Uma tarde em Itapuã, ao som do implante coclear
Doze dias se passaram desde a ativação do segundo implante e eu não dei mais notícias…
No começo, não notei muita diferença. Minha expectativa também não era muito grande. Ouvir com dois nem parece tão diferente de um só, quando um dos aparelhos está baixo.
Mas também, eu estava tão ocupada com coisas de trabalho que não dava tempo de curtir.
Domingo a tarde, resolvi ouvir uma música escolhida aleatoriamente. Uma dessas que eu tinha dificuldade de ouvir com um IC só. Não que eu pretenda fazer campanha de que dois ICs é melhor que um. Mas porque meu IC esquerdo só tem 18 eletrodos, a coclea estava fibrosa e parcialmente ossificada, o que deixou o feixe de eletrodos completamente torto. O direito, por sua vez, está perfeita e totalmente inserido, com 22 eletrodos inteirinhos dentro da coclea. Será que tinha diferença?
Toda a dúvida veio porque no sábado, depois de sair da festa surpresa do Jairo Marques (autor do blog Assim Como Você, da Folha de São Paulo) consegui entender algumas palavras que o Edu disse ao taxista, podendo compreender perfeitamente o contexto do que ele dizia, enquanto eu olhava pra baixo, sem qualquer visão dos lábios dele. Simplesmente entendi. Foi natural, o cérebro processou a informação auditiva e ponto.
Escolhi o vídeo no youtube e a música começou. Para a minha surpresa e meu deleite, sim, eu conseguia entender a letra cantada. Não era preciso procurar os lábios do intérprete e deixar a imaginação cuidar do resto. Simplesmente entendia. Não perfeitamente, não totalmente, ainda em contexto fechado. Mas sim, a música tinha letra e melodia. Era bem próxima do que eu me lembrava do que era ouvir música. Explodi de chorar. Não consegui conter as lágrimas de saudade. Escolhi uma música que cresci ouvindo. Bossa Nova, porque minha mãe adora Bossa Nova e ouvia sempre, fazendo com que a minha infância tivesse essa trilha sonora.
Procurei outras músicas – todas cuja letra sei praticamente de cabeça, porque ainda dependo de contexto fechado ou, no máximo, semi-aberto – e pude ouvir muito bem a grande maioria. Sempre tem um cantor ou outro que a voz ainda me escapa.
Chorei de lavar a alma. Lágrimas de alegria de reencontrar essas minhas “amigas de infância”, um pouco por saudade, um pouco por descrença. Uma parte de mim já tinha desistido de acreditar que isso seria possível.
Comentei no Facebook, um monte de gente veio me indicar música. Todo mundo conhece as melhores músicas do mundo. Mas não, ainda não me arrisco de trilhar caminhos desconhecidos, eu quero as músicas familiares, quero matar a saudade, quero reencontrá-las.
Ontem, repeti a dose e ouvi mais algumas músicas. Até algumas infantis que faziam sucesso em meados dos anos 80, quando o mundo ainda tinha efeitos sonoros naturais. Meu coração chorava, meu corpo vibrava ao som das notas e meu cérebro só pensava, entre uma música e outra “bem vindas de volta, velhas amigas”.
E pensei que elas sempre estiveram aqui, infelizmente, totalmente fora do meu alcance…
Agora, não mais!
Tenho 25 anos de músicas para resgatar. Só espero que haja pilha suficiente no mundo!
Beijinhos sonoros <- agora em stereo!
Lak
Feliz reencontro com as velhas amigas musicais e aos poucos novos sons virão se incorporar a sua festa! 22 eletrodos vibrando! 😀
ao tom de todas as notas musicais que forem capazes de alcançar… Amém hihihi
beijos
Nossa é engraçado isso de musica. Quando vc falou dessa veio na minha cabeça como se eu estivesse ouvindo tb, não gosto muito de bossa nova mas essa em particular tem uma melodia muito bonita, assim como vc e acho que a maioria das pessoas que perderam audição sentem mais falta de ouvir musica o que infelizmente com o meu aparelho o som fica muito metalizado ai não consigo ouvir mas não perco a esperança não…to batalhando pra isso…pelo que eu vejo essas musicas atuais vc não vai perder nada se não ouvir nem deve perder tempo…rsrs..muitas descobertas ainda por vir pra vc…bjs
Na verdade, nunca me permiti sentir falta de musica. Quando finalmente pude ouvir, é que a sensação que reprimi todos esses anos veio a tona de uma vez só…
Logo vc estará implantada e poderá ouvir de novo, tenho certeza disso.
Beijos
“dó um dia um lindo dia
ré reluz é ouro em pó
mi assim que eu chamo a mim
fa é facil decorar
sol o nosso amigo sol
la é bem longe daqui
si indica a condição
depois disso vem o dó
Dó ré mí fá sol lá sí do!”
Imaginando aqui que a sua alegria ouvindo as músicas seria como no filme da Noviça Rebelde, quando ela canta com as crianças, tendo como cenário os alpes suíços…
Muito lindo!
Muito bom!
🙂
hahahaha é, não deixa de ser mais ou menos assim, como se o mundo inteiro cantasse junto!! Beijos
Ah, como é lindo ler estas coisas… Ah, como vc me faz chorar, sua danadinha!!!!!!!!!!!!!!! Todas as músicas q vc tem direito nesta e nas próximas vidas!!!!!!!!!!
Lindo é ouvir essas coisas. Chorei bagarai ouvindo Romaria por sua indicação.
Beijos
Lak, simplesmente amo reencontrar músicas que, por alguma razão, acabaram por ficar perdidas na minha história. A poesia do seu texto é deliciosa e, ao passo que ia lendo, ia cantando e imaginando suas emoções… Ouça um bocado, amiga querida… ouça sem parar…. E Bossa Nova, sem dúvida, é uma maneira sensacional de fazer esse resgate!!! beijoss
Mas vc viu pq te pedi pra ler, né? Porque foi saindo da sua festa que eu tive a primeira luz de compreensão sonora. Não pode ter sido por acaso, a vida não faria uma coincidência dessas…
Pode deixar que ouvirei tudo que tenho direito. haha
Beijos
Oi! Fiquei imaginando vc com aquela roupa azul e dançando agora ao som da música, não somente à sensação vibratória!!! Estou feliz por vc! bjs
😮
Nossa, que memória. É, eu precisava do IC desde essa época hehehe Beijos
OI, me arrepiei lendo seu relato.Eu sou a implantada binaural, e a primeira vez que coloquei música para tentar ouvir, chorei tb. De saudade,é uma música bem antiga, mas que eu gosto muito:Right here waiting for you do Richard Marx. Depois dessa coloquei mais um monte, mas ouço mais os sons mesmo, a voz é bem baixa. MPB eu coloco as vezes, mas é complicado ainda. Passei muito tempo usando leitura labial que estou com a audição enferrujada. Haahaha. Adoro seu jeito de escrever!Beijos
Vc chega lá, Neuza. Roma não foi construída em um dia hehehe
Tenho certeza que vc conseguirá ouvir MPB logo mais… 🙂
Aguardando a sua entrevista, viu?
Beijos
Lindo texto! Linda Música! Linda emoção!!
Um milhão de vivas para o IC (ou seriam 2 milhões – um prá cada?)!!!!!!!
Bjssss
😳
Lak,
A cada nova descoberta sua sendo bi-lateral nos enche de alegria!!! Vc está mais do que certa, tem que chorar, gritar, vc tem todo esse direito!!! Parabens!!! E se prepare pois quando voltar lá em casa vai dançar muito com sua irmanzinha bi-bionica…rs… ela adora ouvir as músucas e dançar!
bjs
Certeza. Eu e a Jojô temos muita musica pra ouvir juntas 🙂
Beijos
Pois é, Lak, meu marido recebeu férias e vamos viajar dia 18 agora, para Morretes, a terra dele.Os pais moram lá e faz quase 2 anos que não os vemos. Lá, eu ficarei off, só qdo eu for na lan.Eu queria ir no encontrão em Jundiaí,não vai dar… Eu volto dia 09 de dezembro , e te mando e-mail pode ser? Beijos.
Da arrepio só de ler.Se todos que ouvem lerem isso dariam mais valor.Eu qdo perdi não escutei música, me bloquei também.Depois fui para o youtube e fui ouvindo músicas antigas.Da um “tum.. tum” no coração.E qdo alguém me chama por trás e eu ouço fico toda alegre, a pessoa nem entende que isso para mim, para nós é uma coisa maravilhosa.
Bjos
P.S.As músicas antigas estão bem melhor que as de hoje.hehehe 😛