Quando a opinião dos outros incomoda…
Não é fácil viver em sociedade. Ter outras pessoas por perto é fundamental! Afinal, quem gostaria de viver numa ilha deserta, sem qualquer contato humano? Mas não é fácil.
Não é fácil principalmente quando não fazemos parte do grupo mais afortunado por alguma razão. Quando não somos os mais bonitos, os mais ricos, os mais inteligentes, ou qualquer coisa que facilite a nossa entrada para o grupo dos ídolos.
Agora, imagina quando uma deficiência entra na equação? Porque a sociedade em geral, tem uma visão muito pessimista de pessoas com deficiência. Elas são as menos privilegiadas, as menos bonitas, as menos felizes, as menos realizadas, as menos [insira qualquer coisa aqui]… O que nem sempre corresponde à realidade, mas ainda assim, essa visão sem querer afeta a pessoa com deficiência sim. Nem que seja para encher o saco…
Esses dias, estava conversando com um monte de pessoas – não vistam a carapuça, foram vááááárias conversas mesmo, inclusive auto-conversações – em relação a essa questão de como os comentários, olhares, críticas e opiniões dos outros incomodam. Incomoda principalmente quando pega num ponto fraco nosso. Às vezes porque é intencional mesmo, noutra nem é a intenção, só desinformação. Mas também, às vezes, é simplesmente impressão nossa.
Comentários como “Nossa, você tem deficiência auditiva? Coitada de você, né? Deve ser tão difícil!” são incômodos. Percebem que essa frase já embute uma opinião formada? A pessoa já acha, sem te conhecer, que você é infeliz com a situação e por isso é uma coitada. E geralmente, porque ela (acha que) se sentiria assim na sua condição.
Ou aquelas pessoas que na tentativa de serem simpáticas, falam uma coisa que é muito fácil ler entrelinhas “Você é surda? Ah, que pena, mas você é tão bonita”. Dá a entender – embora nem sempre seja isso que a pessoa queira dizer claro, só saiu truncado – que a pessoa acha que além de surda, esse alguém também deveria ser feio. Ou que o fato dela ser bonita meio “salva” ela da desgraça absoluta de ser surda, não sei exatamente…
A questão é como lidar com isso. Sei que é fácil, muito fácil, sentar a bunda no sofá e escrever um texto no blog dizendo “Ignore essas pessoas, não deixe que nada te afete”. Mas no mundo real, na prática, não é bem assim. Essas coisas incomodam sim. E quando incomodam, ficar fazendo vista grossa não é solução. E também não é solução bater boca com todo mundo que fala alguma besteira.
Mudar o mundo é possível, mas não é algo que será feito do dia para a noite. Reconheço que tem sido feito um imenso trabalho de mudança social em relação a pessoas com deficiência. São livros, palestras, filmes dedicados a esse tema. A mídia tem falado bastante do assunto. Existem inúmeros blogs e canais do YouTube de pessoas com deficiência relatando sobre a vida que levam, que geralmente tem muito pouco a ver com os estereótipos….
Ainda assim, toda essa mudança social não vai acontecer de hoje para amanhã. E não dá para esperar o mundo mudar para poder ser feliz. Por isso, resolvi falar do assunto…
Obviamente, sempre haverá situações que vão nos incomodar, mas ponto principal é achar o equilíbrio para que a opinião dos outros não nos paralize.
Comece pensando o seguinte: por que esse comentário tal, incomoda? Ser chamado de coitado te incomoda? Por que? Faça uma auto-análise, converse com amigos, leia sobre o assunto. É incomoda porque realmente atrapalha em algo – te impede de namorar ou conseguir emprego, por exemplo – ou te incomoda só porque você acha chato ouvir?
Você já tentou conversar com a pessoa que fala essas galhofas? Tem gente que é cabeça dura e intransigente mesmo (uma parte considerável da população), mas tem gente que só pensa assim, porque nunca trouxeram outra visão para ela. Você já pensou em conversar com a pessoa? Explicar sobre sua condição, sobre sua vida, sobre suas conquistas, sobre seus desafios? Será que uma boa conversa não mudaria a visão dela sobre você e sobre a sua condição?
Outra coisa que incomoda: os olhares. Tenho certeza que qualquer um que use uma prótese já recebeu olhares indiscretos. Mas será que todos os olhares são de condenação? Será que os olhares não são de curiosidade? Já tentou perguntar se a pessoa está curiosa? Não falo de puxar conversa com qualquer curioso no ponto de ônibus. Mas de falar com a manicure que faz a unha com olhar de curiosa. Sabe que numa dessas conversas com a manicure do lado que tive uma das conversas mais importantes da minha vida? Ela tinha uma parente que tinha perdido a audição e estava desesperada, mas não conhecia o IC. Passei as dicas pra ela. E ela estava olhando pro meu aparelho achando que era algum fone de ouvido diferente.
Lógico que eu sei que não é fácil essa mudança interior de atitude. E reconheço que ela também não é infalível. Já me magoei muitas vezes com comentários maldosos que eu deveria simplesmente ignorar ou relevar, mas não consegui. Mas é bem pouco comum essas situações na minha vida.
Acredito que conversar entre nós, pode ser o primeiro passo para uma grande mudança interior sim. E gostaria de propor essa conversa com vocês que leem o blog. Será que faz diferença?
De verdade, eu gostaria de poder ajudar. E quem sabe, receber a ajuda que nem sei que estou precisando?
Beijinhos sonoros
Lak
Acho que nós temos isso na gente…se preocupar com opiniões a nosso respeito…e quando existe uma deficiencia no caminho isso se torna um pouco mais palpável, pq as outras pessoas acabam achando que uma deficiência pode tornar a outra incapaz..
Eu hj não me incomodo com opiniões ditas, expressadas…me incomoda mais aquele julgamento silencioso ..de olhares, onde vc percebe que ja tão analizando e pensando” tadinho , é surdo(no caso do Leo).
Isso hj me incomoda muito mais ,pq se a pessoa falar é mais facil vc mostrar que não é bem assim..mostrar o quanto ele é um menino normal..o quanto ele não tem nada de coitado..mas o julgamento sem palavras me deixam p….da vida.
Mas mesmo assim..hj a opinião alhei a respeito de qualquer coisa ja não me incomodada tanto quanto antes.
Se humano tem essa mania …infelizmente.
Se incomodar faz parte. Mas não pode paralisar. Nem deixar de viver por medo do que os outros vão pensar… Ser completamente indiferente a tudo, também é uma forma de negação. Quando incomoda, se você enfrenta como possível, mas vezes essa mágoa nem fixa na memória a ponto de ser incômodo.
Minha sogra vive falando da minha sobrinha, chamando a minha pequena de “poor little thing” (“coitadinha”). Tenho vontade de matar a mulher! Conto até mil, respiro fundo e digo que minha sobrinha é uma criança maravilhosa, que vai crescer e se desenvolver, com o apoio da família e suporte da medicina, médicos e fonoaudiólogos.
Acho um saco ter que ficar retrucando o tempo todo mas espero que ela tenha um pouco mais de empatia.
Deixa que o tempo faz as idéias dela mudarem. Ou vocês descobrem que não vale a pena conviver com ela. Beijos
Infelizmente, sempre terão aqueles que sentem a necessidade de palpitar e normalmente criticar nosso jeito de ser,agir e pensar. Mas nós podemos nos modificar (não é fácil) para que isso não influencie tanto em nossa vida. Estou tentando me modificar para que isso aconteça, mas é um processo longo…
Há uma frase que li uma vez e que adorei, hoje penso muito nela quando ouço alguns palpites hehehe
” Se falam por trás de mim é por que respeitam minha presença”
Ou porque sua presença incomoda, né? Pelo menos, insignificante você não é hihihi
Celia Ricardi
Por isso não ando de cabelo preso,até tento,mas eu percebo os olhares das pessoas!Só sabe que não ouço,quem me conhece,na rua faço o possível e o impossível para não conversar com ninguém, não parece,mas ainda é difícil pra mim minha amiga,vivo fugindo pra não ter que conversar com quem não conheço!
Infelizmente é assim desde que uma fulana pediu informações pra mim,e quando olhou na minha orelha disse:
Deixa que pergunto para outra pessoa! Associou o uso de AASI com burrice,só pode!
Eu nunca escondi a surdez. Não consigo e não gosto. Se perceber que a pessoa está confundindo surdez com burrice, enxergo ai a melhor oportunidade do mundo para romper essa idéia errada. Acho que quando se esconde, só reforça o preconceito, porque passa a imagem que é algo vergonhoso. Isso que falo no texto. Não é fácil romper com os paradigmas, mas é necessário, se você quer que as coisas mudem.
Hoje em dia, não me sinto tão julgada assim. Talvez, porque a minha visão em relação aos outros tenha mudado muito.
Não se deixe paralizar pela opinião alheia.