Ouvir em sala de aula

No post anterior, falei sobre a experiência de ouvir a voz do professor pela primeira vez…

Sempre relato o entusiasmo da primeira experiência sobre coisas auditivas depois de 25 anos sem compreensão auditiva da fala (e 23 anos de surdez profunda), mas o mais engraçado desse curso que fiz, que durou 5 noites consecutivas, foi a evolução comportamental a minha parte.

Apesar de auto-observação ser muito mais difícil que a observação de terceiros, eu fiz o máximo possível para anotar mentalmente toda a experiência e gostaria de dividir aqui no DNO.

Em primeiro lugar, enfatizo que eu não sirvo de exemplo para análise de surdos. Sou surda adquirida pós lingual e, meu caso, serve de base para ensurdecidos, porque o comportamento padrão é de alguém naturalmente ouvinte que se viu diante da surdez física. Para mim, é natural ouvir, só desaprendi a fazê-lo.

Enfim, falando da experiência:

Na primeira aula, eu me surpreendi com a facilidade de assimilar o que o professor dizia. Não que antes eu não conseguisse fazer isso, mas requeria um esforço e uma concentração enormes. Por isso, uma aula mais longa era bastante cansativa. As aulas seriam de 3hs de duração cada e isso jáme deixava ressabiada. Mas, ao término da primeira noite de aula, fiquei fascinada de perceber que o cansaço era insignificante comparado a anteriormente. Mas, houve duas situações que me vi me comportando como se ainda não ouvisse:  meu coração acelerar quando o professor pediu para nos apresentarmos (falei disso no texto anterior) e simplesmente não saber se podia parar de olhar fixamente para ele.

Lá pela terceira aula, eu já estava bastante confortável para assistir aula olhando para a tela de projeção e não para o professor –  outra coisa que seria um pesadelo para mim, aula com luz fraca por causa do projetor. Só sentia uma certa dificuldade de entender quando algum aluno falava. A solução foi trocar o programa para o P4, que é o que tem filtro de ruído. Isso facilitava relativamente a captação das vozes dos meus colegas.  Mas, sempre ficava ainda melhor se eu me virasse para eles, expondo o microfone do processador de fala na direção da pessoa. Usar o IC bilateral ajudava a saber prontamente quem estava falando, porque eu conseguia localizar a fonte de som.

Como era curso de reciclagem, eu me senti bem a vontade para não prestar tanta atenção aos assuntos que eu tinha conhecimento claro e poder dar prioridade ao trabalho que o professor Collaro nos passou. Mas, até nessa hora, percebi como ouvir faz diferença. Eu nunca deixava de prestar atenção totalmente no que ele dizia. Era como se meu cérebro colocasse a voz dele em segundo plano e, quando alguma coisa despertava a minha atenção, a voz dele voltava a se destacar e eu parava o que estava fazendo para prestar atenção na aula.

Isso permitiu que eu aproveitasse 100% do tempo de aula, a revelia de ser ou não um assunto do meu interesse, sem qualquer dificuldade de administrar o tempo e sem perda de informação.

Na última aula, eu já estava até dando palpite em resposta do professor para dúvidas alheias que eu ouvia, mesmo sem estar sequer prestando atenção direito. Tão coisa minha, né?

Acredito que para salas mais barulhentas (só tinha 15 alunos na turma) o Sistema FM seria fundamental. Mas, numa turma pequena de pessoas ávidas pelo conteúdo do curso, só os Implantes Cocleares  deram conta do recado.

Quando terminou o curso, fiz questão de me despedir pessoalmente do professor. Ele perguntou se o curso tinha sido válido para mim, porque era mais indicado para iniciantes no assunto. Respondi que foi duplamente válido, pela experiência de ouvir uma aula pela primeira vez e porque também foi a primeira vez que, por mais que eu domine o assunto, tive uma aula sobre algo com o que trabalho há muitos anos.

Só tenho palavras de gratidão pela experiência!

Beijinhos sonoros,

Lak

1 Resultado

  1. Maíra Bonna Lenzi disse:

    O sistema FM é uma maravilha, mas não é a perfeição! Sempre enfreto o problema quando no meio de um grupo, mesmo de 15 pessoas, há mais de um palestrante ou quando alguém tira dúvida na plateia.
    No IC é análogo?
    Daí se eu habilito meio FM + meio ambiente normal, é horrível qd tem ar condiconado na sala… pq acaba que o barulho do ar interfere.. enfim! Tem que saber dançar conforme o contexto!

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