de escolarização dele? Ele estuda em escola especial ou comum? Apresenta dificuldade de acompanhar as aulas? Consegue socializar com as outras crianças? As professoras têm paciência com ele?

O processo de escolarização tem sido mais difícil. A interpretação de texto, na minha opinião é a grande vilã para nós e para o Gustavo. Ele lê, escreve tudo, mas na hora de ler um texto e interpretar….aí complica. Acredito que seja porque ele ainda lê muito devagar e com isso esquece o que já foi lido. Gustavo repetiu em 2008 o 3º ano (antiga 2a.serie). Ele estuda em escola comum, sendo o primeiro e, até então único,  Deficiente Auditivo desta escola. Ele só tem dificuldade de acompanhar as aulas quando a professora explica muito rapidamente. Ele é social até demais,conhece a escola inteira e todos o adoram. Essa professora em especial, merecia até uma homenagem, pois ela tem muita paciência e carinho pelo meu filho.

Quais as maiores vitórias dele, sob o seu ponto de vista?

As maiores vitórias  do Gustavo no meu ponto de vista são: Ele tira de letra o fato de usar prótese auditiva, se relaciona muito bem com todos, é muito carinhoso e a maior de todas as vitórias é o fato de ele estar vivo porque ele ficou entre a vida e a morte durante os 29 dias que ele permaneceu na UTI na maternidade São Luis.

13 Resultados

  1. Oi Lak,
    Linda história que de alguma forma se parece com a minha. Uma mãe conhece o filho pelo olhar. Imagine os dois tendo o mesmo tipo de deficiencia. Ao final, a gente acaba aprendendo com ele, no meu caso, a maioria das minhas dificuldades emocionais como por exemplo, usar a cadeira de rodas na frente de outras pessoas, conseguir ultrapassar porque o Fábio sempre foi desencanado com esses pensamentos. Agora então, que estamos juntos nesses coquetéis para venda do livro, estou até gostando de aparecer por aí.
    Beijos,
    Marli 😀 😀 😀 😀

    • Avatar photo laklobato disse:

      Marli, a história de vocês não tem comparação. Transcende qualquer medida de amor materno e filial, do aprender e ensinar!! Vocês são incríveis!
      Grande beijo

  2. Leila disse:

    A Silvana é uma guerreira. Admiro muito a força que ela tem!
    Mil beijos pro Gustavo, Silvana. Admirável blog o seu, Lak! faltava a Silvana mesmo… 😎

  3. Re Resende disse:

    Lindaa historiaa… uma lição de vida..
    cada dia gsto mais de seu blog..
    bjinhus, lak!

  4. Luiza disse:

    Vê Lak,
    Nossa história, sua história…Não somos tão criativos como pensamos, na verdade é a vida que nos leva. A necessidade que nos faz agir, graças a Deus então seguimos em frente. Veja a Silvana quanto mais forte ela não se tornou por conta de Gustavo, e ao mesmo tempo sei, por experiência que deve ser extremamente frágil por conta disso tb.
    Silvana, acho que a dificuldade de interpretar no seu filho vai além do que vc expois, sabe meu filho tb está no 3º ano tem 8 anos, e gosta muito de ler, e o faz com muita rapidez, ele já consegue acompanhar as legendas DVD’s, então penso que se ele gosta tanto de ler, isso o interessa e, faz para ele sentido aquilo que lê, porém quando faço perguntas sobre o que está sendo lido, não recebo o que espero como resposta. Ele tb não consegue sem ajuda interpretar os texto na escola. Agora eu pergunto, falta a ele entendimento sobre o que leu, ou ainda não tem as ferramentas verbais necessárias para faze-lo??
    Boa Lak, vc bem podia tentar encontrar explica’c~oes n’e????
    Beijos

  5. Patricia disse:

    😀
    Olá querida Lak!
    Vim pra ver as fotos do seu casamento e me deparei com essa matéria… adorei!Realmente nós pais quando descobrimos que existe algo diferente com nossos filhos, a gente sempre pensa: “preferia que fosse com comigo”, pq a gente se acha mais “preparado” do que eles… mas eu acho que isso é um grande equívoco, porque eles, nossos filhos, é que são preparados para superar essas pequenas diferenças e possíveis dificuldades! E nos ensinar!!!
    Bjs
    Pati

  6. Rogério disse:

    Lak, depois de um tempinho no paraiso, eis que volto ao mundo cruel. Tava com saudade de você. Olha, tive uma filha com paralisia cerebral, convivemos por sete anos e me identifiquei com a Silvana por coisas que ela disse. O fato é que, como disse a Patrícia, sempre achamos que somos mais fortes e preparados que nossas crianças para enfrentar o mundo, mas não é bem assim. Acho que aprendi com minha filha mais do que pude transmitir a ela, assim como sei que a convivência da Silvana com o Gustavo é muito rica porque tem um ingrediente especial chamado conquista (ou superação) que é experimentado quase que diariamente. Um grande beijo.

  7. Feliz dos filhos que têm pais como vocês. Observem abaixo:

    Segunda-feira , 07 de Junho de 2010

    A quantas anda a inclusão?

    Eis a definição de inclusão de Maria Teresa Eglér Mantoan (Revista “Nova Escola”, 2005): “É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção.”
    Será que basta acolher? Após tantos anos de defesa da inclusão, as escolas do sistema regular de ensino estão prontas, ou há exclusão por falta de algum elemento que não conseguimos alcançar?

    Evitei colocar o nome do/a estudante e da escola em que estuda por questão ética.

    Estudante: Z

    Idade: 12 anos

    Ano: 6º ano do Ensino Fundamental

    Escola do sistema regular de ensino

    Belo Horizonte – Minas Gerais
    1 – “Desenhe você”

    2 – “Escreva um trecho de poema ou música”

    3 – “O que você quer?”

    4 – “Desenhe a sua família”

    5 – Escrita livre

    Por enquanto evitarei análises por não ter conhecimento do histórico do/a estudante, e o que tem sido feito. Os únicos fatos que posso adiantar é de que Z frequenta instituições desde os sete anos e, no momento, comparece à escola regular em um único período.

    Modesta Trindade Theodoro
    Portadora da doença de Parkinson

    P.S. Não consegui colocar os desenhos e a escrita. Caso queiram verificar visite http://blogdamodesta.zip.net

  8. Onde se lê: “visite”
    Leia-se: “visitem”

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