O pop não poupa ninguém
Sabe, quando eu fiz o blog, inicialmente, apesar do nome, meu objetivo não era focar o blog na surdez. Sempre foi uma convicção minha que minha vida não girasse em torno da deficiência, mas que ela fosse uma parte importante da minha vida, embora não a única.
O tempo foi passando e raramente eu me dispunha a falar de outro assunto que não surdez e/ou deficiência, muito porque era uma proposta nova, falar sobre deficiência auditiva sem focar na língua de sinais ou na Cultura Surda, o que, pra muita gente, é praticamente sinônimo de surdez.
Outro dia, me mandaram um email, pedindo uma entrevista. Era uma moça fazendo faculdade de pedagogia e que tinha um trabalho sobre surdez pra fazer. Ela queria justamente a proposta do blog: falar sobre deficiência auditiva sem focar na língua de sinais, porque é de praxe relacionar as duas coisas.
A entrevista dela era basicamente algumas perguntas que viraram uma apresentação de powerpoint. Não sei a nota do trabalho, mas ela me disse que foi o único com essa temática e, portanto, causou rebuliço e foi inesperado.
Como eu sou uma pessoa muito exibida bacana, compartilharei minha fofoluxa entrevista e, obviamente, o trabalho da Andrea Petenucci e Sabrina Bohlen, estudantes de pedagogia da Universidade Anhembi Morumbi (coincidência das coindências, a universidade em que me formei em 2001):
1. Lak, obrigada pela atenção, fale um pouco de você.
Basicamente, eu sou o que diz o perfil do meu blog. Uma mulher de 32 anos, casada, que trabalha, estuda e aproveita a vida. Sou formada em publicidade e fotografia. Atualmente, trabalho como arte finalista numa grande agência de publicidade, estudo francês e inglês, curto minha casa, minha familia, meus amigos, meu marido. Fiz o blog de brincadeira, justamente porque eu não vivo em função da surdez, nada na minha vida gira em torno disso e eu queria mostrar que era possível.
2. Em seu blog você diz que perdeu a audição aos 10 anos, com seguela de caxumba. Como foi para uma menina lidar com essa mudança?
Da melhor maneira possível. Criança não perde tempo se auto-comiserando. Acha que acontece e continua vivendo. Fiquei triste, mas uma hora cansei da tristeza e fui brincar de novo.
3.Como os médicos aconselharam você e sua familia a lidar com sua deficência auditiva?
Fazer fono pra manter bem a fala e continuar inserida na comunidade ouvinte, graças a minha capacidade de leitura labial que sempre me permitiu manter uma boa comunicação.
4.Vocês buscaram informação com outros profissionais, grupo de apoio, pessoas em geral, etc?
Não, somente fonoaudiólogas. Meus pais perceberam que eu continuava vivendo tranquilamente, estudando, fazendo amigos, brincando e não atrapalharam. Apenas insistiram pra eu fazer fonoterapia sempre.
5. Conte um pouco como foi sua adolescência e juventude?
Tranquila, como de qualquer pessoa. Estudei, namorei, fiz planos pro futuro…
6.Você estudou em escola especial ou regular?
Regular
7. Sofreu descriminação por parte dos alunos ouvintes?
Não. Faziam gracinhas, mas nada de diferente de qualquer outro aluno. Sempre fui querida e tive amigos.
8. Você aprendeu ou se interessou por aprender Libras? Se não, você foi criticada por ter feito essa opção?
Aprendi aos 26 anos, pra fazer um trabalho. Mas não gostei. Não, nunca me criticaram, porque eu nunca convivi com surdos.
9. Você participa da Comunidade Surda?
Não
10. Você fez o Implante Coclear ha pouco tempo. O que a fez optar pelo implante?
Vontade de ouvir de novo, nunca deixei de me sentir ouvinte, de querer fazer coisas que fazia quando criança. Demorei pra fazer porque queria ter o prazer de pagar tudo do meu bolso, sem depender da ajuda de ninguém. Coisa que me orgulha muito.
11. Foi uma decisão fácil de tomar?
E por que não seria? Eu considero a surdez uma deficiência sensorial e, ao meu ver, tendo uma cura/tratamento pra uma deficiência, não teria razão pra não fazer. Quanto melhor a minha qualidade de vida, melhor a vida será.
12. Como foi o processo da cirurgia? E a recuperação?
A cirurgia foi absolutamente tranquila. Na recuperação, eu tive um pouco de labirintite.
13. A surdez influenciou na escolha de sua profissão?
Talvez, não sei. Eu realmente não presto atenção na surdez o suficiente pra dizer onde ela influencia ou não. Faço o que tenho vontade. Sou uma pessoa, não um rótulo.
14. Quais conselhos você daria aos pais de uma criança com diagnostico de surdez?
A fazerem o que acham melhor pra si mesmos e pra criança. Pesquisem todas as opções e mergulhem nela de cabeça. Se quiserem implantá-la, façam tudo o necessário. Se quiserem mantê-la na Comunidade Surda, aprendam libras. Seja a decisão que tomarem, participem dela em conjunto com a criança.
15.Algumas pessoas surdas são contra o implante coclear e muitas optam por não terem filhos, em função da deficiência. O que você acha sobre isso?
Honestamente? Ridiculo! Mas até aí, é opção de cada um e cada um faz o que quer da vida. Não sou ninguém pra ditar regra na vida alheia. Verdade que o implante coclear não é e jamais será indicado em 100% dos casos, mas ser contra pra si é uma coisa, se meter na vida dos outros a ponto de criticar quem opta pelo implante é bem diferente.
16. Comente um pouco sobre o uso de legendas em filmes publicitários.
Bom, a legenda é fundamental para todos os deficientes auditivos que tem fluencia no portugues. Ela serve para quem tem perda leve e moderada como complemento da audição e pra quem tem perda severa e profunda como unica fonte de informação. É importante no quesito acessibilidade, uma vez que também somos consumidores e também queremos saber o que podemos adquirir.
O mesmo vale para qualquer midia televisiva/cinema/web. Sem a legenda, nosso acesso se torna bastante restrito.
O mais legal do trabalho, sem dúvida, era a introdução:
“Navegando pela internet em busca de perfis de deficientes auditivos, nos deparamos com o blog Desculpe, não ouvi! e a cada linha lida, crescia a certeza de ter encontrado a pessoa certa para a entrevista. Uma mulher sensível, inteligente e descolada. Sem dúvida, uma contribuição incrível para nós, pois ela é o avesso do estereótipo do surdo. Neste momento, o convidamos a deixar os modelos já conhecidos de lado e se encantar com tantas possibilidades que se apresentam.”
Seguido da justificativa:
“Dentre tantos aspéctos do perfil da Lak, o que mais nos chamou atenção foi o fato dela não utilizar a língua de sinais. Como a maioria das discussões sobre surdos são sobre o uso da Libras, entendemos que seria riquíssimo trazer uma abordagem diferente sobre a surdez. Usando as palavras da Lak: Não que haja algo errado na Libras, mas é importante considerar que nem todo surdo nasceu surdo, nem todo surdo foi encaminhado cedo para a Comunidade Surda, nem todo surdo quer se comunicar de outra forma que não oral.”
Apesar de eu parecer uma pessoa petulante – sou mesmo, admito – nunca tive a pretensão de fazer desse blog algo além de um espaço para se conhecer um pouco mais sobre os Surdos Oralizados, mas quando percebo que é mais que isso, que atinge pessoas, atinge idéias e quebra barreiras, vejo que o que a gente pretende nem sempre condiz com a realidade. É possível ir além…
Beijinhos,
Lak
Tão lindinha vc!!!
Adorei também essas moças! Adoro gente que se dispõe a pensar “fora da caixa”! Espero que a discussão na faculdade delas tenha sido boa!!
A possibilidade de se surpreender é uma das coisas que fazerm a vida ganhar magia… 😀
Bom começo de semana!
Beijossss
Vero!
Beijos
Acho que você está ficando famosa… não por acaso. Beijão e boa semana pra você, flô.
Hahaha famosa não é bem o termo. Pop mesmo! hihi otima semana, Dri.
Beijos
Parabéns a Andrea e Sabrina que souberam fugir da mesmice para aprender & ensinar muito mais. E por sorte escolheram a Lak que não é uma surdinha modelo mas sim uma pessoa plena, que por acaso às vezes diz “desculpe não ouvi” e que sempre muito pop em breve vai inaugurar suas antenas.
Hahahaha me senti uma abelhuda agora, com anteninhas e tudo!
Beijinhos
Olá pessoal,
Puxa, nem sei o que dizer… Obrigada pelo espaço e pela generosidade de sua acolhida ao nosso pedido. Agora nós ficaremos famosas, haha.
Lak, você não é petulante; é inteligente, bacana, fofa,etc, etc, etc.
Conquistou minha admiração pois lendo seu blog e conhecendo você mais e mais a cada linha, sempre vem a minha mente a frase de Fernando Pessoa: Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
Extrapole os limites hoje e sempre!!
Bjs e uma super semana.
hehehe sou petulante sim, mas finjo bem que não hahaha
Beijinhos e eu que agradeço. Ficou lindo aqui no blog!!
Oi gente, muito obrigada pelos comentários, assim como a Andrea também estou me sentindo uma celebridade 🙂
Lak, muito obrigada por ter nos concedido a entrevista. Acredito que nada acontece por acaso. Estávamos tão desanimadas com as aulas de LIBRAS, e no início sentimos que esse trabalho era só mais um trabalho… Mas quando encontramos o seu blog, tudo mudou. Esse trabalho tornou-se um prazer, e poder compartilhar uma outra visão com nossa classe e até nossa professora é algo indiscritível.
Muito obrigada pela experiência!
Beijos
Eu que agradeço, moça! É legal participar de algo assim!! Beijão
Pois é Lak, e você dizendo: “nunca tive a pretensão de fazer desse blog algo além de um espaço para se conhecer um pouco mais sobre os Surdos Oralizados”…
Caramba, esta Blog é muito mais; é a sala da casa da amiga onde sentamos com o pé prá cima pra falar do bom e do ruim, é a casa da mãe prá onde corremos quando estamos “precisando de colo”, é a cantina da Faculdade onde é possível trocar idéias a respeito de muito mais que deficiências.
Aqui é o lugar onde tratamos de eficiências e ambições.
Que dia abençoado aquele em que você se meteu nesta estrada!
E eu que nem surda sou, vejo que tenho muito mais a escutar!
Beijos!
E parabéns Andrea e Sabrina por enxergarem o caminho menos óbvio!
A pedagogia e as crianças agradecem!
*com os olhinhos cheios de água com o comentário* lembrei que cresci com meus pais dizendo “A união faz a força”. Eu acredito piamente nisso!
Beijinhos
Oi Lak!
Sabrina e Andrea merecem meus aplausos pelo maravilhoso trabalho e vc, especial e única, expos em poucas palavras tudo o que é preciso para que entendam e tenham respeito pela opção de cada um… pensa muito como eu… Tambem eu, desde garota, fiz meus estudos sempre em escola regular e com fluente leitura oro-facial, também não faço parte de nenhuma comunidade surda e não me dei muito bem com Libras … faço questão de pedir que não falem comigo em Sinais.
Somos vencedoras, Lak… mulheres independentes, bem amadas e bem sucedidas profissionalmente!
Grande bjo e sucesso! 🙂
Você é meu exemplo, Lívia! Espero conquistar tanto quanto você!
Grande beijo