Surdez Unilateral

Durante muito tempo, eu me foquei em escrever sobre a surdez bilateral, porque é essa a realidade que eu vivo há quase 29 anos. E também porque, assim como a maioria das pessoas, eu tinha a idéia equivocada de que a surdez unilateral não merecia tanto destaque assim, já que é uma deficiência parcial.

Porém, tanto eu quanto essa maioria de pessoas, estamos enganados. A deficiência auditiva unilateral é uma deficiência como qualquer outra, que afeta a qualidade de vida das pessoas, se comparado com a realidade de quem vive sem deficiências, na nossa sociedade adaptada para um único padrão de pessoas.

Até hoje, em tempos de Teste da Orelhinha disponível no SUS, o diagnóstico de crianças com deficiência auditiva bilateral ainda tende a ser tardio, pois em vez de cogitarem perda auditiva, muitos familiares acham que uma criança que demora a falar é preguiçosa ou desinteressada, imagine quando a criança ouve pelo menos de um ouvido?

Pouca gente sabe, mas a surdes unilateral pode causar problemas de equilíbrio, resultando em crianças que além de demorar para falar, também andam mais tarde do que crianças sem perda auditiva. A demora da fala ocorre porque a perda unilateral torna o esforço para ouvir maior, principalmente em ambientes ruidosos.

Apesar disso, até hoje, a deficiência auditiva unilateral ainda não é classificada como deficiência. Para a sociedade, os surdos unilaterais conseguem ouvir com uma das orelhas, não tem sotaque típico na voz e portanto, é comum acham que estão fingindo dificuldades. Surdos unilateais não tem direto a vagas reservadas em concursos. Não tem direito a empregos através da cota destinada a pessoas com deficiência. Mas, ainda assim, podem ser desclassificadas num exame médico, já que também não possuem audição bilateral esperada.

Surdos unilaterais, muitas vezes, tem dificuldades de acompanhar uma conversa em grupo, já que não conseguem separar tão bem o som ambiente do fonte de som mais próxima deles. Por isso, não conseguem ter a mesma facilidade que um ouvinte normal de acompanhar uma reunião, uma palestra, um debate, uma aula.

Eles tem mais dificuldades de falar no telefone, porque muitas vezes, o ruído ambiente os atrapalha inclusive nisso.

As pessoas com surdez unilateral, muitas vezes, precisam deixar a televisão ligada num volume mais alto que o resto dos telespectadores da casa. E estão constantemente sendo criticados por isso.

E tem dificuldades de acompanhar filmes e programas sem apoio de legendas.

Mas, como conversam normalmente, são tidos como desligados, distraídos, desinteressados e até mesmo, “pessoas que estão de má vontade”.

Muitos relatam incapacidade de localizar fontes sonoras. E a maioria, reclama que ouve constantes zumbidos.

Mas, o pior de tudo, é que eles sentem-se duplamente excluídos, por todas essas dificuldades e porque sua condição vista não é respeitada como deficiência…

Acontece muito também, de alguns profissionais que trabalham nessa área de diagnóstico, não serem qualificados para atender casos de surdez unilateral e dizem que não existe prótese ou reabilitação indicada para casos assim. O resultado disso, é a maioria se vê sem esperança, sem qualquer de possibilidade de melhorar o quadro em que vivem.

Mas, mais do que ser reabilitados por aparelhos, os surdos unilaterais buscam reconhecimento da sua condição como deficiência. Com todos os direitos e benefícios que esse reconhecimento pode lhes oferecer. Seja por uma lei que lhes dá acesso aos sistemas de cotas em empresas ou concursos, seja pelo direito de não ser desqualificado como profissional por escutar apenas de um dos ouvidos. Que as pessoas com surdez unilaterais não sejam mais invisíveis aos direitos humanos.

Beijinhos sonoros,

Lak