Trabalhando a mudança de percepção
Há quase 14 meses como implantada ativada (já que, no meu caso, houve 55 dias de intervalo entre a cirurgia e a ativação) tenho vivido uma constante e gradual mudança de percepção do mundo.
Por quê? Porque é através dos sentidos sensoriais – com uma boa dose de percepção extrassensorial, vai? hehehe – que percebemos o mundo ao nosso redor. A ausência ou presença de um sentido pode significar uma diferença imensa em detalhes básicos. Por exemplo, assistindo um filme onde a campainha toca e a personagem leva um susto, fica quase sem sentido se você assistí-la com o volume da televisão desligado. O susto proposto no filme utiliza somente a audição como fonte de percepção. Portanto, os deficientes auditivos valem-se da legenda descritiva, que descreve “a campainha toca” o que, obviamente, não causa o mesmo efeito de susto, já que é o instinto de alerta da audição que injeta a descarga de adrenalina quando esse som, inesperado, rompe o silêncio de forma abrupta. Mas, cá entre nós, melhor uma descrição sem o mesmo efeito do que a ausência total de informação.
Mesmo com os aparelhos convencionais (os quais chamo de AASI = aparelho de amplificação sonora individual) comumente conhecidos também como próteses auditivas, muito do universo sonoro se perdia com a falta de potencia dos AASIs. Isso porque o AASI trabalha em cima da audição residual que, no meu caso, era fraquíssima. Somente agora, como implantada – já que o Implante Coclear vai além, ele produz uma audição artificial que, em muitas coisas, assemelha-se à audição natural humana – posso ter o prazer de (re)experimentar todos os benefícios que o sistema de alerta da audição me permite, reproduzido de maneira fidedigna, na minha humilde opinião.
E, o mais engraçado é que eu percebo que, com o passar do tempo, as reações ao som se tornam tão absolutamente natural, que não é necessário que eu processe a informação conscientemente para ter uma resposta corporea. Por exemplo, ontem coloquei algumas fatias de pães no forno elétrico e sai da cozinha. Várias vezes, eu retornei para ver se estavam ‘prontos’ – reflexos de quem depende da visão – mas, de repente, algo despertou a minha atenção e eu esqueci que estava esquentando pão. Quando, finalmente, minutos mais tarde, o apito de término do forno elétrico tocou, a minha resposta corporal foi tão imediata – parar o que eu estava fazendo, levantar e me direcionar à cozinha – que só quando eu já estava tirando os pães do forninho me dei conta da reação ter sido tão natural.
Daí o interesse atual que eu tenho em mudanças de percepção, de padrão de comportamento físico e cerebral.
Sabendo disso, o Edu me mandou um link no sábado à noite que fala exatamente sobre isso, mudanças de padrão cerebrais, mas não espontâneo e/ou ocasionado pela recuperação (ainda que de forma artificial) de um sentido, mas uma mudança trabalhada conscientemente. Achei bem interessante e resolvi compartilhar aqui no DNO.
Quem quiser ler sobre: Como hackear o seu cérebro.
Espero que gostem – e se quiserem fazer debate nos comentários, fiquem a vontade.
Beijinhos sonoros e ótima semana,
Lak
p.s. Um abração bem gostoso e carinhoso pra todo mundo que se deu ao trabalho de responder minha pesquisa. Todas as sugestões serão analisadas com carinho e postas em prática o quanto antes.
Acho que as pessoas que têm determinação e mente aberta podem aprender, pra sempre! 🙂 Vou ler o link com cuidado, vai que eu realmente queira hackear cérebros 😛
Hahahaha só ensina a hackear o próprio, florzinha. Beijos
Adorei o link. Tá, teve uma parte que achei super auto-ajuda, mas quem não precisa de ajuda pra inteligência emocional?
Gostei do começo:
“Você não é quem você é. Você é o subproduto de muitas influências. Existe um ditado que diz que “cachorro velho não aprende truque novo”, e ele existe por um motivo: quanto mais tempo faz que você é a pessoa que acha que é, mais difícil é mudar. Mas o lance é que é possível mudar drasticamente quem você é. E nem é que seja tão difícil mudar, é que você já desenvolveu padrões e hábitos que tornam mais fácil fazer as coisas do jeito que você já faz. Tentar algo de um modo novo pode ser muito desconfortável e será geralmente bem menos eficiente. Além disso, falta de empolgação com a mudança é geralmente um problema, já que você estará abrindo mão do conforto associado ao seu jeito.”
Brilhante! Hoje fui à universidade e estava no prédio onde tem xerox, mas preferi andar mais uns 10 min para ir em outro lugar onde eu já estava acostumada com o xerox, com os funcionários, com o ambiente…
Pois é, concordo com todas as suas observações. O tom auto-ajuda é quaaaaaaaase irritante, mas se você lê o texto todo, acaba achando bem interessante sim. No mais, a parte que fala sobre buscar situações desagradáveis pq elas geram uma reação difícil de ignorar me pegou de jeito. Eu realmente odeio essas situações de insegurança, mas elas são de extrema valia. Agora, tenho motivo de sobra pra não fugir delas haha
Beijos
Essa da cozinha me lembrou também de como eu precisava ficar olhando o microondas e ficava esperando por perto. Agora com o implante posso até ir ao quintal que já sei quando que meu leite fica pronto 😀
Essa de hackear o cérebro é legal, só adicionaria mais uma dica que é tentar meditação, já que depois dessa atividade parece que deixa o cérebro beeem mais flexível para aprender o necessário.
Vc consegue meditar? Sou péssima nisso hehehehe acabo mentalizando do que meditando. Ainda não descobri como simplesmente parar de pensar.
Mas, valeu a sugestão. Será que o povo do Gizmodo curtiria acrescentar? Hihihi
Beijos
Oi, Lak!
Mas que graça tudo isso. Gosto da forma como vc discorre sobre essa sua experiência de descobertas e novidades, como uma criança que está aprendendo a falar ou andar, ou ainda a dizer a “palavra mágica” quando quer algo, e com a diferença que, no seu caso, vc pode avaliar e aprimorar esse aprendizado.
Pessoalmente, não pretendo ser uma implantada, olha que já tenho 50 anos, e contraí a caxumba aos 5, daí minha surdez. Mas valorizo muito a garra de quem arrisca e fico feliz com as descobertas. A vida vai se modelando de tal forma que a gente vive ela a cada dia como se fosse a primeira vez! É um milagre singelo!
Como cada pessoa é única, também são únicos os anseios, os sonhos e esperanças com todos os seus riscos. Você está vivendo a sua opção, e isso é muito frutuoso e realizador. Ao mesmo tempo que é tão envolvente e maduro vc partilhar todas essas pequenas coisinhas “banais” do cotidiano, mas que é de uma preciosidade sem limites para sua vida pessoal. Vou deixar aqui o link do meu blog, pois percebi que, vez ou outra, há uns poucos relatos parecidos da vida cotidiana que são unicamente nossos: próprios dos oralizados. Um abraço
Márcia 🙂
http://www.mafrizo.blog.uol.com.br
🙂
Já fui lá retribuir o carinho e até te contei um segredinho aqui do DNO.
Sobre você não querer o Implante. Olha, não acho que existe um caminho único, cada pessoa sabe o que é melhor pra si. E se você está bem sem ele, então perfeito!
Quanto a mim, amo cada segundo dele pendurado na minha orelha, ouvir cada barulho mais chato e ínfimo que se abre ao meu redor vale demais a pena.
Mas, como já disse, falo por mim apenas.
Beijinhos
Interessante,bom não tem mto a ver com o tema em si mas, finalmente encontrei em minha cidade uma médica especialista em Zumbidos, que “fritam o cérebro”.Ela falou , mta coisa, estou com mudança, de remédios e um acompanhamento.
Durante tda a consulta a frase dela era, “quem ouve não é seu ouvido e sim seu cérebro, o ouvido não ouve”! Nunca tinha pensando nisso.E la vamos nós, travar essa batalha, contra meu cérebro.hihihi.Ele vai ter ,que ter a percepção que não quero “ouvir” zumbidos.kk
Ah!Passei num concurso ai 4o lugar, pena que era só 1 vaga, mas que venha os próximoss!! Bjuss 😛
Não desista, Greize!
Beijos
Interessante! Gostei da sugestão de sair da zona de conforto e encarar coisas que assustam! Eu tô fazendo um curso [design de interiores] que eu achava que me daria muito bem [na verdade, to me dando bem, mas não to me identificando], por ser prático, mesmo ignorando que a minha paixão é literatura e que deveria fazer letras, por medo de não conseguir acompanhar as aulas… Ou seja, não tentei letras no vestibular por puro medo… Depois de ler vários artigos de linguística, filologia, etc, como um passatempo, ano passado deixei de birra com isso e decidi tentar vestibular esse ano pra letras. Confesso que o que me influenciou nessa decisão foi o IC… 🙂
Também a ideia de anotar o que você sente é muito boa! Valeu por nos compartilhar esse link, Lak. 🙂
Bjs
Conheço tão bem a sensação de liberdade que o IC nos dá… Essa sensação de que uma barreira ENORME será/é removida diante de nós. Dou a maior força pra vc fazer Letras sim!! Beijão