Ana Raquel Périco Mangili

Ana Raquel Périco Mangili

Uma das mais motivadoras #HIstóriasQueOuvi foi escrita pela queridíssima Ana Raquel Périco Mangili assessora da Associação de Deficientes Auditivos e Pais (ADAP) de 24 anos, moradora de Barra Bonita (SP) e usuária de AASI (aparelhos de amplificação sonora individual) bilateral

Eu nasci prematura, aos sete meses de gestação, e os médicos acreditam que houve falta de oxigênio durante ou após o parto. Desde os meus seis meses de vida, começaram a se manifestar no meu corpo os sintomas de um distúrbio de movimento, chamado Distonia, um tipo de deficiência física de origem neurológica. Meus pais focaram minha reabilitação nesta área e, com isso, o diagnóstico da surdez ficou em segundo plano e levou mais tempo para ocorrer, só tendo a confirmação definitiva aos nove anos de idade (eu oralizei perfeitamente e no tempo esperado de uma criança ouvinte, então provavelmente nasci com perda auditiva moderada, como apontaram as primeiras audiometrias). Só então foi que comecei a usar AASI e, na faculdade, adquiri um Sistema FM, que me ajudou muito também.
Eu sou formada em Jornalismo pela Unesp de Bauru/SP, e fiz estágio em assessoria de imprensa na Associação dos Deficientes Auditivos, Pais, Amigos e Usuários de Implante Coclear (ADAP), onde trabalho de 2014 até hoje. Quando comecei o estágio lá, o DNO foi o primeiro blog sobre surdez e Implante Coclear com o qual tive contato. Aprendi muito sobre a área com ele. Mas, mais do que isso, coincidentemente nesta mesma época em que comecei meu estágio, minha surdez, que até então sempre fora estável, começou a progredir, passando de moderada a severa com o tempo. Eu enfrentei períodos de frustração e desânimos nesta época, quase desisti de usar AASI porque sentia que eles não estavam sendo o suficiente para me ajudar auditivamente e, ao mesmo tempo, eu não tinha indicação médica para fazer a cirurgia de Implante Coclear (porque minha surdez ainda não é profunda). Mas então, fui conhecendo relatos de usuários de Implante Coclear e percebi que eu estava colocando expectativas demais nas tecnologias auditivas, sabe, pois é natural que, mesmo utilizando os AASI ou os Implantes Cocleares mais avançados da nossa época, a gente ainda tenha dificuldades para ouvir, que variam de caso para caso. A tecnologia está aí para nos ajudar, mas nós também temos que ter a conscientização de nossas dificuldades auditivas e nos empenharmos em contorná-las através de outros métodos complementares, que também variam de pessoa para pessoa, como a leitura labial, o uso do Sistema FM, da Libras e outros… Concluindo, o DNO me ajudou a perceber tudo isso e a voltar a me empenhar na reabilitação auditiva, mesmo que minha surdez tenha progredido.
Ouvir o “Tic Tac” de um relógio analógico pela primeira vez quando troquei de AASI há uns anos atrás. Eu sabia que relógios analógicos fazem “Tic Tac” porque, quando eu era criança, principalmente meus pais já haviam imitado esse som com as vozes deles para eu conhecer, mas poder ouvir o som do relógio sozinha foi algo emocionante, eu fiquei encantada e quase chorei de emoção na hora