Solos de guitarra
**Causozinho cheirando a naftalina dos tempos de adolescente
Eis que, aos 16 anos, eu já tinha me tornado total leiga em termos de música. Isso, pra quem cresceu ao som de Bossa Nova – os discos da minha mãe – e MBP – os do meu pai – e as minhas musiquinhas infantis (tipo Saltimbancos & Arca de Noé de Vinicius de Moraes) era o mais pleno umbral que se pode imaginar.
Mas, sempre descubro maneiras mágicas de resolver qualquer obstáculo da minha vida, conto uma das mirabolantes histórinhas pra resolver essa ausência de música…
Como eu sou uma pessoa bastante comunicativa – pra não dizer pentelha, já que minha auto-estima elevadíssima não me permite esses acessos de modéstia – na adolescência, sempre tinha algum amigo que tentava me trazer de volta à luz do som (de novo, esse termo que não sei se existe) e me ensinava uma música ou me levava pra barzinho com música ao vivo. Ah, eu admito que DETESTO pagar cover artístico, porque em 99% dos casos eu sequer presto atenção no fato de estarem tocando alguma coisa, mas enfim…
Bom, voltando ao causo, quando eu tinha 16 anos e era uma ‘gatinha’ loira (acredite se quiser, eu já pintei os cabelos de loiro e confesso que pra quem tem ascendência árabe e olhos negros fica o ó do borogodó) e muito simpática, um amigo meu, que morava no prédio do lado, me contou que tocava guitarra e perguntou se eu queria vê-lo tocar.
Ele usou o termo correto, porque VER era o que eu conseguia fazer de fato. Era uma guitarra preta bonitinha de uma marca que nem imagino qual seja, mas que ficava quase camuflada, diante as caras e bocas que ele fazia enquanto tocava e eram um show à parte por si só. Afinal, ele era bonitinho, senão eu nem teria me dado ao trabalho de me dispor assistir algo assim.
Lá pelas tantas, ele faz uma cara de desalento e diz:
– Puxa, Lak, você não ouve nada, né? – Ao que eu respondi com uma negativa com a cabeça, visto que eu não estava usando aparelhos auditivos nessa época. Ele prosseguiu – Seria tão legal você poder me ouvir tocar de fato.
– Bem, – Respondi eu – tem uma maneira, mas não sei se funciona. – Vá, dêem-me uma colher de chá diante da bobagem que eu disse depois, eu sou surda, poxa. – Se tivesse como ligar meus fones de ouvido na guitarra e aumentar o som, acho que eu conseguiria ouvir sim.
Ele arregalou os zoião e disse, tentando não rir da minha cara (sei que ele gargalhou por dentro, tenho certeza):
– Bom, dá pra ligar o fone do amplificador e aumentar o volume sem problemas.
E eu: – Oh! É?
E ele: – Vai lá buscar agora!
Fui até a minha casa e voltei com os fones de ouvido que meu pai havia me dado alguns anos antes, quando eu ainda tinha memória auditiva pra identificar um fio de nitidez nas músicas (Raul sempre em xinga horrores por eu não ter cuidado o suficientemente da minha audição residual) e que já estavam mofando no quarto havia um bom tempo.
Voltei na casa dele, ele ligou a guitarra no amplificador, assim como meus fones e ligou no volume máximo, de um jeito que não só eu, como o bairro inteiro, conseguia ouvir.
Tocou um ou duas músicas que, suponho, eram do Guns ‘n Roses, já que isso aconteceu bem no auge do sucesso dessa banda, no começo dos anos 90’s.
Depois de uns dez ou vinte minutos de paredes vibrando e ameaçando cair, ele terminou e perguntou:
– Você gostou?
E eu:
– Ah, sim, claro. Você toca muito bem! – Mentindo na cara dura mesmo, porque eu não tinha nem critério pra saber se ele tocava bem ou mal.
Ele sorriu:
– Então outro dia a gente combina de eu tocar de novo pra você..
Mas acabou sendo uma experiência única, mas ninguém pode dizer que e não ouvi música na adolescência hihihi
Beijinhos,
Lak
p.s. Eu tinha feito um texto, inicial, tirando sarro da experiência, mas calhou que ele é meu amigo até hoje e me proibiu de falar mal dele no blog haha E ainda disse “Já que você não ouve direito, fala que eu toco muito bem, heim?!” Ao que eu respondi: “Uai, você não toca? Mentiu pra mim, é?”. E ele: “Toco, lógico. Foi apenas um momento raro de humildade.”
p.s.2: Depois que terminei de escrever o texto e esse mesmo amigo veio ler, ele comentou de uma coisa, que não lembrava do fone, mas lembrava do que eu fiz antes de trazer o fone: tocar o amplicador com a mão pra sentir a vibração. Como não tô afim de mexer na estrutura do texto, mas é uma coisa tão fofinha de se citar, fica como Post Scriptum.
Gente, que bunitinho!
Na adolescência sempre tem dessas coisas.
Beijocas e bom findi!!! 😎 😈
Marcante mesmo! São coisas engraçadas 🙂
Beijinhos
Sun Melody
Bom eu tive o privilegio de passar a adolescencia toda ouvindo musica. Porém hoje em dia eu tenho que ouvir com fone de ouvido BEM ALTO no computador ( porque dá pra ligar na caixinha de som e fica BEEEEEEEEEEEEEM MAIS ALTO) e mamãe me xingando pq está atrapalhando ela kkkkk OU no carro com as janelas fechadas e o volume no ULTIMO se não for assim esquece que não dá hahahaha.
Você há de convir que a história é engraçada. Confesso que tentei me antecipar aos fatos e imaginei que você levaria um choque na orelha, mas foi uma experiência muito divertida, fiquei rindo por aqui. Já que rio de mim mesmo e de meus perrengues, posso fazer o mesmo com você, sem que isso soe como falta de respeito, né?
Hahaha lógico que pode =) Grande beijo
adorei o pseudo-comentário do couvert artístico. Eu nunca pago, já aviso antes que não vou usufruir a bandinha.
E não é, Maíra? Pra que pagar algo que a gente não aproveita? Já falo na entrada…
hahaha… essa do fone de ouvido foi muito boa mesmo!… mas a do couvert é – literalmente – impagável, Lak!!! kkkkkkkkkkk
Literalmente mesmo!!