Terapia da Voz

Quem já conviveu com uma pessoa com problemas de fala ou audição, conhece bem esse termo esquisito: fonoaudiologia. 

O belíssimo trabalho das fonoaudiólogas abrange diversos tipo de comprometimento: da fala, da audição, da respiração e até mesmo da reprogramação neurológica (necessidade, por exemplo, de quem sofreu um ACV).

Pedi pra duas fonos que conheço fazerem um texto pro blog, explicando o trabalho delas, mas como infelizmente nenhuma delas teve tempo, farei um texto contando sobre o outro lado do trabalho: o do paciente.

A primeira vista, pra mim, foi difícil e eu tive uma certa resistência, especialmente porque a fonoterapia começou quando a minha voz ainda era de ouvinte. Mas, por outro lado, o meu principal problema de fala é anterior à perda auditiva: eu falo absurdamente rápido, sem pausa e baixo. Isso sempre foi assim, desde que eu me entendo por gente. Mas, como a fala de um surdo tem outros agravantes, só começaram a realmente me encher o saco por causa disso, depois de eu perder a audição (o que, durante muito tempo, eu considerei implicância barata hehehe).
 

Dizer que um surdo não ouve a própria voz é relativo, a gente (quase) sempre ouve, por vibração ossea, mas claro que isso não serve de referência para praticamente nada. E a manutenção de uma boa voz depende de ouvir, porque  é pela audição que se acerta o volume adequado em relação ao som ambiente e a entonação adequada. 

Quando fiz fonoterapia – surdo não tem direito a alta, essa terapia é constante e nos acompanha por toda a vida, mas eu sou cara de pau e me dou alta quando me convém – o mais gostoso, na minha opinião, era aprender a trabalhar a respiração. Exercícios respiratórios são uteis para outros momentos que não simplesmente a fala.

Fora isso, aprender a trabalhar os músculos da face, a língua, a vibrar a voz fora do rosto (na garganta ou no peito) também pode ser bem divertido.

Um surdo pode ter uma voz tão boa quanto a de um ouvinte, se fizer fonoterapia de maneira adequada, embora a voz dele sempre tenha algumas características especiais, de quem treina a fala pela visão, pela audição através de aparelhos (AASI ou Implante, salvo no caso de implantes em criança). O importante é que ele não sinta vergonha de falar, porque não são apenas os surdos que tem voz diferente, sotaque, alterações na fala (gagueira, língua presa) também dão características próprias e, mesmo assim, o importante é passar a mensagem, se fazer entender, partilhar a comunicação. A vergonha não serve pra nada e só atrapalha.

Quando alguns pais surgem na comunidade de Surdos Oralizados do Orkut, a primeira pergunta é saber se a voz dele será normal, numa tentativa de camuflar a deficiência. Nós, surdos oralizados adultos, respondemos que menos importante que camuflar e esconder, é preciso que os pais ensinem os filhos a terem orgulho de quem são. Surdos Oralizados não são menos humanos, não merecem menos respeito nem são menos dignos de qualquer coisa que seja. Em vez de vergonha, quem é surdo oralizado deve ter orgulho de saber que traçou um caminho mais arduo, mas triunfou e triunfa a cada dia que ele conversa com um ouvinte (que invariavelmente fala “até esqueço que você não ouve), quando se permite aprender outros idiomas (espanhol, inglês, italiano, inglês, etc) e quando descobre que a fonoaudióloga é a nossa melhor amiga!

Grande beijo,

Lak

*Fonte das Imagens: Google