Meu segundo implante coclear: BiLak Mode on e a serenata de grilos

Olhando pra baixo, concentrada na audição!

Trinta dias exatos se passaram e chegou o grande dia de ligar o aparelho que me me permitiria ouvir bilateralmente.

Não, minto, 25 anos, 9 meses e 9 dias se passaram e chegou o dia de ouvir bilateralmente de novo.

Escolham a introdução que mais lhe agradarem e continuamos.

Dormi pouco – depois de encher muito a paciência dos meus amigos de facebook – acordei muito cedo. O tempo simplesmente parecia não passar.

Cheguei no consultório bem na hora marcada. E logo que a Fga. Valeria Goffi saia da saia, trouxe com ela uma menininha de uns 2 anos biimplantada. Sorri e chamei-a para mostrar meu implante, igual ao dela. Ela não gostou nem um pouco de ver outro implantado e se recusou a falar comigo. Dei risada, mas entendi. Nem todo mundo quer se identificar com os demais, alguns de nós gostam de ser especiais hahaha

Entrei na sala, levando comigo a minha platéia. Mãe, marido e ainda uma amiga, Dorotéia, que queria assistir a ativação bilateral de um adulto.

Na real, ativar, eu ia de um lado só, mas ouvir, iria dos dois, então chamamos de ativação do bilateral mesmo.

A primeira coisa que fiz foi tirar da mochila meu Raio X, que mostra os dois implantes e permite ver como o feixe de 18 eletrodos do esquerdo difere da perfeição física do feixe de 22 do direito. Portanto, é visivel a diferença entre eles, o que PODE (enfatizo o pode, porque nada é garantido) significar uma diferença na compreensão do som. Ou não, mas como já disse, tanto faz.

Valéria me respondeu “Ai, que lindo!! Olha o caracol perfeito que os eletodos formaram! Da primeira vez, a gente viu que não estava perfeito, mas quis que você preservasse a sua cóclea para tecnologias futuras”.

Respondi “As tecnologias futuras são para outras pessoas. Eu já esperei 25 anos!” sem, claro, desmerecer as outras tecnologias, que possam inclusive representar uma cura para a surdez ou quem prefere esperar. Eu falo de mim e para mim. 25 anos de espera me bastaram, grata!

E fui conectada ao computador de programação. Não sem sofrer horrores pra encaixar o imã na cabeça, porque só sei fazer isso do lado esquerdo hahaha e me dei conta como é difícil no começo, tendo agora eu mesma como parâmetro de comparação.

De olhos fechados, para ouvir melhor, sempre..

Testamos os sons, até chegar num nível confortável para volume baixo e alto, sons graves, médios e agudos.

O primeiro som que eu ouvi foi a voz da fono, seguida pela minha. Fiquei assustada com a minha voz, ouvida pela orelha direita. Não sei explicar, mas soou tão estranha.

Ligar o esquerdo, logo em seguida, foi apavorante. Deu medo da audição ficar desconfortável. Mas não…

Ouvir dos dois ouvidos foi perfeito. Tive a sensação de que, finalmente, ouço de VERDADE, sem parecer que falta alguma coisa. Não sei explicar por quê, mas pra mim, ouvir tem que ser pelos dois ouvidos.

Ainda está bastante baixo. Tudo que ouço parece som de grilos, bem agudinhos…

Raul tinha me pedido para gravar a minha choradeira, mas não foi possível. Minha vontade era de rir, de maneira compulsiva. Faço isso quando fico nervosa.

Não sei dizer que ter dois implantes é necessariamente melhor que um. Ou que apenas um implante acompanhado de aparelho não supra realmente as necessidades de um surdo profundo bilateral. Só posso dizer que, pra mim, dois implantes é mais completo. Ponto e basta.

Beijinhos sonoros,

Bilak