Por que tanto ódio contra as pessoas com deficiência auditiva?

Participo de diversos grupos de pessoas com deficiência auditiva que não se comunicam através da Libras. São surdos oralizados, que ouvem por tecnologias diversas, que falam por voz. Gente com sotaque diferente, mas com voz compreensível. Gente sem sotaque nenhum. Gente que ouve quase tão bem quanto qualquer ouvinte. Gente que ouve mas só entende tudo por leitura labial. Somos diversos, múltiplos e plurais.

Mas se temos algo em comum, nesse mar de variedade de perfis, é o constante lidar com a má vontade, agressividade e total falta de empatia das pessoas que nos rodeiam.

Se não entendemos alguma coisa, somos hostilizados. Nossa incompreensão imediata é tida como burrice, desatenção ou preguiça.
Se pedimos para repetir, somos mal atendidos. Recebemos respostas por entre os dentes, com cara de deboche, com toda a má vontade do mundo, acompanhada de um “presta atenção, eu não tenho que ficar repetindo toda hora”. Isso, quando a resposta não é um “deixa pra lá”, que nos mantém no limbo da incompreensão do diálogo.

Não que as outras deficiências sejam acompanhadas de respeito ou compreensão pelas necessidades sempre. O desrespeito é generalizado. A pessoa com qualquer deficiência tem queixas do tratamento cruel que a sociedade nos dá.

Mas, ao contrario da maioria, a deficiência auditiva oralizada, vivida através da leitura labial ou de aparelhos/implantes auditivos não é tratada como deficiência, mas como uma personalidade preguiçosa, como pouca inteligência, como desinteresse para prestar atenção. Para a sociedade, se você não ouve perfeitamente igual a um ouvinte, é por negligência sua, porque você não se esforça tanto, porque você quer chamar atenção.

Quantas vezes, ao receber uma ligação, um ouvinte não pediu para o interlocutor repetir porque a qualidade do áudio não está boa? Essa é a nossa realidade diária. Nem sempre o áudio de quem ouve por uma tecnologia está perfeito. Muitas vezes, as próteses não contemplam 100% das nossas necessidades. Muitas vezes, os ruídos ambientes nos atrapalham. Muitas vezes, a qualidade da dicção, articulação, tímbre de voz, volume de fala não é adequada para uma conversa fluir tranquilamente sem dificuldade.

A sociedade precisa aprender a ter civilidade na convivência diária. E reconhecer as limitações das outras pessoas não como falhas, mas como características. Mas, no caso da deficiência auditiva, essa condição precisa passar a ser vista como algo real, que impede que a comunicação flua exatamente igual flui com outra pessoa com audição normal. Que ela é uma condição sensorial e não indiferença/descaso. Que mesmo com recursos, dificuldades de compreensão podem acontecer por fatores externos e não por pouca inteligência do interlocutor. A deficiência auditiva é real, mesmo que não seja visível.

E esse destrato corriqueiro, além de não ajudar em nada na comunicação eficaz do dia-a-dia, ainda atrapalha para que pessoas que estão perdendo a audição busquem ajuda. Porque as pessoas tem medo de ser tratada com ainda mais preconceito, se admitirem que tem uma limitação.

Triste essa realidade social em que vivemos, numa sociedade onde o respeito é artigo de luxo e tido como algo desnecessário!

Beijinhos sonoros

Lak Lobato

14 Resultados

  1. Fernando Bentes disse:

    Muito boa analise. Essa e uma questao de educacao, de respeito pelo próximo e de cultura.
    Infelizmente nosso pais carece dessa formação.
    E um pais de pessoas incultas e mal formadaa, nao por culpa delas mas da falta de educacao formal, da falta de planejamento de longo prazo, de escola formal.
    E preciso definir politicas de estado, mais que de governo.
    Temos visto somente uma politica de governo, com partidos e pessoas mais interessadas em si, do que no pais.

    • Avatar photo Lak Lobato disse:

      Pior, Fernando, é que muitas vezes esse tratamento vem de familiares, de cônjuges, de filhos, de amigos próximos. Gente que sabe da deficiência auditiva, mas acha que é frescura, que é preguiça, que é falta de esforço. E dói, dói muito receber esse tipo de tratamento de quem deveria nos acolher.

  2. Cláudio Filipe de Almeida Cavaco disse:

    Toda a minha simpatia para com estas pessoas. Eu próprio tenho uma deficiência. Coragem. É preciso lutar contra o preconceito.

  3. Antonio Carlos Kersting Roque disse:

    Perdi um relacionamento por conta da incompreensão.
    Errado, ganhei ao terminar.

  4. Odemilson disse:

    Bom dia, fiquei com surdez súbita e profunda já faz 7 meses coloquei aparelho auditivo estou sentindo na pele como as pessoas tem maldade e preconceito com deficiência, e o pior de tudo que sou recpicionista de hotel tenho lidado com muitas dificuldade gostaria de alguma ajuda sua um esclarecimento
    Obrigado

    • Avatar photo Lak Lobato disse:

      Odemilson, você já conversou com sua gerência sobre a possibilidade de mudar de cargo para outra função que não te obrigue a interagir com o público? Trabalhar com atendimento tendo deficiência auditiva em fase de adaptação é bem complicado. Requer muito jogo de cintura e estar bem resolvido emocionalmente com a situação, além de, claro, adaptação às próteses auditivas. Abraços

  5. Manassés disse:

    Correto. Faltou dizer que atrelado a esse destrato vem sempre o bullying, o desprezo e a falta de respeito. É raro alguma pessoa dar crédito a um deficiente auditivo. rGeralmente somos tachados quase como uma pessoa demente, um pobre coitado.

  6. FONTANA disse:

    “PACIENCIA” A REAL PACIENCIA, É UM VIRTUDE PARA POUCOS!!!

    ISSO DIZ TUDO!!

  7. Denise disse:

    Ótimo texto, minha amiga Lak Lobato!!!❤❤❤👏👏👏👏👏

  8. Cláudia Rodrigues Vieira disse:

    É verdade, portanto sugiro dizerem que têm um diagnóstico de perda auditiva, antes de solicitarem a repetição ou explicação do assunto em questão, se possível.Tenho uma sobrinha inteligente, administradora de empresas, pró ativa, gestora e implantada coclear!Quero sempre o bem dela e de todo o grupo de diversos perfis, com a graça de Deus!

    • Avatar photo Lak Lobato disse:

      As vezes ajuda, mas nem sempre. Muitas vezes, essa grosseria vem da família, sabia? Gente que convive conosco, sabe da surdez e fica de descaso mesmo assim.

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