Surdez: Deficiência invisível?
É super comum ler comentários referentes a surdez, como “deficiência invisível”. E, se vocês me permitem, eu discordo em parte.
A surdez, realmente, não é tão visível quanto uma cadeira de rodas ou um par de muletas. Também não fica estampada na cara como uma característica tal como olhos azuis. Tampouco afeta tanto a independência pessoal como algumas outras deficiências.
Porém, ela tem sim, seus sinais visíveis e, se não houvesse ainda essa necessidade de esconder tanto as deficiências, talvez a surdez fosse muito mais evidente do que realmente é, já que as pessoas reconheceriam os sinais.
A primeira coisa que é visível numa pessoa com deficiência auditiva, são as próteses auditivas. Pequenas, discretas se comparada a uma prótese de braço ou perna, mas visível. Quem nunca viu alguém no ônibus, na padaria, no shopping com um ou dois aparelhos pendurados na orelha? Pode até não ser a mais comum das cenas, mas em algum momento, já vimos. Com o IC pendurado na cabeça, é mais raro ainda da gente ver por aí, mas vai se tornando cada vez mais comum e, se você olhar bem, é capaz de encontrar um implantado ostentando o processador por aí com certa frequência (ainda por cima, porque a gente anda ficando cada vez mais exibido com os processadores atuais).
Outra coisa que denuncia, é a forma de comunicação. A LÍNGUA DE SINAIS é toda visual, cheia de gestos e expressões faciais. É possível reconhecer dois surdos (ou um surdo e um ouvinte fluente na língua) conversando a bons metros de distância.
A voz de um surdo oralizado, geralmente, também denuncia a surdez. Não apenas pelo sotaque, mas pela articulação um pouco diferente da dos ouvintes (qualquer dia desses, vou pedir para a minha fonoaudióloga explicar o porquê do sotaque e da articulação diferente). Quem conheceu algum surdo oralizado em determinado momento da vida, geralmente reconhece de imediato a voz de outro surdo oralizado. É uma característica marcante e muito presente principalmente em quem foi oralizado na era anterior ao implante coclear ou perdeu a audição cedo e ficou muito tempo sem feedback da fala.
O jeito que um surdo oralizado olha os lábios do interlocutor, também é super característico. É um jeito de olhar com atenção que chega a ser incômodo para pessoas que não gostam de ser muito encaradas, mas que geralmente, a maioria diz que os faz se sentir importantes hihihi
Embora, é claro, a surdez seja sim, uma deficiência quase invisível aos olhos leigos. E por isso, a maioria dos surdos reclame da cara feia que recebe quando entra numa fila exclusiva para pessoas com deficiência ou respostas ríspidas quando solicita atendimento especializado.
Mas aí, a culpa não é da surdez, é da falta de discussão sobre o tema.
De verdade, eu acho que deveria haver mais personagens surdos – sem que vivessem apenas falando sobre surdez – na mídia. Certeza que aí, as pessoas saberiam reconhecer um surdo com mais facilidade.
Beijinhos sonoros
Lak
lembrei das várias pessoas conhecidas que usam aparelhos auditivos como o Clinton, acho que as pessoas não reparam muito nos aparelhos auditivos, mesmo que a gente use sem esconder.
E mesmo que as pessoas ACHEM que precisam esconder… Pq na real, ninguém repara tanto assim. Beijos
Verdade. Um surdo pode não ser reconhecido como uma deficiência visível, mas quem convive com uma pessoa assim, logo percebe algumas diferenças. Eu uso aparelhos AASI, mas meus cabelos cobrem eles. Quem não me conhece, acha que sou normal, E quando digo que sou surda oralizada, as pessoas se espantam (em alguns casos tive que até mostrar…) e só depois me tratam como tal… mas com diferença brutal de “antes”. Isto incomoda, mas só quem conhece mesmo as características de um surdo trata você naturalmente. Concordo que precisamos discutir mais sobre este tema, Falta divulgação na mídia. Somos inúmeros!
exato… acontece comigo também…
Beijos
Lak como sempre arrasa nos seus textos !!! É isso mesmo!!
Bem assim.
Lak,
adorei este post!
Tenho uma teoria para a nossa articulação ser diferente: aprendemos a falar por imitação. Como imitar “corretamente” um som que não ouvimos corretamente? Reproduzimos o que ouvimos e, como não ouvimos perfeitamente, nossa pronúncia sai diferente.
Abs
Não só por isso… Eu aprendi a falar ouvindo e tenho essa articulação um pouco exagerada. Acredito que esteja ligada a outros fatores, como deixar a voz mais vibrada para controlar o volume sem feedback auditivo. Então, pode também ser isso, mas não apenas. Beijos
Eu tenho uma filha implantada IC