Aumento de diagnósticos seria algo bom ou ruim?

Nos últimos anos, há uma onda de opiniões que criticam o aumento no número de diagnósticos de condições e deficiências, sugerindo que isso pode ser um sinal de exagero, com a intenção de rotular pessoas e comportamentos.

Essa corrente de pensamento, entretanto, desconsidera a importância de um diagnóstico preciso e ignora os benefícios que um diagnóstico adequado acarreta para a qualidade de vida da pessoa e o quanto um tratamento de condições/deficiências específicas impacta não apenas de forma individual, mas também coletiva.

Há algumas razões que podem ser elencadas para o aumento do diagnóstico. Uma é o fato de pesquisas médicas terem evoluído muito ao longo dos últimos 50 anos, quanto mais se sabe sobre saúde, mais conhecimento se tem sobre as diferenças do que foi estabelecido como padrão e mais preciso se tornam os diagnósticos das condições que fogem a esse padrão, por motivos além de simples diversidade. Além disso, a população mundial dobrou ao longo dessas mesmas cinco décadas. Logo, quanto mais pessoas, mais diversas serão estas pessoas e o número absoluto de pessoas diagnosticadas, consequentemente, é maior.

Apesar desse aumento de diagnósticos, em contrapartida, ainda existem muitas condições de saúde que são subdiagnosticadas. Isso significa que muitas pessoas que poderiam se beneficiar de tratamento e apoio não recebem um diagnóstico, portanto, não recebem o cuidado adequado.

O aumento no número de diagnósticos pode ajudar a quebrar estigmas e preconceitos associados a condições de saúde. Por exemplo, o Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) era subdiagnosticado até poucos anos atrás, mas agora estamos vendo um aumento significativo no número de diagnósticos. Esse aumento ajuda a fortalecer considerável e consistentemente a conscientização sobre o TDAH e a desmistificar muitas ideias errôneas sobre pessoas nesta condição, graças a um crescente número de pessoas engajadas na divulgação e educação social sobre o tema. Este é um passo importante numa sociedade que parece ter fobia de diagnósticos psiquiátricos, que faz com que muitas pessoas com TDAH e outras condições sequer cogitem pedir ajuda.

No caso de deficiências físicas e sensoriais, um diagnóstico precoce é crucial para que as pessoas possam obter o tratamento e o apoio necessários para alcançar seu potencial máximo. Um exemplo disso é o diagnóstico precoce da surdez, que permite que as pessoas com deficiência auditiva possam ter acesso à Libras na mais tenra idade e receber aparelhos e implantes auditivos que podem ajudá-las no desenvolvimento da linguagem e da comunicação oral, conforme a escolha da família e possibilidades de cada criança.

Além disso, o tratamento adequado da surdez pode melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas surdas de todas as idades, não apenas daquelas que nasceram surdas. A tecnologia de aparelhos e implantes auditivos tem avançado muito nos últimos anos, permitindo que as pessoas com surdez adquirida, seja progressiva ou subitamente, continuem podendo escutar através da tecnologia, mantendo a interação e a forma de comunicação que sempre tiveram com as outras pessoas.

No meu caso, por exemplo, foram 22 anos sem ouvir após perder a audição aos 9 anos. Por receber um diagnóstico equivocado, boa parte desse período minha surdez foi tratada de forma padrão, não especializada, que não considerava a tecnologia que me permitiu voltar a ouvir aos 32 anos. O impacto do tempo em que fiquei ouvir trouxe não apenas sequelas permanentes na minha voz, como dificultou experiências educacionais, já que, na época, ainda não se falava em inclusão nem havia políticas públicas nesse sentido.

Também é importante lembrar que cada pessoa é única e pode experimentar condições de maneiras diferentes. Ter um diagnóstico preciso pode permitir que as pessoas obtenham o tratamento e o suporte necessários para gerenciar seus sintomas e viver uma vida plena e realizada. E isso é algo que beneficia não apenas as pessoas afetadas, mas também suas famílias, amigos, colegas e a sociedade em sua totalidade.

O aumento no número de diagnósticos de doenças e deficiências, não é necessariamente algo ruim. Na verdade, quanto mais pessoas forem diagnosticadas de maneira correta, melhor poderemos entender a diversidade e a individualidade das condições de saúde e oferecer tratamentos, acessibilidade e inclusão que atendam às necessidades dessas pessoas. E quanto mais pessoas falarem sobre diversidade, quanto mais pessoas se reconhecerem como pertencentes a grupos diversos, mais a sociedade vai entender a importância de reconhecer as diferenças e criar uma sociedade cada vez mais inclusiva.

Beijinhos sonoros

Lak Lobato

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