O que significa Diversidade da Deficiência Auditiva

Se tem um assunto que abordo muito frequentemente aqui no blog é a questão da diversidade dentro da deficiência auditiva. Especialmente, porque enfatizo como é importante respeitar essa diversidade. Na verdade, qualquer diversidade. Mas no caso da surdez, mais do que em qualquer outro grupo, respeitar a diversidade significa respeitar diferentes formas de comunicação, de solução da barreira comunicacional e saber qual o melhor tratamento para oferecer à pessoas com deficiência auditiva.

Como tudo nessa vida, para que o respeito seja adequado, é importante conhecer melhor o assunto, para entender o porquê das diferenças nessa questão.

Falemos, então sobre os Diferentes tipos de Deficiência Auditiva.

A surdez pode ser diferente por conta do momento em que ela se faz presente na vida do indivíduo:

Surdez pré lingual: Quando ela se manifestou num período entre a gestação e os dois anos de idade, considerado o período crítico de formação de linguagem. Geralmente, a linguagem não se forma espontaneamente, a menos que haja algum tipo de intervenção (língua de sinais, reabilitação auditiva, próteses e implantes auditivos). Antigamente, a surdez nesse período era ignorada por uma quantidade considerável de pais. Atualmente, a descoberta se tornou mais comum, graças à Triagem Auditiva Neonatal. Entre os dois e os seis anos de idade, a aquisição da surdez se dá no período peri-lingual, cujos resultados sobre a linguagem vão depender de haver ou não uma intervenção adequada, no momento certo.

Surdez pós lingual: surdez adquirida após a aquisição da linguagem, a partir dos 6 anos de idade. Quanto mais tarde ela ocorre, menores são os efeitos dela sobre a estética da voz e linguagem. E quão logo for a intervenção médica/fonoaudiológica, menores são as consequências a longo prazo.

Os diferentes graus da surdez resultam em diferentes desenvolvimentos da linguagem e interação com o mundo ao redor:

Perda leve: 21 dB-40 dB – a pessoa pode ter alguma dificuldade de compreender em ambientes mais ruidosos. Afeta muito pouco a fala.

Perda moderada: 41 dB-70 dB. Para a pessoa entender bem, a voz precisa ser claramente mais alta que o ruído ambiente. Ela pode ter dificuldade de acompanhar uma conversa em grupo. A fala pode ou não ter algumas questões comprometidas. O uso de próteses auditivas (AASI) costuma ser indicado.

Perda severa: 71 dB-90 dB. A dificuldade de ouvir é bem elevada e, em alguns casos, compreende-se algumas palavras ditas com tom de voz mais ato. Ou não ouve nada de compreensível. A fala dificilmente se desenvolve sem intervenção e apresenta questões de distorção, quando não existe reabilitação auditiva por próteses ou implantes.

Perda profunda: acima de 90 dB. A pessoa ouve apenas alguns ruídos ambientes mais altos e percebe vibrações. A fala se desenvolve somente com intervenção e uso de implantes auditivos.

Há mais de um tipo de via de comunicação utilizada por pessoas com deficiência auditiva.

Comunicação oral: ao contrário do que muita gente imagina, pessoas com deficiência auditiva, independentemente do tipo ou grau de surdez possuem voz (salvo se tiverem algum problema direto nas cordas vocais, o que é bastante raro), ainda que nem sempre aprendem a falar. Porém, como já foi dito, a surdez pode se fazer presente em diversos momentos da vida, em diversos graus e por diferentes causas. Por isso, há pessoas com deficiência auditiva que falam via voz, normalmente. Ou ter algumas questões que fazem a voz soar um pouco diferente (o famoso sotaque de surdo). Independentemente do sotaque, essas pessoas se sentem bastante confortáveis de falar dessa maneira.

Comunicação gestual: ainda que a imensa maioria de pessoas com deficiência auditiva tenha todo o sistema fonético do corpo existente, nem sempre a fala se desenvolve por falta de intervenção precoce ou impossibilidade de haver essa intervenção (há muitos tipos de surdez e nem todas possuem resultados com aparelhos ou implantes auditivos), muitas pessoas se sentem melhor e acham mais natural usar/incentivar o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Que é uma forma de comunicação garantida por lei e válida em todo o território nacional.

Comunicação bimodal: e há pessoas que se sentem confortáveis de utilizar mais de um tipo de linguagem, valendo-se da voz oral e da língua de sinais. A forma de comunicação dessas pessoas é considerada bimodal.

Formas adequadas de se comunicar com pessoas com surdez:

Pessoas com deficiência auditiva leve/moderada: com elas, normalmente fala-se por voz e elas respondem por voz (há alguns entusiastas da língua de sinais, mas elas costumam entender a voz apenas ouvindo). Em alguns casos, elas podem pedir para você falar mais devagar, ou mais alto, dependendo da sua dicção, sotaque ou ruído ambiente. O desenvolvimento da língua portuguesa, para elas, é fluente. Elas geralmente respondem falando e raramente possuem questões na voz que causam estranheza.

Surdos Oralizados: Podem ou não utilizar próteses ou implantes auditivos. Podem ou não ter sotaque de surdo na voz. Mas, quando se consideram exclusivamente surdos oralizados, geralmente utilizam apenas o português falado. Podendo usar a leitura labial e/ou a audição amparada por prótese/implante. Ainda que seja mais frequentemente atribuído a surdos pós linguais, há surdos de nascença oralizados, quando tiveram intervenção precoce por fonoterapia e/ou uso de próteses/implantes adequados para a perda.

Surdos Usuários exclusivos da Libras: Surdos de nascença ou que perderam a audição relativamente cedo e não desenvolveram a fala oral. Conversam através da língua de sinais. Podem ou não fazer leitura labial, mas muitos não tem compreensão fluente sobre a língua portuguesa, já que a Língua de Sinais é um idioma independente e eles a consideram sua língua materna. Para comunicar-se com eles, o ideal é aprender Libras ou comunicar-se através de intérpretes, mas sempre olhando e dirigindo-se à pessoa surda.

Surdos Bilingues: Sinônimo de comunicação bimodal. Aqueles que utilizam mais de uma forma de comunicação e geralmente são fluentes (ou tem conhecimento avançado) tanto na língua portuguesa quanto na língua de sinais. Podem ou não utilizar próteses/implantes auditivos e fazer ou não leitura labial. Para comunicar-se com eles,  pergunte como se sentem mais confortáveis (ou naquele momento ou ambiente). Alguns podem utilizar o português apenas na modalidade escrita.

As diferentes formas de comunicação que podem ser utilizadas por pessoas com deficiência auditiva para estabelecer sua comunicação:

Libras: É uma língua completa, reconhecida pela LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL  DE 2002. Possui morfologia, sintaxe e semântica própria. Não é uma forma gestualizada do português, ao contrário do que alguns pensam. Muitos surdos a consideram o primeiro idioma e é a única forma de comunicação que utilizam.

Leitura Labial: É a interpretação dos movimentos dos lábios, bochecha, língua e expressões faciais, como forma de compreender a comunicação. É uma habilidade natural do ser humano, mas nem todas as pessoas possuem facilidade de interpretação. Outras pessoas, entendem perfeitamente uma conversa através dela. Necessita de algumas condições como boa luz, visão clara do rosto do interlocutor, fala em velocidade adequada (nem muito rápido, nem muito devagar), articulação adequada (nem inexistente, nem exagerada), etc.

Próteses Auditivas Convencionais: São aparelhos de amplificação sonora que não dependem de intervenção cirúrgica. Geralmente tem bons resultados em perdas auditivas mais leves (moderada a severa). Usa a função auditiva natural do corpo, apenas ampliando o som, tal como uma caixa de som faz para um ambiente.

Próteses Implantáveis: Dependem de intervenção cirúrgica. Algumas utilizam a função auditiva natural do corpo, empurrando o som para a parte do ouvido que envia esse som para o cérebro interpretar, como é o caso do implante de condução óssea. Outras, substituem totalmente a reprodução do som no ouvido. É o caso de implantes auditivos como o Implante Coclear e do Implante de Tronco Encefálico.

Tipos de Pessoas com Surdez:

Pessoas que gostam de ser auxiliadas: como tudo nessa vida, há pessoas e pessoas, independentemente do grau, tipo ou causa da surdez. Algumas gostam que você intermedie a conversa dela com outra pessoa (num restaurante ou num estabelecimento comercial, por exemplo). Gostam de ter intérpretes que os ajudem. Gostam de receber atendimento preferencial em estabelecimentos, etc. É uma escolha da pessoa, para que ela se sinta mais confortável em situações em que se sente vulnerável.

Pessoas que preferem ser auto-suficientes: outras preferem se virar sozinhas e sentem-se incomodadas quando uma terceira pessoa interfere sua comunicação. Essas não se sentem vulneráveis (ou a vulnerabilidade não as incomoda) em situações em que ela precise se comunicar com outras pessoas. Se sua ajuda for recusada por elas, não se sinta rejeitado, apenas respeite a vontade da pessoa.


Após ler esse texto, dá para entender por que é tão importante falar de deficiência auditiva considerando-se que existem diferentes tipos de pessoas com essa condição. Entender essas diferenças é fundamental para respeitar as particularidades de cada pessoa, sua forma de comunicação e linguagem.

Beijinhos sonoros,

Lak

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