Pais e Filhos
**Ainda preciso fazer um texto sobre o Implante Coclear, mas estou no aguardo de um texto digno, feito por uma fonoaudióloga especializada em IC, para explicar de verdade aos curiosos e leigos (eu mesma sou leiga, confesso hehehe)
Mas, interrompendo a semana didática, hoje quero fazer um texto sobre os anjos anônimos com quem a gente esbarra por aí e muitas vezes não vê, porque para enxergá-los, é preciso olhar com os olhos do coração e, no meio dessa vida agitada e farta de tudo: trânsito, poluição, problemas, aborrecimentos, a gente costuma sair com eles meio fechados, até para se preservar.
Ontem, saí do trabalho tarde e ainda tive que passar no supermercado porque não tinha nada pra comer em casa. Devido à preguiça que me acometia – muito trabalho, favores que me pedem durante o expediente, curso de inglês na hora do almoço, trânsito – decidi fazer as compras rapidamente e correr pra casa, porque ainda tinha um monte de coisas pra fazer por lá, sabe como é, cuidar da casa exige tarefas diárias.
Enfim, naquelas de procurar coisas práticas de se preparar para o jantar, percorria o supermercado sem muita vontade, quando algo me chamou a atenção. Era um pai, com seu filho que já deveria estar na pré-adolescência. Ele vestia um uniforme de judô, karatê, algum esporte desse tipo. Até aí, nada demais, já que gosto imensamente de observar as pessoas, sempre gostei, mesmo quando criança e ouvinte. Mas, de imediato percebi que o menino devia ter alguma deficiência motora, porque ele caminhava e segurava as coisas com uma certa dificuldade. E, numa determinada hora, ele pegou um vidro grande de molho, de uma forma absolutamente insegura, mas com um sorriso no rosto de quem se sentia bem de poder fazê-lo. O pai, retribuiu o sorriso com um carinho que transbordava e amparou as mãos do filho, pra colocar o vidro dentro do carrinho sem risco de quebrá-lo. Em nenhum momento assumiu a postura normal de pai impaciente, com a mensagem oculta de “você vai quebrar isso”, foi apenas um apoio para dar a força e segurança que faltava. E depois, quando o vidro já estava no carrinho, o pai puxou o filho pra perto de si, num abraço paterno que dizia claramente “estou tão orgulhoso de você”.
Não sou uma pessoa de chorar em publico, mas confesso que meus olhos encheram d’água nessa hora. Pensei que, a menos que o mundo mude (e eu acredito que possa mudar), o mundo não costuma receber pessoas com deficiência de braços abertos, mas com esse tipo de amparo, ELE irá acreditar em si mesmo e essa postura que fará toda a diferença.
Um amigo meu me pergunto se o menino não tivesse a deficiência, a cena teria tanto impacto. Ainda que o amor paterno seja algo muitíssimo agradável aos olhos, sendo sincera, talvez não eu não me comovesse tanto assim, se fosse apenas uma criança normal. Acreditar numa criança amada e desejada, sem deficiência nenhuma, é fácil (claro que nem todo mundo tem essa capacidade), mas ver uma cena dessas, envolvendo uma criança com deficiência é especial, porque você vê que vai contra o senso comum de que uma pessoa com deficiência é sempre um fardo.
Quando vejo uma cena assim penso que não sei quem é o anjo. Só sei que estou na presença de um desses instantes mágicos que farão MUITA diferença na vida daquele serzinho que vai crescer acreditando em si mesma. E são justamente esses momentos que fazem a gente parar e pensar: Viver vale a pena!
Beijinhos
Lak
Bonita história do dia a dia. Eu sou muito emotiva e quando vejo uma cena de carinho e amor em situações tão “banais”, também encho os olhinhos d’água. O negócio é acreditar que um dia esse amor seja tão comum que a gente não “estranhe”.
Bjs
Ainda que esse dia chegue (torcendo de todo o coração pra ser logo), acho que sempre será bonito de se ver… As belas coisas da vida não enjoam nunca….
Beijos
Lak,
De facto este tipo de história marca muito e nos faz pensar de uma forma tão profunda, capaz de desconcertar por instantes em que muitos não sabem como reagir. Aqui na minha cidade existe um elevado pico de deficiências, muitos pais acabaram por mudar de residência justamente por existir um pólo diverso de ajudas técnicas: Terapias, Fisioterapias, Auxílio Pedagógico. Um local privilegiado, portanto, diferentemente de Lisboa ou Porto por lhes faltar um pico de humanidade… e não temos sequer a mesma dimensão dos “grandes políticos”.
Na verdade, ignoramos, e a Câmara Municipal investe fortemente nas melhores condições a todos os cidadãos e responde às necessidades nem mesmo que tenham de apertar o cinto, mas há pessoas, lá isso há, maliciosas e cruéis. Entretanto, acredito que o mundo está a mudar, as pessoas estão mais atentas às “diferenças” devido ao facto de muitas crianças, filhos de alguém terem colegas “diferentes” nos colégios e ensinos regulares – isso abriu uma maior dose de consciência.
Ah, relativamente ao verso no meu blog, podes usa-lo, estás a vontade, cantei-o no depois de acordar da cirurgia 🙂
Beijo Lak
Que bom perceber que o mundo caminha em conjunto, ainda que a passos lentissimos, pra mudança de percepção acerca da qualidade de vida das pessoas com deficiência. Não existe mais espaço para egocentrismo que ignora a necessidade do outro. Todo mundo merece respeito!
Aquele verso realmente é lindo. Amei de verdade.
Beijinhos
Lak ainda ontem pensava sobre crianças estimuladas pelos pais. Não precisa muito para que a criança se sinta amada. Ela quer apoio; e os olhares de aprovação vindo dos pais é o que mais pesa.
Ótima post. Também deixou meus olhos marejados.
Bjs
Ps: vc vai no “Noturnos Cadeirantes”? Comprei ingressos para amanhã. 🙂
Pois é. Acho que pra ser pai, não adianta querer passar os genes a diante, é preciso ter uma capacidade inesgotável amar, nas condições que forem!
Acho que não vou não, Fabi. Queria ir, mas confesso que tenho um monte coisas pra fazer no final de semana e vou acabar não conseguindo ir e odeio dizer que vou, e não aparecer. Curte bastante por mim, viu? Beijos
É tão fácil icentivar, apoiar e ajudar uma criança… Pena que muitas pessoas não se dão conta disso….Esse gesto tão simples desse pai pode fazer uma diferença tão grande no crescimento desse menino!
São esses “anjos” espalhados por aí que não deixam a gente desanimar, não é?
Beijinhos!!
Verdade!
Beijo
Lak, eu penso que a gente acaba sempre se prendendo ao que se acha pertencente ao nosso grupo. Existem coisas que nos atraem, como foi o caso do garoto deficiente, eu as vezes passo por situações semelhantes com algumas coisas.
Dito isto, acredito que dependendo da forma como lemos o mundo podemos ou não ver coisas positivas. Acredito que o fato e vc conseguir ainda ver ações que te emocionem demonstra que ainda é capaz de acreditar no outro, isso ‘muito bom.
Não me atenho tanto ao fato dele ser um semelhante, visto que são deficiências muito diferentes e eu consideraria arrogância dizer que entendo o que ele passa; mas costumo ver muitos muitos MUITOS casos de pais que, diante um filho com deficiência, simplesmente verem-no como um fracasso, que não vale a pena investir nele e tratá-lo como um eterno coitado que não merece nenhum incentivo.
Isso é barra! Por isso que eu fico comovida diante de uma situação dessas!
Lak, acho que quando nos vemos vivendo uma situação, a oportunidade se apresenta diferente diante do olhar. Lembro que quando meu filho era ainda pequenino e, estava perto dos três anos, já conseguia falar algumas palavras, o que já me enchia de alegria. Tenho uma amiga, que tem um filho da idade do meu e sempre foi muito precoce. Ela sempre me contava os progressos dele, que me encantavam, eu por mimha vez dizia do progresso do meu filho, sabe como é …Ele já diz bola. Sabe o sentimento do outro lado não era o mesmo, eu sentia que aquilo não a impressionava…
Olhares diferentes Lak, olhares diferentes….
Que pena, Lu, que a sua amiga é tão limitada! 😉
Cada conquista do seu filho exigiu muito mais esforço e capacidade que o do dela… Se ela não fosse tão limitada, comemoraria com vc cada conquista dele tb!
Beijos
Lindo, emocionante e revive minha esperança na humanidade, tão complexa, e que tantas vezes deixa-me enojada pelo desamor. A mensagem sempre será a mesma, amor, amar e ajudar, dar, compartilhar..
Lindo Lak, nos meninos “diferentes” encontra-se a alma de Deus dando-nos amor.
Beijos