Surdez na terceira idade e uso de tecnologias auditivas

Recentemente, foi noticiado que o ex-presidente Lula estaria usando aparelhos auditivos. Afinal, Lula tem 74 anos de idade e a perda auditiva pela idade tem se tornado cada vez mais comumente detectada.
Não que a perda por idade não fosse comum no passado, mas hoje a prevenção, os exames de rotina e uma gama infinita de tecnologias disponíveis permite a detecção e a reabilitação de idosos com deficiência auditiva.

O interessante da notícia da perda auditiva do Lula foram as reações. Amado por uns e odiado por outros, houve quem se compadecesse (como se ter perda auditiva fosse algo digno de piedade sempre e não como algo a ser tratado, fim), quem fizesse piada sem noção e, principalmente, quem achasse que é um bom castigo (deficiência = castigo, manja?).

À revelia da opinião pública ou individual sobre o ex-presidente, a notícia traz um viés interessante: herói ou vilão, qualquer um pode ter perda auditiva com a idade.

E nessas horas, leva-se a questão para o lado do tratamento: usar aparelhos auditivos ainda é motivo de vergonha ou já podemos abordar esse assunto com naturalidade?

Em conversas com diversos profissionais de fonoaudiologia, sempre escuto que o público idoso é um dos mais difíceis de se adaptar a tecnologias auditivas. Eles mesmos têm preconceito com aparelhos, já que por muito tempo, qualquer tipo de prótese que pudesse melhorar a qualidade de vida de alguém, era vista como um sinal de fraqueza, pois tornava público a deficiência que deveria ser escondida. Ou você era perfeito, ou você era um pária da sociedade. Logo, é totalmente compreensível a vergonha e resistência de usar aparelho.

Porém, também acho que falta um pouco de metodologia específica voltada para essa população. Existem poucos profissionais de psicologia que não tenham uma visão extremamente capacitista (até porque o capacitismo é algo extremamente enraizado e naturalizado na nossa sociedade) em relação a deficiências. E muitas vezes, o apoio emocional resume-se a cobrar uma adaptação ao aparelho auditivo, que nem sempre é rápida.

Foi exatamente pensando nesse perfil de pessoas, que veio a ideia de escrever o livro Escute como um surdo, que será lançado no próximo dia 8 de Fevereiro de 2020, na Livraria Casa de Livros, em São Paulo Capital.

É um livro com dicas de usuária para usuários, com sugestões de atitudes, de autoconhecimento, de atividades lúdicas, que podem trabalhar a questão emocional de alguém que está começando a jornada de usar uma tecnologia auditiva. O livro foi escrito com aprovação da Fonoaudióloga Valéria Goffi, que inclusive escreveu o prefácio do livro. Este livro não entra no campo da fonoaudiologia nem substitui o trabalho destes profissionais ou dos psicólogos. Apenas complementa essas terapias incentivando o paciente a fazer a parte dele.

Mais do que esperar que magicamente uma geração de pessoas simplesmente comece a achar ótimo usar aparelhos auditivos, temos que pensar em oferecer suporte e ferramentas para que essa adaptação seja possível!

E você, tem algum idoso próximo precisando de aparelho auditivo e tendo dificuldades de se adaptar? Conta pra gente…

Beijinhos sonoros,
Lak Lobato

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