Um companheiro de fonoterapia
Escrito para crianças que utilizam tecnologias para ouvir, o livro “E Não É Que Eu Ouvi?” vai muito além de ser uma mera leitura de tarde de brincadeiras. É um livro que pode ser usado de diversas formas: criar identificação entre as crianças e a personagem, servir de ferramenta de inclusão em salas de aulas e também uma leitura para consultórios médicos e fonoaudiológicos.
Algumas fonos tem relatado usar o livro com os pequenos pacientes implantados. Por isso, pedi um relato para a Fga. Aline Pessoa Almeida, que foi minha fono quando era uma recém-implantada. A seguir o olhar dela – como profissional da área e leitora sensível – diante da história da Lalá:
“E não é que eu [também] ouvi?”
Sabe quando a gente entra na história, sente o que a autora compartilha e isso nos motiva ao trazer novos sentidos ao que vivemos? Ploft. Foi exatamente assim que senti quando conheci a Lalá. E então repensei e revivi minhas experiências como ouvinte e como fonoaudióloga. O que ouço? Como sinto o que ouço? Quais os significados de cada som no meu dia-a-dia? Quais sons me emocionam? Sons tem cheiro e brilho? Sim. Cheiro e Brilho. Porque só existem quando se relacionam com meus outros sentidos, impressões e experiências. Quais significados construí, percebi e aprimorei a partir dos sons que ouvi? Ops, vivi. A gente vive sons, já pensou nisso? E como mágica nossa audição está ali, atrelada a tudo.
Nesta experiência, como leitora, mais do que refletir sobre uma linda história, senti que é possível e delicioso, para todos nós, concebermos a nossa própria “poesia sonora da vida”. Lalá, de maneira sensível e poética, alcança e impacta a todos de nossa sociedade. E a fonoaudiologia, junto com toda a equipe envolvida, está ali, lá e acolá. Em tudo. Com ferramentas e estratégias para engatar nossas vivências em sentimentos sonoros. É transformar a audição em alicerce de descobertas, para caminhos entre o cérebro e coração, sabe como é? É assim, como nas páginas do livro da Lak Lobato, que traduzem experiências por meio de delicadas e sensíveis ilustrações.
E então reparei nas criativas imagens que sensibilizam à infinita tarefa de traduzir o mundo único e sonoro da personagem por meio dos traços. E não é que combinam com a expressividade sonora?!
Trata-se de um material que alcança a nossa sociedade inteirinha. Sobretudo ao público da clínica fonoaudiológica com deficiência auditiva. Lalá convida a embarcarmos em conceitos, emoções e experiências que permitem o trabalho com aspectos de letramento, leitura e escrita, no contexto de inclusão escolar em deliciosas relações entre fones, fonemas e grafemas! Não tenho dúvidas de que Lalá marcará diferentes experiências em sessões fonoaudiológicas, escolas e trabalho de equipe multidisciplinar da área!
Ora, em um flash de recordação, passei meus dedos pelo livro e sorri ao pensar naquele barulho de uma virada de página. Senti que aquele som já estava repleto de significado e emoção desde minha primeira infância, quando, ao terminar a história que eu escutava, a ausência daquela soada de páginas entre vozes amorosas marcava o tempo a dizer nas entrelinhas: hora de dormir.
Como terapeuta de pessoas com deficiência auditiva e formadora de futuros fonoaudiólogos, levarei a história da Lalá comigo. E sigo a refletir sobre as ilimitadas possibilidades da audição. Ah… a Audição…. Vivemos a construí-la, é fato. Mas para construí-la sabe do que precisamos? Vivê-la! Ué…. As sonoridades do mundo estão aqui dentro de nós, começam a tocar lá no fundo do coração a cada movimento de experiência. E você? Já ouviu o som de um pôr-do-sol? Finalizo, então, com o desejo de que uma orquestra toque em todos nós a cada pôr-do-sol de experiências!
– Profª Dra Aline Neves Pessoa Almeida
Fonoaudióloga. Professora adjunta na área de Audiologia Educacional
e Reabilitação Auditiva do Departamento de Fonoaudiologia
da Universidade Federal do Espírito Santo / UFES.
Ficou com vontade de ler a história da Lalá? Então compre o livro “E Não É Que Eu Ouvi?” aqui.
Beijinhos Sonoros,
Lak Lobato