Queimando o filme

mailEu estava no terceiro colegial, quando enchi a paciência da minha mãe pra ela me pagar um curso de fotografia. Minha mãe é uma santa, vocês não fazem idéia de como eu sou caprichosa.

Mas, levando em consideração que ela adora fotografia, acabou aceitando esse pedido numa boa.

Hoje em dia, quando se fala em fotografia, imagina-se a facilidade do mundo digital. Mas, naquela época, os dinossauros ainda habitavam a terra e câmera fotográfica usava filme mesmo.

Pois bem, vou eu “bonitinhamente” (Edu me zoa quando eu uso essa palavra, ele acha que eu inventei, mas não é verdade!!) assistir a primeira aula. Eu tinha optado por fazer o curso aos sábados, portanto, deparei-me com uma turma enorme  – coisa que não estava muito acostumada, pois sempre estudei em escola que tinha no máximo 20 alunos por sala – mas com  dois professores em sala de aula e  minha ansiedade transbordando até pela janela. Impressionante como o ser humano fica ansioso no primeiro dia de aula.

Um dos  professores era exatamente o estereótipo de professor de fotografia. Magrelo, de óculos, cara de “intelectual”, que explicou sobre câmera e equipamento que seria necessário pro curso. Falou um pouco de si, do trabalho que fazia e tal. Explicou coisas básicas de fotografia e funcionamento de câmera.  Mostrou algumas fotos para exemplificar o que dizia.

A aula transcorreu numa boa e, no final da aula, parti pra inevitável aventura de avisar que tinha uma surda pentelha na turma. Ele encarou numa boa  e pediu, como de praxe, pra eu avisar quando tivesse dúvidas.

Comprei minha pentax K1000 – tenho ela até hoje – e comecei o curso de verdade.

As primeiras aulas, se resumiam ao básico de fotografia. Era aquela história de fotografar luz e sombra, claro e escuro, sempre usando filme preto e branco.

Aí, chega o dia de revelar os filmes. Revelar, no sentido literal: poder expô-lo a luz, sem queimá-lo.
Pra quem já tinha noção básica de fotografia, isso deve ter sido muito facinho de aprender, mas eu não tinha a menor noção dessa parte do processo. E, pior, eu tinha faltado na aula que o professor explicou como se fazia isso exatamente.

Nos filmes, a gente vê os fotógrafos revelando foto num laboratório com uma luz vermelha, certo? Sim, certíssimo, mas tirar o filme da bobina e passar para o espiral é no escuro completo, visto que qualquer luzinha que seja poderia velar o filme e todas as fotos se perderiam.

Então, entramos no laboratório eu, o professor e mais duas pessoas. Ele diz: você abre a caixinha, puxa o filme e enfia no espiral, ok? Vou apagar a luz. E, la vai… Completo breu. E ele continuou falando, porém… Quando a luz apaga, eu fico completamente surda e não tinha como entender que raios ele estava falando. Tive uma crise de pânico e acendi a luz. A sorte foi que ninguém tinha aberto o filme ainda, senão provavelmente eu teria apanhado hahaha

Saimos da sala, ele me explicou o que eu teria que fazer e só depois retornamos, quando os outros já haviam saído. Entrei, fiz o que havia para ser feito na total escuridão e revelei o minha primeira película em preto e branco.

Passado o susto inicial, fui acostumando-me a tirar o filme da bobina no escuro, passar para o espiral, a base do tato e, depois de um tempo, fazia isso com tamanha habilidade que até esquecia que de repente 95% dos meus sentidos não poderiam ser usados. O cérebro humano tem uma capacidade de adaptação impressionante!!

O curso transcorreu tranquilamente e hoje tenho meu diploma de fotografia. Embora, eu confesse que ainda que haja coisas que só se aprende na prática, vale muito a pena fazer um bom curso!

Beijinhos

Lak

21 Resultados

  1. SôRamires disse:

    Eu também tenho a minha querida Pentax K-1000, que me acompanhou nos cursos de fotografia! Está sem uso há algum tempo mas tenho um afeto por ela…
    Essa história de colocar filme na espiral no escuro é engraçada, uma surdinha metida sem poder fazer leitura labial. Não tive esse problema porque com meus aparelhinhos ainda consigo ouvir. Mas lembrei dos cursos de fotografia que fiz e do prazer que me dava estar num laboratório revelando e ampliando, pura mágica!

    • Avatar photo laklobato disse:

      Hehehe mas não desisti e isso que importa! Se a gente não deixa os obstáculos nos fazerem desistir, eles perdem a importância. Afinal, aquela aula só durou 1 vez, depois, nem precisava ler nada.
      Fotografar é bom demais!
      Beijinhos

  2. Re Resende disse:

    Oiee.. eu tbm fiqueiii assim.. completamente surdaaa no escuro da aula de fotografia na faculdade.. ainda bem que tinha uma amiga q me ajudou, senao tinha penado muitooo até aprender…
    Escuroo.. nem é pra mim.. sei que esta falandoo, mas entender o que esta falandoo é um bicho de sete cabeça.. pra ter uma ideia, nem qdo estou com meu namoradoo fico totalmente no escuroo.. hahaha.. ele axa engraçado.. 😛
    Eu até tinha pensado em fazer fotografia de pos graduaçao.. mas descobri que o meu gosto mesmo esta nas tintas, cores, pinceis… amooo pintar…

    Bjinhus..
    inté.. qq dia eu mando pra vc as imagens das minhas pinturas!
    Lak, vc fotografa casamento? qto cobra??

    • Avatar photo laklobato disse:

      Tb não gosto de… ãh… namorar no escuro. Sempre preciso de pelo menos uma luzinha que ja. Porque, você sabe, eu dependo apenas da leitura labial, mesmo com AASI, ainda não entendo praticamente nada sem olha pra pessoa.
      Se você gosta de artes plasticas, aproveita esse dom. Tb acho maravilhoso, mas me falta talento hehehe
      Manda as imagens sim. Coloco aqui no blog com prazer!!
      Beijinhos
      p.s. Pra fazer um orçamento de fotos de eventos, a gente precisaria conversar! : 😉

  3. Re Resende disse:

    Concordo com vc.. Tbm preciso de uma luzinha no fim do turnel.. dependo tbm de ler os labios..

  4. Rogério disse:

    Lak, lembrei-me de um episódio na escola de música, em que estávamos exercitando a percepção. Num dado momento fui encaminhado a uma saleta com isolamento acústico, de repente todas as luzes se apagaram e botaram o trecho de uma música. A proposta era fazer mentalmente a partitura, mas não consegui. Após a execução eu me vi privado simultaneamente de dois sentidos, audição e visão, e o desconforto foi tal que beirou o pânico. Tirando a questão prática (leitura labial), como funciona para você a escuridão total? Beijos.

    • Avatar photo laklobato disse:

      Nos primeiros minutos, uma sensação de pânico me invade – não pelo medo de escuro, mas por medo que eu tenha perdido a visão (reflexo de ter acordado sem audição) – depois que percebo que a escuridão é externa, meu tato se aguça… Consigo fazer bastante coisa de olhos fechados, viu? hehehe
      Beijos

  5. Bruna disse:

    Oi Lak, teu post me fez lembrar o estágio no lab de fotografia da universidade. Não faz muuuito tempo, mas ainda trabalhávamos com filme pb e revelação. Só consegui colocar um filme direito na bobina depois duns 5 meses no estágio… eheheh.
    Eu adorava o cheiro daqueles químicos e a salinha escura. Bons tempos…hehehe
    Bjs

  6. Mariana disse:

    vim ver o fuminho traveiz… 😛

  7. Juca disse:

    oi Lak!… vi suas fotos do site… vc é ótima fotógrafa mesmo!!! (comi com os olhos aqueles docinhos!!! nham-nham-nham 😛 )…

    não sou muito ligado em tirar fotos, não (nem câmera eu tenho! rs) mas eu gostaria de ter como registrar uns absurdos… tipo esse despejo de 800 famílias no Capão Redondo em agosto… muitas crianças ficaram no olho da rua, no frio e sem comida… queria registrar esses rostos e deixar num blog… :/

    beijos, Lak!

  8. Jairo Marques disse:

    Eu, apesar de ter tido uma cadeira de foto na faculdade, nunca consegui operar uma “manual” de forma razoável… na verdade, até perdi uma k-1000 em uma viagem ahahahhhahha…. hoje em dia é mais fácil pra gente descompensada como eu… é só apertar o botão, meeeesssmo!!! Beijocas, coisa linda

  9. Adriana disse:

    Aprecio o mundo da fotografia, mas nunca fiz nada que me habilitasse para operar mais do que uma câmera digital das mais simples, invenção que aparentemente popularizou a arte. Organizando meus arquivos ontem, percebi a quantidade de lixo eletrônico que vamos acumulando, principalmente em termos de imagens. Esse é um dos problemas de popularização. Gente que sem a menor qualificação começa se autodenominar fotógrafo, sem ter passado pela experiência que vc, por exemplo, vivenciou. Minha filha quer se embrenhar nesse mundo. Esse post de hoje vai direto pra ela. Respondendo sua pergunta: eu não tenho seu email! Mas você já está ajudando! Beijoc@s.

    • Avatar photo laklobato disse:

      Hehehe vou te mandar um email com o meu endereço!!
      Beijinhos pra vocês…
      E, ah… a digitalização tem suas vantagens, especialmente no que toca a quantidade de fotos que agora podem ser feitas. Antes, era uma arte muito cara, com muitos desperdicios hehe

  10. Aline disse:

    Sabe que sempre tive vontade de fazer curso de fotografia?! Ainda tenho curiosidade, apesar de odiar ser fotografada eu adoro fotografar, rsrsrsrs…

  11. Alessandra disse:

    eu nem sou fotógrafa profissional, mas o meu orkut qse não tem fotos minhas.

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