Carla Moura Oliveira

Carla Moura Oliveira

Carla Moura Oliveira, uma grande amiga de Guarapuava PR – hoje moradora de Foz do Iguaçú – nos agracia com uma das mais lindas e fortes#HistóriasQueOuvi. Carta tem 41 anos e há 6 anos, é usuária de implante coclear bilateral.

Não sei precisar quando surgiu minha surdez. Os profissionais que me atendem hoje, otorrino, fonos, acreditam que devo ser deficiente desde a infância, mas não sabemos mensurar essa data, pois não tinha a informação, conhecimento e assistência que tem hoje, enfim não houve investigação. O baixo rendimento escolar, nunca foi associava a perda auditiva, sempre era por preguiça, falta de atenção e inúmeras variáveis.
Em 1996, devido a exames admissionais para novo trabalho, tive o diagnóstico de perda auditiva leve a moderada (porém, eu nem sabia o que isso significava ou viria significar).
Em 1997 sofri um acidente automobilístico que mudou esse quadro para moderada a severa, a provável causa pode ter sido medicamentosa, o trauma na cabeça. 
Demorei a utilizar ao AASI, pois processo pelo SUS tem suas demoras. Em 2002, comecei a usar aparelhos auditivos, uma mistura de sentimentos, era extremamente feliz pela possibilidade de ouvir sons, mas era difícil entende-los. Nessa época já tinha perda profunda, bem… aprendi que é necessário driblar a incapacidade, o que não ouvia, pedia ajuda, sempre foi assim, na faculdade, no trabalho, sem medo de ser feliz. Fazia leitura labial, e vida que segue.
Tenho total noção de que tem som que nem deveria saber que existiam. Ouvi inúmeras vezes: “Escuta somente o que lhe convém”, enfim, todos passam por isso… é sabido pelos surdos, como essa frase tem impacto negativo.
Com o tempo comecei a ter problemas de dicção, vida social é afetada, ambiente que a conversa não fosse olho no olho sem chance, vida profissional perde-se muitas coisas, e na vida em família do mesmo modo. 
Minha filha estava na fase dos por quês. Queria me contar tudo, muitas perguntas, questionamentos, aprendizado na escola, queria dividir.
Em uma conversa de minha filha com a minha mãe ela disse:
-“Vovó, tenho tantas coisas para falar com minha mãe, mas ela não me ouve”.
Foi difícil saber disso? Foi! Mas me fez tomar uma atitude e comecei as pesquisas, fiz todos os exames necessários. Tornei-me candidata ao implante coclear. Foi bem fácil decidir pelos implantes. 
As pesquisas me levaram ao DNO, a experiência dela já é uma lição. Seus livros, o blog trazem fundamentos e compartilhamentos de histórias que percebemos que não somos sós, não estamos sós! 
A Lak, em seu trabalho voluntário, faz muito pela vida do próximo, seja ele deficiente ou não. Isso se chama amor. Dedicar-se naquele tempo livre a proporcionar experiências suas e de outros. Ela disseminou o conhecimento de forma ampla e acolhedora. Mostrando um caminho cheio de possibilidade. Que a possibilidade está ai para se escolher, e que, nem sempre a opinião alheia e a melhor em sua vida. A decisão só cabe a você. 
Ações conjuntas com profissionais da área. Ajuda com informações sobre os aparelhos e a tecnologia que eles possuem. Em 10 anos de DNO, o presente sempre foi para mim.
E em março de 2013 fiz a cirurgia do Implante Coclear Bilateral. Após a ativação o mundo verdadeiramente é novo. A reabilitação foi intensa e complexa, porém não há maior dificuldade que ser surda.
Todas as dificuldades enfrentadas nas terapias auditivas, como: reconhecimento auditivo, compreensão de fala, entendimento de som, localização e sons, dores de cabeça são infinitamente menores que a dor do silêncio.
Perder audição, ver seu mundo ficar inaudível é infinitamente mais doloroso que o processo de aprendizagem dos sons. 
Nesse processo, de aprendizagem, existem inúmeros auxílios, desde terapias e questões tecnologias avançadas. Quando se perde audição a opção é o silêncio.
Para mim, qualquer som é melodia. Reconhecer, aprender sons que não pensava ou lembrava existir é divino.
O som mais importante de todos é a voz da minha filha, sua risada, suas cantorias tomando banho. Quando no meio do silêncio ela te olha e diz: “Mãe”!
E inexplicavelmente, quando tiro meus processadores auditivos sou imensamente grata pela tecnologia que proporciona o melhor dos dois mundos.