O que significa aceitar a deficiência auditiva?
Em tempos de internet, muito se fala a respeito da auto-aceitação, especialmente referente a grupos de ditas minorias. Vivemos numa era em busca de fortalecer a identidade, em se reconhecer como agente ativo e não um mero agente passivo. E aceitar deficiência é um assunto bem frequente.
Para muitos, aceitar a deficiência auditiva é se reconhecer como surdo. De fato, negar a surdez não seria uma forma muito eficaz de aceitar essa deficiência. Porém, o que significa, para cada um de nós se reconhecer e se aceitar é muito subjetivo. De acordo com muita gente, reconhecer a surdez é utilizar a língua de sinais como forma de comunicação e conviver com outros surdos, assumir a Identidade Surda e viver a Cultura Surda. De fato, eu concordo.
Mas, essa não é a única forma de se aceitar. Acho que aceitar é deixar de negar a deficiência e tentar se passar por ouvinte. Porque quem tem deficiência auditiva e depende de leitura labial ou de uma prótese para ouvir, jamais seria um ouvinte, não tem como.
O que eu reconheço como forma de auto-aceitação para aqueles que optam pela oralidade e pela leitura labial/próteses auditivas:
- Não ter vergonha do sotaque da própria voz. Muita gente perde a audição cedo ou desenvolve a voz através de exercícios de fono ou através de uma prótese. Resultado, a voz soa um pouco diferente da voz de um ouvinte. E tem gente que fica com vergonha de usar a voz. Por que? É a nossa voz! A única que a gente pode ter. E ela nos permite comunicar-nos com os outros. Não deveria ser motivo de vergonha. Tem um monte de ouvinte com voz feia e enrolada e ninguém enche o saco dele. E se enche, ele não fica tentando melhorar. Logo, com pessoas com deficiência auditiva deveria ser igual: aceite sua voz e fale tudo o que te der vontade. Se te olharem estranho, ofereça comida. Cara feia geralmente é fome!
- Não ter vergonha de fazer fonoterapia. O trabalho das fonos é fundamental para a vida de muita gente, não só de surdos. Mas, pouca gente valoriza esse trabalho. Fonos ensinam a soltar a voz, a respirar melhor, a lidar melhor com questões como ansiedade, a evitar rouquidão e até a mastigar. O trabalho da fonoaudiologia é bem amplo. E muito ouvinte deveria fazer fono também. Mas às vezes, parece que só a gente tem vergonha na cara e reconhece o trabalho delas!
- Não ter vergonha de usar uma prótese ou um implante. “Não uso aparelho porque é feio”. Feio, meu caro, é ter preconceito com algo necessário para a sua qualidade de vida. Óbvio que existe todo o período de aceitação, especialmente quando a pessoa não precisava usar o aparelho antes ou quando pais nunca tinham sequer reparado em crianças que usavam aparelho e de repente tem uma em casa. Mas, esse período não pode ser eterno. Se algo é necessário na sua vida, é hora de mudar os conceitos e passar a valorizar a tecnologia que está disponível para acrescentar milhares de sons ao seu silêncio.
- Não ter vergonha de falar sobre a surdez, sua voz ou sua prótese. As pessoas tem curiosidade e devemos estar abertos para esclarecer essas dúvidas. Óbvio que ninguém precisa virar o Google, mas nem todas as pessoas sabem sobre o assunto e se você não se dispõe a falar deles, fica difícil elas começarem a entender. Esteja aberto à conversar, até tome a iniciativa se necessário. Sem conversa não existe espaço para mudanças.
- Pedir ajuda quando necessário. O que significa pedir para as pessoas não falarem todas ao mesmo tempo numa reunião, por exemplo. Ou pedir para que falem mais alto. Ou pedir para que escrevam. Ou pedir para que repitam, quando você não entendeu na primeira vez. Fingir que você está entendendo não resolve a situação e, acredite, o único prejudicado é você.
- Ter amigos surdos. Parece bobagem? Pois não é. A convivência com seus iguais te tira da bolha de que você é o único ser com deficiência auditiva e certas dificuldades do planeta. Quando você descobre que existe um monte de gente igual a você, percebe que brigar pelos seus direitos é muito mais coletivo que individual. E que existe sim, pessoas que vão te entender sem que você precise explicar nada e isso é ótimo. Ah, você pode sim optar pelo grupo que você mais se identifica. Por exemplo, a grande maioria dos meus amigos surdos são oralizados e implantados (ou em via de implantar).
- Reconhecer sua necessidade de acessibilidade complementar. Exija legenda, exija equipamentos de transmissão de áudio (tipo que o palestrante/professor use seu sistema FM ou seu Mini Mic), exija um telefone com transmissão Bluetooth. Exija tudo que permita que sua compreensão auditiva ou visual melhore. Não tenha vergonha de pedir coisas que você precisa.
- Fazer terapia! Se essa aceitação não estiver vindo naturalmente, procure ajuda especializada. Especialmente se você perdeu a audição depois de adulto e está tendo que lidar com uma situação diferente da sua habitual. Ou se o baque de ter um filho com deficiência auditiva estiver difícil demais de lidar. O processo terapêutico serve justamente para essas horas!
- Falar a respeito consigo mesmo. Escreva um diário, converse em voz alta. Fale com você. Falar com os outros é muito bom, mas a gente não pode deixar de tentar se entender com a gente mesmo. Escrever foi o meu processo terapêutico, mas tem gente que se dá melhor falando sozinho. Se for uma forma de você se libertar dos seus fantasmas e dores internos, manda ver!
- Encarar a realidade como parte de você, não como o todo. Você tem uma deficiência, não é ela que tem você. Você é muito mais que um par de orelhas que não funciona. Você é uma pessoa inteira, com história para contar e vida para viver. Tenha sempre isso em mente!
Aceitar a deficiência é aceitar as regras do jogo que você foi colocado para jogar. Mas nada te obriga a ficar sentado no banco observando o jogo apenas. Seja o melhor jogador, ou o mais engraçado, ou o técnico, ou a animadora de torcida. Qualquer que seja o papel que você escolha exercer não mudará o fato de você estar no jogo (afinal, deficiência é irreversível) mas tornará a partida mais divertida, mais proveitosa e mais agradável de jogar até o fim!
Beijinhos sonoros
Lak Lobato
O Problema é não só aceitar, mas os outros, parentes, pessoas, que nos cercam tornando difícil conviver com este problema e outros tornam mais leve, fácil.
O problema é sim se aceitar. Sem auto aceitação, a convivência com os outros é ainda pior. Primeiro, você se aceita. Depois se preocupa com os outros.
É verdade! uma ótima explicação e vou tentar mudar o modo de pensar. Obrigada! Mil vezes obrigada!
O difícil msm e se aceitar . Minha filha perdeu totalmente a audição bilateral e o difícil Esta sendo pr aceitar .Muitas vez ela acaba se afastando das pessoas por não sa sentir inclusa .
Lute, não se afaste, peque amigas, pessoas de alto astral, educadas, inteligentes!
Como Lak Lobato, sem puxa saco!
Deficiente Auditiva ou Surda ??
Aceitar ou não ??
Eu me aceito como sou…independente do termo usado….mesmo com depressão em alta e me afastando das pessoas….mesmo com muitas dúvidas…mesmo ainda descobrindo meu passado que não conheço como fui ser surda e ou deficiente auditiva….única certeza ainda Rubéola…
O conceito em nos aceitar são as pessoas . …sejam elas ouvintes ou surdas….pelo simples fato de ouvirmos e sermos oralizados , não vejo aceitação de ambas partes…
O simples fato de ouvir , falar muitas pessoas desprezam que sou surda e ou deficiente auditiva…
Pelos médicos, governo , fonos somos considerados deficiente auditivos ou surdos…
Mas pelas pessoas que ouvintes muitas vezes…NÃO….pelos surdos…NÃO…senti na pele o desprezo ….de pessoas com iguais a nós….que me dói muito….e também de pessoas ouvintes ….
Eu falo oralmente perfeito….mas meus ouvidos muitas vezes NÃO ouvem…e peço Desculpe, não entendi…
Isso é tanto no trabalho ou em qualquer lugar…
Inclusão onde ? Não é fácil !!
DESCULPEM-ME O MEU DESABAFO…!!! SE OFENDI ALGUÉM ME PERDOEM !!!
Me vejo no seu lugar Elaine
O importante, Elaine, é não tentar negar a deficiência fingindo ser o que não é.
Não tentar esconder características suas: a voz, os aparelhos, a necessidade de encarar os outros pra fazer leitura labial.
Não passar dificuldade porque poderia ter legenda mas vc tem vergonha de pedir. Nem deixar de pedir que repitam, etc.
Você se reconhecer como alguém que tem limitações auditivas e vai precisar de acessibilidade.
Inclusão tem que começar com a gente exigindo e não ficar esperando que o mundo se adapte.
O termo que vc usa, tanto faz. A questão é como você se vê.
Busque uma vida melhor pra você, em vez de esperar aceitação dos outros. Você é a pessoa mais importante da sua vida!
Eu uso surda oralizada e digo que TENHO deficiência auditiva. Mas isso sou eu.
Não tiro a sua razão Lak, graça a você que vou entrar no mesmo mundo que você. Quando eu era mais nova, tinha pouco de vergonha de estar com o cabelo preso porque o aparelho estava a mostra. Hoje em dia não faço mais isso, mais tem pessoas que acha que precisa fazer gestos pra mim entender melhor, isso eu não consigo aceitar e já peço pra que não se repitam isso. Mais tenho orgulho do que sou, do que me tornei .
Acho que todos nós passamos por esse período de negação, de dificuldades de lidar com o fato de ser diferente.
Mas a mudança tem que vir de dentro. Se você aguardar as outras pessoas pararem de estranhar, não vai chegar nunca a auto aceitação.
Mude você, transforme a sua auto imagem em algo que te agrada. Aí, a aceitação alheia será reflexo da sua. E se não houver, vc não vai nem se importar!
Estou assim igual a Elaine mas estou tentando mudar, vou buscar ajuda psicológica pois tá muito difícil e sozinha não estou conseguindo.
Melhor coisa, Sandra. Não cheguei ao nivel que cheguei sem ajuda. E reconhecer que precisamos de ajuda, é sinal de força, porque é muito mais fácil deixar tudo do jeito que está. Te desejo toda a força do mundo :*
Lak Lobato EU ME ACEITO DO JEITO QUE SOU …DEFICIENTE AUDITIVA 🤗…ESTOU INDO AO PSICÓLOGO …ME SINTO SOZINHA SEM FORÇAS COM DESÂNIMO TOTAL 😔😔…Estou descobrindo aos poucos sobre minha vida … praticamente uma vida inteira sem saber motivos da minha SURDEZ 😔
Tive barreiras na aprendizagem e no convívio com as pessoas pelo fato de ser DEFICIENTE AUDITIVA…e somente descobrir algumas coisas agora …e saber que existem pessoas que não nos aceitam como somos DÓI 😢😢
Ainda estou construindo minha história que esteve escuro por 41 anos e tem muito chão pela frente…
Faço uso de aparelho auditivo há 3 anos mas, minha perda da audição não é de agora …tenho somente meia audição e muitas vezes peço para repetirem SOU SURDA..
É complicado escrever aqui tudo o que sinto…e o que acontece no dia a dia…😔😔
O mais importante é se aceitar, depois sair desse período, e vida que segue. Conheço gente que diz: vc é quem não aceita, porque vc (eu) fica correndo atrás de BI de querer trabalho, ahhh affs. Essas Surdaradas acham que tô morta, eu heim, só quero o melhor pra mim é pra quem se acha merecedor. Esse negócio de vir me falar que aceitar é ficar de boa, e ficar no silêncio não é minha praia, não rsrs
Fátima J. Amâncio o que é bl ??
Elaine me compadeço de sua dor. Se apenas a surdez ja traz sérias consequências para o convívio socio cultural da pessoa surda, o que deve ser quando a surdez vem acompanhada de depressão… Reconheço que não tenho forças próprias para evitar uma depressão. Minha força e minha alegria está no Coração de Jesus. Ele é o meu segredo.
Todo surdo sabe muito bem o que é não ser aceito socialmente. Os oralizados também tem consciência que os ouvintes nos vêem como se fôssemos ouvintes… Não temos o poder de mudar as pessoas. Mas temos o poder de nos transformar, de escolher onde depositar nossa felicidade. Onde estamos depositando nossa felicidade? No outro? Em Deus?
Só existe um caminho: 1) Aceitar que Deus nos criou por amor (isso inclui todo nosso ser, inclusive a surdez), viver SEM cobrar dos outros (imitando a Cristo na cruz), permitir que o sacrifício da surdez cure e salve os corações difíceis e incompreensíveis… isso trará por consequência paz e alegria que nunca se acaba e se renova diariamente; 2) Viver COBRANDO aceitação dos outros, se permitir sentir a pessoa mais sofrida do mundo, depositar sua alegria no outro… isso trará tristeza, falta de motivação para viver, uma vez que o outro é livre para ser o que quiser ser.
“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo”. São Mateus 6.33
Forças. Estou torcendo por você!
Uai eu achando que: quem se aceita, não fica depressiva. Psicológos do grupo, eu tô errada? Eita rsrs
Neusa Maciel Ferreira leia este texto, vais gostar