Surdos usuários da Libras, surdos sinalizados ou simplesmente Surdos.

Ontem falei sobre a minha turma, os surdos oralizados. Há quem diga que o surdo oralizado está mais para deficiente auditivo do que pra surdo, porque muitos vêem a denominação “surdo” já embutindo o mudo, talvez porque antigamente, quem tinha mais facilidade de se comunicar com ouvinte sentisse necessidade de esconder/camuflar a deficiência. Mas hoje em dia, surdo oralizado usa o termo surdo especialmente para as pessoas saberem que ele não ouve mesmo com aparelho, o que nos diferencia dos deficientes auditivos, que conseguem contornar a deficiência com próteses.
Mas, enfim, chega a vez de falar sobre  os surdos que costumam prevalescer na imagem mental que se faz de quando se pensa numa pessoa que simplesmente não ouve: os sinalizados.
Uma coisa que é importante enfatizar é que, não importa o quanto você ache que seria melhor os pais lidarem com a surdez de uma criança dessa ou daquela forma, isso é uma decisão de foro íntimo familiar, portanto não cabe a ninguém julgar a escolha dos outros. Se você acha que preferiria ter um filho oralizado ou sinalizado ou implantado, excelente, mas essa decisão vale apenas para você.
A única coisa que eu acho essencial que a familia faça é se adaptar para a escolha feita. Se os pais escolherem pela oralização, não podem deixar todo o trabalho para a fonoaudióloga  e lavarem as mãos. O trabalho de oralização de uma criança surda pré ou peri-lingual continua mesmo em ambiente familiar. A participação dos pais faz diferença sim, porque a criança fica apenas poucas horas por semana no consultório da fonoaudióloga.
O mesmo vale para os pais que preferem que a criança aprenda a língua de sinais e  conviva somente com seus semelhantes, os pais e familiares, diante dessa escolha, tem obrigação de aprender com fluência a língua de sinais, uma vez que a criança precisa se comunicar também com sua família. Não é incomum saber de relatos que os pais optam pela língua de sinais para  o filho, mas não se esforçam para aprender o idioma!
Uma criança surda é uma criança com necessidade especial e, portanto, cabe às pessoas sem deficiência nenhuma se adaptarem à ela, não o contrário.
Enfim, eu gostaria de explicar as principais diferenças do Português e da Libras, para que vocês pudessem compreender as particularidades da Língua de Sinais antes de adentrarem no universo do Surdo Sinalizado, porém, minha amiga que pode me ajudar com essa explicação ainda não teve tempo e, vou ter que colocar o carro um pouco na frente dos bois.
Mas uma coisa que deve ficar clara é que a língua de sinais não é apenas uma forma não oral de comunicação, ela é um idioma com estrutura própria e, portanto, você deve ver o usuário exclusivo dela (ou até mesmo um bilingue) como alguém que simplesmente fala outro idioma e nem tudo o que você fala em português fará sentido pra ele, como faz para você.
Ainda que o mais fácil fosse que todo mundo soubesse o básico da Libras para comunicar-se com eles, a curto prazo isso é praticamente impossível – ninguém aprende o idioma de um dia pro outro, por exemplo – mas nem por isso se deve fugir de uma pessoa surda sinalizada e evitar qualquer tipo de contato com ela.
Vão aí algumas pequenas dicas fornecidas por um colega de trabalho usuário da língua de sinais:

– Se você quiser falar ele e não souber por  onde começar, a dica é a mesma de falar com um oralizado: Fale de frente pra ele, devagar e com naturalidade.

– Se ainda assim, você perceber que ele não lê bem seus lábios, apele pro papel e caneta.

– Nem todas as palavra existem ou são iguais em líbras, portanto, procure falar com clareza e de forma simples. O importante é que a mensagem que você quer passar seja bem recebida. Lembre-se, o idioma dele é diferente do seu, simples.

– Se você não conseguir entender o que ele fala – sim, alguns conseguem falar oralmente, mas nem sempre de forma compreensiva para quem não está acostumado a falar com ele – peça para ele escrever.

– Substituir a conversa oral por programas de conversação instantânea ou email, pode ser uma excelente saída para quem trabalha com um surdo sinalizado.

– Mímicas simples podem ajudar no diálogo, mas cuidado, uma mímica pode ser equivalente a um sinal de líbras com significado diferente e até ofensívo. Não abuse disso e jamais ache que mímica feita de qualquer jeito é língua de sinais.

– Evite falar com outras pessoas olhando pra ele ou apontando na direção dele. Como um surdo sinalizado nem sempre entende o que você fala, ele pode achar que vocês estão falando dele e ficar incomodado.

– Jamais faça piada da língua de sinais na frente dele. Muitos surdos realmente se sentem ofendidos por acharem que estão sendo alvo de chacota. Eu mesma já aturei uns babacas que fizeram isso porque viram meu aparelho. Mal sabiam eles que eu lia os lábios e entendi as piadinhas grotescas. Uma pessoa com deficiência auditiva não merece menos respeito.

No mais, é abusar da coragem. Pessoas diferentes daquilo que você está acostumado não são menos interessantes, portanto, vale a pena passar por cima do medo, do receio e da vergonha, expandindo seus horizontes para amizades jamais imaginadas.

Beijinhos

Lak

p.s. Quem souber mais dicas, fique a vontade de acrescentar nos comentários. Meu blog, seu blog.

10 Resultados

  1. Luiza disse:

    Cara Lak,
    Nem sempre leio seu blog, muitas atividades domésticas me impedem!!!!
    Mas como gosto de te ler. É verdadeiramente inspirador. Por seus relatos julgo acertadas as atitudes que em casa escolhemos para nosso filho (que tem surdez severa/profunda bilateral, conjenita). Sabe o que me faz mais feliz, é sentir que ele está bem com ele mesmo. Quando na escola falavam de deficïencias, e em um exércicio de casa perguntavam se ele conhecia alguma pessoa, ele disse que não. Ainda lhe perguntei se ele e o Carlinhos, outra criança que tb possui a mesma deficiência que ele um ano mais velho, não tinham alguma coisa diferente dos outros ele disse: Não tudo igual!!!!

    Bjs
    Luiza

    • Avatar photo laklobato disse:

      Seu filho é sinalizado, oralizado ou bilingue, Luiza? Bom, seja como for, ele está bem consigo mesmo e é isso que importa, a maneira como ele se vê. Você verá que isso vai fazer TODA a diferença, na vida dele!!
      Ainda bem que existem pais iluminados pra apoiar os filhos ao longo do caminho. Fico sem saber quem são os verdadeiros anjos, nesses casos, os filhos ou os pais…
      Beijinhos

  2. Luiza disse:

    `Lak, Luís Marcelo é oralizado, fala bem, ainda tem dificuldades nas construções das frases mas, depois que foi alfabetizado é impressionante como está se desenvolvendo. Cada vez mais se apropria espontaneamente da linguagem oral, bem em gírias e atrevimentos ele já se doutorou!!!

    beijão

    • Avatar photo laklobato disse:

      Isso é fantástico, Luiza!! Se um dia você quiser contar a história de vocês aqui no blog, eu iria gostar muitissimo. Sinta-se convidada!!

  3. Edelson Lopes disse:

    Olá Lak,

    Eu já fiz dois cursos de LIBRAS básico, mas como não consigo encontrar surdos sinalizados com frequência, acabo esquecendo alguns sinais. Quero fazer um avançado para poder me tornar fluente.

    No mais, meus parabéns pela semana didática. Suas explicações são sempre esclarecedoras!

    BjuS!

    • Avatar photo laklobato disse:

      Você tem que descobrir os lugares onde eles costumam se encontrar. Aqui em SP, tem um shopping que é tipo, ponto de encontro da galera Surda.
      Acho que se você procurar no orkut, em comunidades de Líbras, provavelmente deve ter alguma referência. Alias, a Maíra, que contribui aqui pro Blog de vez em quando, é de BSB. Ela é oralizada, mas tem amigos sinalizados.
      Bacana você querer ter fluência em Líbras, mas como todos os outros idiomas, se você não usa, esquece mesmo, não tem jeito hehehehe
      Beijocas

  4. Uma vez conheci uma menina surda de 10 anos, a mãe dela tinha me procurado pois tinham publicado uma matéria sobre mim no jornal. Eu fiquei boba de ver que a menina não falava direito, não foi alfabetizada e não sabia libras. Ela nem sabia o nome da porta.

    A mãe dela tinha me procurado para saber como eu fui trabalhada, mas pelo que parecia a mãe tinha deixado a filha nas mãos de fonoaudiólogos e não se comprometeu com a terapia para a filha ficar desse jeito. Eu nem sabia como me comunicar com ela de alguma forma e ainda fico pensando como ela poderia se expressar?

    Outra pessoa que conheci era um moço que tinha irmã surda que é mais ou menos oralizada mas que falava mais por libras e ele me confessou que não se comunicava direito com ela por não saber libras direito e que não tinha o “costume” de tentar conversar com ela. Tudo era por mímica.

    Eu achei isso um grande absurdo! Para onde este mundo vai parar com famílias que se comportam desse jeito?

    Dou graças a deus que minha mãe me ensinou a ler e escrever aos 3 anos, me alfabetizou, trabalhou comigo a terapia de fono 5 horas por dia. A família DEVE dar a oportunidade dos surdos poderem se expressarem e comunicarem de alguma forma.

  5. Maíra Soares disse:

    Olá Lak,

    descobri seu blog hoje e não consigo parar de ler. Namorei um surdo sinalizado e tive bastante contato com a cultura surda, mas pouco conheço da realidade dos surdos oralizados. Quer dizer, em parte, pois tenho uma irmã que perdeu boa parte da audição na adolescência, mas ela se vira muito bem com o aparelho e já mora fora do Brasil há mais de 10 anos.

    Curiosamente, ela teve um filho que nasceu com surdez severa para profunda e está prestes a fazer o implante. Ele está com 3 anos e é americano, o que dificulta que eu conviva com ele o tanto quanto gostaria.

    Pensando nas dicas que você apontou, uma coisa que meu ex namorado me ensinou e que eu costumava dizer para meus amigos que não sabiam sinais é que mais importante que os sinais em si é a expressão facial e corporal. Se tentarmos fazer mímica com cara de paisagem, dificilmente nos faremos entender ao surdo sinalizado que não lê lábios. Mas se fizermos cara de pergunta quando perguntarmos algo, de tristeza, alegria, susto, medo ou qualquer outra coisa que quisermos comunicar, eles entendem muito melhor, mesmo que o sinal esteja “trocado”. Costumava ajudar bastante. Eu me surpreendia com conversas que aconteciam entre ele e amigos meus que não sabiam nada de sinais.

    De resto, é preciso paciência e vontade mesmo. Eu tive muita dificuldade no começo por timidez e de certa forma, aprender sinais me ajudou muito a deixar a timidez de lado 🙂

    Parabéns pelo blog. Está sendo um belo aprendizado para mim.

    um abraço,

    Maíra

    • Avatar photo laklobato disse:

      Nossa, que super dica. Esqueci isso.. hehehe é que convivo tão pouco com sinalizados, que eu esqueci dessa parte importantissima!! Tem isso mesmo!!
      Espero que corra tudo bem com a cirurgia do seu sobrinho! A minha foi ótima, super tranquila e amei tê-la feito! Não que sirva de exemplo, pela diferença de idade, mas se quiser, posso sugerir um blog de um bebê implantado (fica na lista de blogs de superação, o Diário da Alessia) que vale a pena ler também.
      Bem vinda por aqui e grande beijo

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