Maternidade Sonora por Mariana Candal

Há mais de 6 anos, eu fazia a minha estreia no DNO, compartilhando a até então pequena mas intensa história da Joana, do nascimento até o primeiro aniversário de IC. O bem que me fez compartilhar minhas experiências, pensamentos e conclusões foi tamanho que peguei gosto pela coisa e também criei uma página para dividir o conhecimento e as experiências com a surdez. E nesses últimos 6 anos, dividir as nossas conquistas e angústias, emoções e indignações, me trouxe a certeza de que esse é o caminho: tanto pelas pessoas que podemos ajudar, como pela forma que somos ajudados! Então, é com muita alegria que escrevo este primeiro texto da coluna “Maternidade Sonora” a convite da Lak Lobato, e espero que a parceria seja longa, porque assunto é o que não falta quando a surdez também envolve a maternidade.

Lak, obrigada pela oportunidade e pela confiança depositada em mim. Só desejo que juntas consigamos levar força e esperança à todas as mães, pais e familiares com seriedade, mas também humor, confiança, alegria e muita emoção! Vamos fazer a experiência da surdez na maternidade ser mais leve, mais feliz, e muito mais sonora!  

Beijinhos sonoros
Lak Lobato & Mariana Candal

Introdução por Lak Lobato

Um Por Todos e Todos por um

Nas últimas duas semanas, tenho sido bombardeada por discussões políticas sobre Surdez, assunto de uma amplitude enorme e que para Surdos  Oralizados e usuários de tecnologia auditiva tem o desafio de nos tirar da invisibilidade. E tirar da invisibilidade não trata apenas do fortalecimento da autoestima, é a partir daí que ganhamos força para garantir aos nossos filhos diversos direitos que vão desde a devida assistência médica e fonoaudiológica, incluindo a manutenção dos Implantes Cocleares e outras próteses auditivas, até o direito à educação inclusiva e adaptada quando necessário, e consequentemente, direito ao respeito à formação educacional e dignidade no mercado de trabalho. E para lutarmos juntos por tudo isso, que tenho certeza que em diferentes graus acaba sendo importante para todas as famílias de crianças surdas, implantadas ou não, faço um convite para termos atenção e refletirmos não apenas sobre as questões que nos atingem, mas de uma forma mais ampla.

Para os familiares que participam dos grupos recomendo que leiam com atenção todos os posts, mesmo os que não estão diretamente ligados com as questões dos seus próprios filhos no seu momento de vida. Quando Joana era menor (hoje já se diz uma pré-adolescente do alto dos seus 8 anos) eu lia TUUUUDO, de posts sobre cirurgia a aflições de pais com seus filhos surdos e adolescentes, quando ela tinha 1 ano eu já lia sobre alfabetização, hoje já estou aqui pensando em como melhorar o mundo e as pessoas para receberem ela no mercado de trabalho. Eu imagino que muitos devem estar pensando que eu sou uma louca ansiosa. Que nada! Juro que sou só um pouquinho. Mas falando sério, essa estratégia me ajuda a dominar a ansiedade e quando esses momentos chegam eu me sinto muito forte e preparada para lidar com eles. Isso me fez sofrer menos com a alfabetização, por exemplo, e olha que passamos por esse processo duas vezes, primeiro em inglês (porque estávamos morando fora) e depois em português, no modo intensivão quando retornamos ao Brasil.

Então, que essa nova coluna ajude a fortalecer a nossa rede de pais de crianças surdas e oralizadas, somando nossas experiências, respeitando toda a nossa diversidade e mudando realmente o mundo! Que nossas crianças se beneficiem da nossa força, da nossa capacidade de troca de informações e empatia. Porque só o que a gente quer é uma vida plena de oportunidades e recheada de poesia sonora.

Mariana Candal