Ouvindo Sinatra na voz de Bibi Ferreira
Ano passado, em 2013, foi a primeira vez que pude ir ao teatro depois de mais de duas décadas de silêncio. A história completa pode ser lida aqui ou no livro, já que é um dos textos mais marcantes do DNO.
Quando lancei o livro, em março deste ano, tive uma imensa vontade de mandar um exemplar para a assessoria da Bibi Ferreira, já que ela virara uma personagem importante da minha trajetória. Porém, como diz meu marido, sou uma pessoa humilde até demais e sempre acho que minha história não é tão… necessária(?)… assim.
O tempo passou e Bibi lançou um novo espetáculo: Bibi Ferreira canta repertório Frank Sinatra. E recebi um convite de assistir novamente o espetáculo.
Confesso que sou muito mais fã da Bibi do que do Sinatra. Eu conhecia umas 3 músicas dele e olhe lá. Tenho uma preferência absoluta por ouvir a letra do que a própria música em si. Sempre fui assim e eu prefiro o que as palavras dizem, viajo delas… A parte instrumental é apenas pano de fundo. E, felizmente, o IC favorece essa preferência. E como do inglês, eu entendo apenas algumas palavras soltas (auditivamente falando), não é meu idioma predileto par aouvir música.
Ainda assim, aceitei o convite, porque era a Bibi, poxa vida!
Desta vez, eu confesso que fui um pouquinho “mal intencionada”, pois na minha bolsa, levava um exemplar do “Desculpe, não ouvi!”, o livro. Com a vaga esperança de ter a mesma oportunidade de abraçar a estrela!
Diferentemente do ano passado, o espetáculo foi apresentado no Teatro Renaissance. E, uma outra confissãozinha básica: eu trabalhei nesse hotel, há muitos anos atrás! Conhecia bem a estrutura, mas nunca tinha entrado no teatro. A verdade é que a acustica do local não foi muito minha amiga desta vez. Houve pequenos trechos da narrativa que me escaparam. Mas tudo bem, porque a música em si, consegui ouvir perfeitamente!
Uma coisa que eu me apaixonei pelo Sinatra – eu não sabia nada sobre ele, exceto que foi um cantor muito muito muito famoso, que veio ao Brasil e se apaixonou por Bossa Nova e gravou algumas músicas junto com Tom Jobim – é que ele era ativista de causas sociais, muito antes disso virar uma atitude esperada dos famosos. Tudo porque era filho de imigrantes italianos e sabia o que era sofrer preconceito na pele.
E as músicas, apesar de desconhecidas (com exceção de uma, Flying to the Moon) me fizeram viajar no tempo. Ouvi a orquestra, acompanhando o vozerão da Bibi, me levar aos anos 40 e 50, na época dos bailes com orquestra ao vivo, quando as pessoas ainda dançavam em pares e amor era algo que se suspirava a dois, muito mais teoricamente do que na prática. Imaginei as damas de vestidos rodados, batom vermelho e salto alto, sendo conduzidas por cavalheiros finamente vestidos de terno. Nem entendi direito essas viagens, uma vez que eu não conhecia as músicas e não tinha memórias afetivas para com elas!.
Ouvi a platéia cantar em coro – amo ouvir música cantada em coro, esse é um dos maiores momentos de UNIÃO da humanidade, mas pouca gente tem consciência disso – uma das músicas, que não faço idéia de qual fosse e senti meu coração apertar de emoção de ser parte daquele instante. O teatro estava lotado, eram centenas de vozes cantando a mesma canção e foi lindo de se ouvir.
E ouvi a Bibi cantar Sinatra com uma destreza que apenas uma estrela como ela saberia interpretar! À voz da Bibi caberia muitíssimo bem o meu termo: Poesia Sonora!
Quando a peça terminou, depois de muito chorar e me emocionar e agradecer milhares e milhares de vezes pela benção do meu implante, minha mãe olhou para mim e perguntou: você vai entregar o livro?
Veja bem, Bibi Ferreira é um ícone do teatro brasileiro, tem 92 anos de idade e mais sucesso do que a maioria das pessoas jamais vai conhecer na vida. E quem sou eu? Apenas uma escritora que fala sobre a poesia de poder ouvir e escutar, que tem um blog e um livro publicado e era isso.
Fiquei na dúvida, mas resolvi encarar o desafio de lhe entregar o livro. O máximo que poderia acontecer era ela não me receber e eu entregar o livro para alguém da produção entregar pra ela.
Chegando na porta dos bastidores, em frente a ela estava o maestro do espetáculo. Pedi pra ele me dar 2 segundos para contar minha história. Contei que tinha ficado sem poder ir ao teatro por mais de 25 anos por conta da surdez. Mas que ano passado, tive a minha primeira oportunidade, graças a uma cirurgia e que tinha escolhido ouvir a Bibi Ferreira cantar Edith Piaf. E que isso tinha virado um capitulo do meu livro. E mostrei o livro. E perguntei se poderia presentear a Bibi com ele.
O engraçado é que a primeira reação do Maestro foi uma negativa. Não verbal, mas a expressão era “querida, nem tente”. Mas o rosto dele se transformou quando ouviu minha história e, obviamente, ele levou para a produção, que mandou me chamar.
Minha musa recebeu meu livro com um carinho que eu jamais poderia imaginar – embora ela tenha sido igualmente carinhosa ano passado – mas com uma emoção tão ou até mais transbordante que a minha. Aceitou tirar foto com o livro, me encheu de beijos e me abraçou, dizendo “Você é um ser humano maravilhoso”. Eu respondi “E a sua voz é um espetáculo. Para mim, um espetáculo duas vezes.”. E ela me disse: “eu imagino”.
Espero, de coração que se ela tiver tempo algum dia, leia o capitulo do DNO sobre nossa aventura juntas. Certamente milhões de pessoas viram os espetáculos dela. Mas poucas tiveram oportunidade de transformar num espetáculo pessoal de poesia sonora compartilhada!
Viver é poesia em movimento. No meu caso, poesia sonora, mais uma vez, interpretada na voz de Bibi Ferreira! Que privilégio!
Beijinhos sonoros,
Lak